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- Conta-me, como te sentes? – O Dallas observava-me, sentado no cadeirão ao lado da minha cama de hospital.

- Sinto-me como se me tivessem entupido em drogas e rachado a cabeça. – Respondi enquanto abria a caixa de chocolates que ele me tivera trazido. – Ah espera! Eu estou mesmo drogada pela quantidade de merdas que me dão para tomar, e eu rachei mesmo a cabeça, por causa de uns estúpidos cabos de eletricidade que aqueles idiotas não souberam colocar em segurança no recinto. Tirando isso, e a dor de cabeça que não passa, estou ótima. – Ironizei, tentando fazer da minha vida uma piada.

- Nem numa cama de hospital tu paras de reclamar. – Ele riu.

- Eu, serei eu, até invalida. – Gracejei. – Porra Dallas, obrigada por estes chocolates. – Agradeci deliciando-me com aquele pequeno prazer.

Estes chocolates foram o ponto alto do meu dia.

- Sempre às ordens. – Ele brincou. – Sabes que, o que precisares, podes contar comigo.

Eu assenti, sorrido como agradecimento.

Não sei como ele adivinhou que sou viciada em chocolates, mas eu estarei internamente grata por isto. Tudo o que as pessoas sabem fazer, desde que acordei, é tratarem-me como uma inválida. Tratam-me como se eu fosse uma estupida boneca de louça que pode se partir a qualquer momento.

Odeio que me tratem assim.

O Dallas, não. Ele não me sufoca como os meus pais e o Brad têm feito. Ele não me pergunta minuto a minuto se estou bem, ele ainda nem me perguntou se a porra da almofada nas minhas costas está do meu agrado e eu estou grata por isso.

Só quero ir embora.

- Parece que estou na rádio. – A sua voz soou em modo de brincadeira, olhando em redor do quarto. – Está tudo cheio de tulipas.

- Estás a gozar com as minhas flores? – Provoquei, continuando a comer os meus chocolates.

- Não, mas já reparei neste pormenor, todas as semanas levas um ramo de tulipas para colocar numa jarra lá na nossa sala e tens essas mesmas flores em tua casa. – Ele encarou o meu olhar, pensativo. – São as tuas flores preferidas?

Sorri por perceber que ele talvez me conheça melhor do que eu pensava. O Dallas não é de muitas palavras, talvez eu também não seja, mas nós entendemo-nos e conhecemo-nos através das entrelinhas.

Não sei como, nem quanto, mas criamos uma ligação e eu sei que posso contar com ele, tal como eu estaria presente para qualquer eventualidade que ele precisasse.

- Sim, são. – Encarei-o com um pequeno sorriso. – Eu acho-as tão bonitas e sofisticadas mas ainda assim elas retratam a simplicidade.

- Acho que, de certo modo, elas te retratam. – O seu olhar observava-me, carregando carinho.

- Obrigada. – Sorri. – Foi o Brad que as trouxe, acho que ele se sente culpado por isto que me aconteceu.

- Porquê? – Questionou-me, confuso.

Eu também estou confusa.

- Porque me deixou ir sozinha atrás da Ella. – Encarei a caixa de chocolates, que se encontrava no meu colo.

Não contei a ninguém o que se passou. Na verdade, eu menti.

Disse que não me lembrava do que se tivera passado, mas eu lembro-me. Eu estava chateada porque tinha discutido com o idiota do Louis e, por isso, não vi um palmo à frente dos meus olhos.

Não sei muito bem porque não contei a verdade, mas ela também não é importante. Acho que não quero que mais ninguém se culpe pelo que me aconteceu, foi tudo culpa minha. Eu deveria ver onde meto os pés.

Do Avesso 1Onde histórias criam vida. Descubra agora