Dois

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Acordo com a luz do sol pela janela. Me levanto, visto meu roupão e desço.

Entro na cozinha e não encontro a Franky, vou para a sala e nada. De repente escuto alguma coisa sendo jogada na parede, vindo do quarto da Ana.

Subo correndo e quando entro encontro a Ana sentada no chão em posição fetal chorando. O quarto está completamente destruído, as cortinas foram arrancadas, os edredons da cama foram tirados, vários vasos foram quebrados, os criados mudos foram arremessados cada um para um lado do quarto e a estante de livros está jogada no chão.

- Mãe - Corro até ela - O que aconteceu?

Ela olha para mim e continua a chorar

- Sai daqui

- Não! O que aconteceu? Por que você está assim?

- Por favor, sai daqui.

- O que eu te fiz? - As lágrimas molham meu rosto - Por que você me odeia?

Ela se levanta, mas não para de chorar.

- Eu não te odeio, só... - Ela abaixa o olhar

- Só o que? Só não consegue olhar na minha cara? É isso?

- É! EU NÃO CONSIGO OLHAR PARA VOCÊ MALU!

- POR QUÊ? O QUE EU FIZ PARA VOCÊ?

- VOCÊ ME LEMBRA ELE! TODA VEZ QUE EU OLHO PARA VOCÊ EU ME LEMBRO DELE! LEMBRO QUE PERDI O AMOR DA MINHA VIDA E ISSO ME MACHUCA! TODA VEZ QUE EU OLHO PARA VOCÊ MEU CORAÇÃO DÓI! EU ME MACHUCO MAIS

- EU NÃO TENHO CULPA! - Coloco a mão no rosto - EU NÃO QUERIA QUE VOCÊ TIVESSE PERDIDO O AMOR DA SUA VIDA! EU QUERIA QUE ELE ESTIVESSE AO MEU LADO, MAS ELE NÃO ESTÁ E EU NÃO TE CULPO POR ISSO, POR QUE VOCÊ ME CULPA POR ISSO?

- Eu nunca te culpei por isso - Viro as costas e saio do quarto

Corro para o meu quarto e me tranco nele

{...}

- Malu querida, você precisa sair do quarto, você passou o dia todo trancada aí - A Franky bate na minha porta pela vigésima vez - Querida você precisa comer.

- Estou sem fome - Minto. Eu estou morrendo de fome

- Querida, por favor, abre a porta.

- Não Franky

- Malu me perdoe por isso - Escuto ela abrindo a porta. Me esqueci da chave mestra - Aqui querida

Ela coloca um prato de lasanha enorme na minha frente

- Obrigada Franky

Ela se senta na minha frente e me olha carinhosamente

- Ela não quis fazer o que fez

- Mas fez Franky, cada palavra que ela disse a mim me machucou de uma forma inexplicável

- Malu querida, entenda a sua mãe está sofrendo muito, há muito tempo, ela não sabe o que fazer, ela está sozinha.

- Ela não está sozinha! Eu estou aqui!

- Querida, como ela mesma disse, você lembra ele, você lembra o amor deles e isso a machuca, por que eles não estão mais juntos.
- Eu não queria isso Franky, eu nunca quis isso.

- Eu sei minha querida, mas logo, logo isso tudo acaba.

- Será mesmo?

- Claro que acaba meu bem, de uma boa forma ou de uma péssima forma, mas acaba.

{...}

- Oi Malu - A tia Carol entra no quarto - Quer conversar um pouco?

Fico calada para ela não me bater outra vez. A tia Carol nunca gostou de mim, sempre me bateu muito.

- Eu quero que você saiba que eu não tenho nada contra você, eu apenas odeio a sua mãe e isso meio que faz eu odiar você, então eu tenho uma coisa contra você

- A minha mamãe fez mal a você?

- Muito mal, ela roubou o homem que eu amava.

- O tio Guh?

- Ele mesmo

- Mas ele gosta da minha mamãe

- Mas ele deveria gostar de mim! Ele deveria me amar! - Ela abaixa a cabeça e começa a chorar - Mas ele não ama, não ama por causa da sua mãe, ele sempre amou ela!

Ela levanta a cabeça e me olha com os olhos cheios de raiva

- Eu vou matar a sua mãe!

- Não, por favor.

Acordo suada e assustada. Tive outro dos meus pesadelos, há anos que eu tenho esses pesadelos estranhos, parecem lembranças, mas eu não consigo me lembrar de nada do que aconteceu, quer dizer se aconteceu realmente alguma coisa.

Levanto e desço para a cozinha. Pego um copo de suco de laranja e vou para a sala, quando chego a ela, encontro a Ana dormindo no sofá com várias fotos ao seu redor e com o rosto manchado pelas lágrimas. Olho para a televisão que está ligada e vejo-a deitada em uma cama sorrindo

- Diz que me ama - Pede a pessoa que está gravando

- Eu te amo - Diz ela sorrindo

- Diz outra vez - É uma voz de homem

- Eu te amo, muito.

- Diz que eu sou o homem da sua vida

- Você é o homem da minha vida

Ela se senta na cama e a pessoa se senta de frente para ela sem aparecer uma vez sequer

- O que você faria por mim? - Pergunta ela sem olhar para a câmera, olhando diretamente para a pessoa.

- Qualquer coisa

- Qualquer coisa?

- Qualquer coisa!

- Por quê?

- Por que você é a mulher que eu amo

- Eu posso pedi uma coisa?

- Qualquer coisa

- Não me abandona, por favor.

- Nem se você pedisse - Ela se inclina sobre ele e o beija. A gravação acaba

Fico parada olhando para a televisão desligada, no escuro da sala. O que foi isso?

Olho para a Ana que dorme calmamente no sofá. Limpo minhas lágrimas, vou para a cozinha coloco o copo na pia e corro para o meu quarto.

Deito na cama e fico olhando para o teto "Por que você é a mulher que eu amo" A voz dele ecoa na minha mente. Ele não teria coragem de abandonar ela, ele a amava de verdade, dava para perceber isso pela voz dele, pelo jeito como ele falava com ela.

Eu preciso descobrir a verdade! Eu preciso encontra-lo!

O REENCONTRO - 2° LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora