Cinzas

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Conseguia-se ouvir os choros, conseguia-se ver o quanto pareciam tristes

A manhã parecia cinzenta para eles, as crianças não corriam era como se elas não existissem

O clima era tenso, havia muitas pessoas, a casa estava cheia

Eu acendi um cigarro e fiquei observando pela minha janela

A tristeza estava manchada nos olhares dos familiares

Acho que ainda era difícil para eles acreditarem, havia uma senhora que era carregada ao colo

Uma jovem que olhava fixamente para uma fotografia, talvez fosse a do morto, pensei.

Pessoas caladas, nunca havia ouvido tal silêncio em toda minha vida como aquele dia

O bairro estava morto, não se ouvia nada além de lamentos e choros

Mas de onde havia saído aquela toda gente? Me questionei enquanto sacudia a cinza do cigarro

Não era como se eu conhecesse o morto, na verdade nunca havíamos trocado sequer um aperto de mão

Em dois anos, eu apenas o vi 3 vezes, talvez fosse um cara legal, talvez nos teríamos dado bem ou não

Será que quando chegar a minha vez, também haverá muitas pessoas?

O que iriam falar sobre mim? Será que o bairro também ficaria silencioso?

Foram perguntas que me vieram a cabeça enquanto levavam o corpo para ser enterrado

Provavelmente seria esquecido em um mês, pensei, depois nunca mais seria lembrado

Provavelmente apenas duas ou três pessoas iriam aparecer, palavras iriam ser trocadas, e rapidamente seria enterrado

Mas a vida é assim, nada dura para sempre

O inverno acaba, as folhas secam, as relações terminam

Guerras começam, pessoas são despedidas, bebés nascem, empresas são criadas

Bandidos são presos, textos são lançados, empresas caem na falência

Um ciclo vicioso sem fim, o mundo quase que chega a ser padronizado

E quem sabe? Talvez daqui a duas semanas seja eu a ser enterrado.

As Minhas Notas( A Vida De Daniel Richard)Onde histórias criam vida. Descubra agora