- Fernanda você não sabe o quanto eu estou surtando! - Digo quando sentamos embaixo de uma árvore no intervalo
- Isso não pode ser tão ruim Malu
- Como não? Eu estou apaixonada pelo meu irmão! Meu irmão!
- Mas você não sabia que ele era seu irmão
- Agora eu sei, e não podemos ficar juntos e o pior de tudo - Meus olhos ardem querendo chorar - Eu queria tanto beijar ele!
- Já ouvi isso algumas vezes - Meu corpo todo gela ao ouvir uma voz atrás de mim. Olho para a Fernanda implorando que ela me dissesse que não era ele, mas ela apenas abaixa a cabeça envergonhada
Ele se senta ao meu lado
- Não vai ser fácil Malu, porque como você disse, eu também estou apaixonado pela minha irmã
Ele olha no fundo dos meus olhos e eu sinto o frio na barriga que senti quando quase nos beijamos. A vontade de me jogar nos braços dele é tão grande e não poder fazer isso me machuca
- Você não deveria estar ouvindo nossa conversa Flávio! É papo de garota - A Fernanda brinca tentando cortar o clima tenso
Ele ri, mas da para perceber que tá triste
- A gente pode conversar?
Engulo em seco e olho para a Fernanda
- Vou atrás do Júnior e da Fabi - Ela se levanta quase que correndo e deixa a gente sozinho
- Olha Manu, naquele dia que o meu, nosso, o Gustavo falou que éramos irmãos, meu coração se despedaçou em mil pedaços - Sinto um aperto no coração, mas me contenho para não chorar - Eu esperei anos para te encontrar, para ter você ao meu lado, para poder dizer o que sentia por você, para poder beijar você
Fecho os olhos com ele acariciando meu rosto. Não sei se é o desejo ou a frustação de nunca poder fazer isso, mas me inclino em sua direção e o beijo
Ele coloca suas mãos entre meus cabelos e me beija de volta. Nos beijamos como um casal apaixonado, como se nada pudesse atrapalhar nós dois
- Meu Deus - Me afasto dele quando finalmente consigo lembrar que somos irmãos - Me desculpa
Seu olhar destrói meu coração
- Como vamos fazer isso da certo? - Ele se levanta e estende a mão para eu me levantar - Somos melhores amigos, estamos apaixonados um pelo outro, mas somos irmãos
- Eu não sei, sinceramente não faço idéia, não quero me afastar de você, eu te amo Flávio - Ele me olha com os olhos arregalados - Como amigo quero dizer. Só precisamos esquecer tudo isso e nunca mais nos beijar
- É, quem me beijou foi você né - Ele dá risada
- Ah para, você que veio me seduzindo - Dou um empurrão em seu ombro
- Podemos fazer isso dá certo. Como irmãos e melhores amigos - Ele me estende o braço e vamos de braços dados para dentro da escola
{...}
- E vocês se beijaram?
- Sim! Na verdade, eu beijei ele - Conto para a Fernanda enquanto esperamos o Flávio na porta da escola para ir embora
- E como foi?
- Perfeito Feh, o melhor beijo da minha vida, senti o coração acelerado, borboletas no estômago, um beijo digno de livro de romance - Suspiro ao lembrar do beijo - Mas nunca mais vai acontecer, foi um erro, ele é meu irmão!
- Então por que você o beijou?
- Não sei, só que, eu tinha que beija-lo e ele falando aquelas coisas e eu vendo a realidade na minha cara de que não vamos poder ficar juntos, eu só beijei, vou aceitar que não vamos ficar juntos, mas eu precisava de um beijo pra isso
- Você vai conseguir amiga?
- Não tenho muita escolha né Feh - Ela me abraça forte e outra vez a vontade de chorar vem - Eu gosto tanto dele Feh
Uma lágrima escorre pelo meu rosto
- Eu sei amiga, mas eu estou aqui e vou te ajudar - Ela se afasta e limpa uma lágrima que escorre - Ele está vindo
Respiro fundo e coloco o meu sorriso mais falso no rosto
- Vamos?
