Onze

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Eu sabia que não seria fácil essa busca, mas está parecendo impossível encontrar ele. Já fui a nove empresas e não consegui nada!

Paro enfrente a fachada da última empresa: "Bittencourt Enterprises"

Aperto o casaco que estou usando e entro na empresa

- Boa noite - A atendente levanta o olhar e me olha com um certo nojo

- Pois não?

- Eu queria falar com - Pego o papel no meu bolso e leio o nome - Gustavo Bittencourt

- Tem hora marcada?

- Não, eu, bem, é importante

- Desculpe, o senhor Bittencourt está ocupado e só pode atender com hora marcada

- Mas eu preciso muito falar com ele

- Desculpe, mas não posso ajudar

Ela da um sorriso falso e volta a olhar para o computador

Saio da empresa e me sento em uma praça próxima. Levo meus joelhos até meu peito e abaixo a cabeça

- Não vou chorar! Não vou chorar! - Digo baixinho enquanto sinto meus olhos lacrimejarem. Por que eu fui inventar de fazer isso? Eu devia ter desistido! Agora estou na rua com frio, fome e sem meu pai

- O que houve? - Sinto a mão de alguém no meu ombro

Levanto o rosto e vejo um homem parado ao meu lado

- Precisa de ajuda?

- Se você conhecer esse cara e saber como eu posso encontrar ele sim, se não cai fora - Pego a foto e mostro a ele

- Ana - Diz ele em um sussurro assim que olha para a foto - Quem é você?

- A pergunta que realmente importa é quem é você e como conhece a minha mãe?

Ao dizer a palavra mãe, seus olhos arregala e vejo ele prender a respiração

- Mãe?

Isso vai demorar

- Sim, minha mãe, essa mulher na foto, Ana Clara. Mas você sabe disso, da onde você a conhece?

- Quem é esse? - Pergunta ele olhando outra vez para a foto e ignorando minha pergunta

- Meu pai, Gustavo

Ele me encara por longos minutos e depois parece sair de um transe

- Você não deveria estar na rua uma hora dessas. É perigoso

Que mudança brusca de assunto

- Jura? Não me importo

- Vem comigo, te levo para a minha casa e lá você tenta falar com a sua mãe

- Ah claro, vou entrar no carro de um estranho para ser esquartejada e jogada em uma mata

Ele ri alto

- Tenho cara de assassino?

- Quem vê cara, não vê coração

- Eu conheci eles dois - Olho para ele confusa - Seus pais

- Jura? Não tinha percebido isso

- Vem comigo, eu conto tudo o que você quer saber

Olho no fundo dos seus olhos azuis, seu olhar está carregado de confusão e... Tristeza? Por que será que está triste?

Será que eu devo ir? Não o conheço, ele pode ser um louco que quer me matar, mas ele reconheceu a Ana assim que viu a foto. Talvez seja a minha única opção

Suspiro fundo e me levanto

- Vai me contar tudo? Sem mentiras?

- Irei - Consigo vê a sinceridade em seus olhos

- OK. Então vamos

{...}

- Pode entrar - Diz ele assim que as portas do elevador se abrem em uma imensa sala de estar

Entro meio receosa e fico praticamente encolhida no canto

- Vem, senta - Ele me leva até um sofá branco e eu sento - Vou buscar uma coisa, já volto

- Tá

Ele entra por uma porta e segundos depois sai uma mulher de outra porta

- Olá, quem é você?

- Boa noite, me chamo Maria Luiza - Estendo a mão para ela

- Prazer Maria, sou a Millena, governanta. Quer beber ou comer alguma coisa?

- Não, não, obrigada

- Se precisar pode chamar

- Obrigada

Ela sorri e na mesma hora ele volta com uma caixa na mão. Agora que eu percebi, eu nem sei o nome dele

- Boa noite Millena, pelo visto já conheceu a Maria - Opa, como assim? Eu não falei meu nome a ele

- Como sabe meu nome? - Sussurro, mas ele parece não ter ouvido

- Já sim. Precisa de alguma coisa senhor?

- Não Millena, obrigada, só nos deixe a sós

- OK

Ele espera ela sair da sala e só então senta ao meu lado

- Antes de eu falar qualquer coisa a você, preciso saber o que está acontecendo, porque você está procurando seu pai?

- Bom, eu estava morando em Amsterdã a sei lá quantos anos, com a minha mãe, e todos esses anos que eu vivi lá quis saber quem era meu pai, mas ela nunca me contou. Quando voltamos a Seattle

- Como assim "voltamos"?

- Eu e a minha mãe

Vejo seus olhos brilharem, ele diz alguma coisa, mas não consigo ouvir

- A história é longa, no resumo eu quero saber o verdadeiro motivo de eu não conhecer meu pai, quero saber a história de verdade

Ele suspira e abre a caixa que vejo que na tampa tem escrito em letras pretas "Lembranças"

"Eu, o Lucas, sua mãe e seu pai, temos uma caixa dessa, é aonde guardamos todas as nossas lembranças boas da adolescência e dos nossos momentos juntos"  o que a minha tia Jennifer me falou me volta a mente quando vejo a caixa

- Toma - Ele me entrega a caixa aberta. O conteúdo é bem parecido com o da caixa da Ana e o da Jennifer

Pego algumas fotos e vejo a minha mãe e meu pai nelas. Baile de formatura, jantar em família, encontros, fotos com a Jennifer e o Lucas

- O que é tudo isso? Por que você tem essas coisas? - Pergunto um pouco alterada ainda olhando para as fotos

Fico paralisada quando pego outra foto, sinto as lágrimas molharem meu rosto, todo o ar fugir dos meus pulmões e o mundo todo girando

Na foto, está eu no balanço com um homem me balançando. "Tio Guh"

- Quem é você? - Pergunto com o rosto banhado de lágrimas

- Sou seu pai

O REENCONTRO - 2° LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora