Rosa

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Não, nunca fui o valentão ou o garoto popular da escola

Eu era o rapaz de óculos, com livros e sem amigos

O rapaz com quem ninguém chamava para jogar a bola

O que ficava em casa em todos os feriados gravando todos os seriados

Eu não tinha o carro caro ou ténis que eu sempre via na TV

Eu não recebia convites para conversar ou ir beber

Eu sentava no fundo da sala, tudo que eu tinha eram os livros

E havia o Toby, por algum motivo falava comigo, íamos para a casa juntos

Ele sempre tinha algo para falar, para contar

Vivia contando sobre suas viagens, dizia que eu tinha que falar mais

Que eu tinha um mundo a minha frente e tudo o que eu tinha que fazer era saltar

Era uma analogia estranha, o mundo não era uma piscina, e mesmo que fosse eu não sabia nadar

Por algum motivo ele gostava de estar comigo, ainda assim não éramos amigos

O Toby sentava duas filas a minha esquerda, a minha frente sentava a Rosa

E a direita sentava o John, antigamente o rapaz mais popular da escola

Eu carregava sempre comigo um fio no pescoço

A Rosa tinha-me oferecido quando éramos mais novos

Os pais dela se haviam divorciado e ela foi viver com a mãe, ela nem se lembrava de mim

Eu sempre carreguei aquele fio, como uma memória viva, uma promessa estúpida e sem fim

Tentei falar com ela no primeiro dia, ela disse que não sabia quem eu era

Que a confundi com outra pessoa, talvez tenha mesmo confundido, a minha Rosa era pequena

Não tinha espinhos e talvez tivesse ficado no passado ou transformada em uma ilusão

Rosa, provavelmente minha primeira paixão e provavelmente também a minha primeira decepção.



As Minhas Notas( A Vida De Daniel Richard)Onde histórias criam vida. Descubra agora