Chegamos em casa e eu subo para o quarto de hospedes. Estou a dois dias aqui e me sinto como um E.T, o Gustavo é incrível, ele está fazendo de tudo para que eu me sinta a vontade, mas toda essa situação com o Flávio, e ainda tem essa tal de Mayra, só dois dias e essa mulher deixou o ódio dela por mim impregnado por todos os cômodos dessa casa
Coloco minhas coisas encima da cama, ligo o som e sento na cama. A maravilhosa voz do Bruno Mars preenche o quarto
- Já vi que herdou a paixão da sua mãe por ele - Olho para a porta e o Gustavo está parado nela
- Crescer ouvindo ele só poderia dá nisso - Ele ri e se senta ao meu lado
Ele suspira fundo e me olha com curiosidade
- Como foram as coisas lá?
- Bom, eu tive uma infância incrível, ela era maravilhosa, atenciosa, sempre estávamos juntas, sempre, até meus 10 anos nossa vida era incrível, contávamos tudo uma para a outra, ela era minha melhor amiga, ela trabalhava em uma editora então tinha muito tempo pra gente, eu ia trabalhar com ela, fazíamos tudo juntas, mas quando eu fiz 11 ela começou a trabalhar no hospital, e ela passou a ter pouco tempo em casa, nos víamos só a noite na hora do jantar, com 12 anos ela não chegava mais para o jantar, muitas vezes eu já estava deitada para dormir quando ela chegava e hoje eu não vejo mais a minha mãe - Limpo uma lágrima que escorre - Hoje somos como duas estranhas, ela me esconde coisas, mente pra mim, eu não conheço a minha mãe de verdade a cinco anos, eu nunca entendi o porquê as coisas tinham mudado, mas eu sabia que tinha alguma coisa a ver com o meu pai
Olho para ele e não consigo acreditar que o encontrei.
- Ela me falou coisas horríveis de você, ela mentiu. Quando perguntei de você pela primeira vez, ela me disse que você havia abandonado ela, quando ela contou da gravidez e ele nunca mais procurou ela, mas ela sofria, lembro de noites em que eu acordava e ela estava no quarto, com as coisas quebradas e chorava descontroladamente, eu era uma criança, não entendia o que estava acontecendo - Mais lágrimas descem e eu não consigo parar - Eu não sabia o que ela tinha, então eu apenas deitava a cabeça dela no meu colo e a deixava chorar, como ela fazia comigo quando eu tinha um pesadelo. Eu cresci e me perguntava, se ele foi tão ruim, se ele abandonou a gente, por que ela ainda sofre por ele? Se foi uma coisa rápida por que tanta dor?
Ele coloca sua mão sobre a minha
- Agora eu entendo, agora eu sei porque de tanta dor, mas ainda sim é culpa dela! Continua sendo culpa dela por eu não ter tido você, por não sermos uma família, é culpa dela tanta dor!
- Malu, você não pode ter tanta raiva da sua mãe, ela não é culpada, tenho certeza que ela teve seus motivos para não contar, nada explica ou justifica, mas em vão não foi. Tivemos um relacionamento difícil, não por nossa causa, mas teve muita gente maldosa que atrapalhou, sua mãe sofreu muito, passou por coisas que você não acreditaria - Ele limpa minhas lágrimas - Você ainda tem muito o que descobrir do nosso relacionamento, mas não odeie sua mãe, a Ana era uma mulher incrível e tenho certeza que continua sendo, então não deixe que o relacionamento de vocês fique assim, você disse que não a conhece mais, então a conheça outra vez
Ele acaricia meu cabelo e pela primeira vez desde que cheguei, me sinto em casa, no abraço do meu pai
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O REENCONTRO - 2° Livro
RomanceOnze anos após sua partida de Seattle, Ana Clara ainda não se sente pronta para voltar, mas ela fez uma promessa: quando sua filha Maria Luiza, estivesse com quinze anos elas voltariam para o lar, e esse dia finalmente chegou Maria Luiza Lancaster...