Cinquenta, noventa, cem, eu não pensava em nada
Naquele momento o coração batia mais forte, o sangue circulava mais rápido e eu acelerava
Cento e vinte, eu apenas acelerava, sem pensar no destino
Me sentia preso, sufocado, eu precisava gritar, precisava de um lugar para pensar
As estradas estão vazias, eu não estava para bares, garrafas, filmes ou amores de uma noite
Acelerei ainda mais, algo me incomodava mais do que nos outros dias
Eu não sabia o quê, ou o porquê, mais algo me conduzia
Uma forte energia, difícil de explicar, nem eu entendia, precisava acalmar-me
E percebi que me encontrava longe daquela sinfonia desorganizada que a cidade era
Olhando para frente, vi o mar e uma rapariga deitada no chão, travei o carro de repente, saí correndo, e quando cheguei ela olhava pró céu sorrindo
Era de noite, mais eu pude ver, ela tinha olhos castanhos, um livro de lado, um vestido que passava o joelho e um casaco
Ela olhava fixamente pró céu e antes mesmo que eu dissesse algo, ela olhou para mim e disse como uma frase saída de um filme: o céu hoje parece calmo não achas?
Eu sorri pensando (será que ela bateu com a cabeça?) mas ela me parecia bem
Eu olhei para ela e disse sim, o céu hoje está calmo (me perguntava como ela havia chegado aqui)
Ela levantou e continuou a sorrir
Aparentava ter uns vinte e pouco ou menos que isso, talvez mais jovem que eu, parecia gostar de exibir o sorriso dela
Assim como o céu exibia o brilho das estrelas
Perguntei se ela precisava de ajuda, se havia alguém que eu pudesse ligar
Ela olhou-me nos olhos e perguntou: quantas vezes? E eu não percebi
Perguntou-me de novo: quantas vezes? Quantas vezes tens que fingir?
Eu fiquei sem palavras, não sabia de onde aquilo havia saído
Deixa a calmaria do céu levar o que te incomoda, ela diz enquanto passava sua mão em meu rosto
Falou isso ainda sorrindo, não sabia o que dizer, eu estava mais calmo, parecia uma outra pessoa
Foi aí que percebi que com ela eu podia esquecer tudo, falar sem mentir, ocultar ou fingir
Ela encostou o livro e conversamos sobre as constelações
E em cinco minutos variou de temas
Falou comigo como se fossemos amigos de longa data, ela estava realmente a ser honesta
Levantou, pegou o livro, os seus saltos, e disse que ia embora, eu continuava a não acreditar, eu não a queria ver partir
E mesmo antes de ela desaparecer no escuro perguntei-lhe, o que eu podia fazer se eu a quisesse ver
Ela indo embora, sorriu e disse: quem sabe! deu-me o seu livro e uma caneta
Então eu perguntei o seu nome, ela sorriu e disse Quezia
Andando sem olhar atrás ela repetiu, Quezia, Quezia Vigénia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Minhas Notas( A Vida De Daniel Richard)
RandomDaniel Richard, um homem solitário com um passado que não consegue deixar, cheio de feridas e questões por resolver, foi anotando todas as suas memórias em um bloco de notas com a esperança de que um dia quando já não poder lembrar de nada e quis...