As Minhas Notas( A Vida De Daniel Richard)

Sofy

Não sei se foram a compra dos óculos, ou a paixão pelos livros

Lembro que nessa época eu estava em Angola, acho que era a época de cacimbo

Tentando ir para casa, já passava da meia-noite, quase que nem me aguentava em pé

Baixei um dos vidros do carro para fumar, uma noite que passei sem beber

Veio-me a cabeça a imagem da Sofia, achei meio engraçado

Naquela noite o trânsito estava congestionado, o taxista decidiu pegar um atalho

Engraçado porque esse atalho passava pelo edifício onde Sofia vivia

Era o destino pregando-me uma partida, coisa que em minha vida não era raro

Tiro o cigarro da boca e o atiro pela janela, lembrei-me que ela não gostava que eu fumasse

Existia um monte de coisa que ela não gostava, não consigo lembrar de todas

Talvez ela nunca soube, não havia nada nela que eu não reparasse

Havia duas coisas que ela amava, chocolates e livros de romance

Talvez fosse mesmo pela paixão pelos livros que a gente se conheceu

Sempre a tratei por Sofy, nunca Sofia e ela chamava-me de Dan, nunca Richard ou Daniel

Ria de piadas simples, irritava-se fácil, não era a típica mulher durona

Quebrava facilmente e irritava-se quando não fosse escolhida para o quadro de honra

Não havia sobrado espaço para homens em sua vida, ou ela não quisesse

Gostava de dizer que só tinha dois amigos, o resto para ela eram futuros desconhecidos

Não Lembro de alguma vez ela ter-me chamado de amigo, eu era fácil, bastava o seu sorriso

Ela negava mas apenas buscava alguém que melhor a compreendesse

Tinha o péssimo hábito de trocar-me por livros

Ainda tinha os livros guardados em minha casa que ela me havia sugerido

Que tipo de relação era a nossa? Nem eu sabia, mas a gente sempre partilhou da honestidade

E ainda assim, não era o suficiente, podia afastar-me durante meses, ela não sentiria saudades

Sorrio um pouco, na época não parecia tão engraçado assim, ela era uma mulher independente

"Sofia, a rapariga que não sentia saudades minhas"

Não lembro de muita coisa dela, afinal nunca fomos tão próximos

Muita coisa deve ter mudado desde a última vez que a tivera visto

Baixo o vidro do carro, puxo outro cigarro do bolso, tiro o isqueiro e o acendo

Eu acho que podia esquecer tudo, mas talvez nunca fosse esquecer a forma como ela sorria

Sofia, digo em voz alta o nome dela e pergunto-me: será que ela hoje sente saudades minhas?