A festa

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Ela já tinha feito ritos de iniciação antes, e dos esquisitos. Tinha ficado nua, em uma pedra, enquanto nativos jogavam tinta nela. Sim... ela sabia o que eram ritos de iniciação, mas ver um assim... em uma festa normal de vizinhos em uma cidade tão americana a assustava. Jillian sabia que cultos ali, naquela região, não eram boa coisa, mas também sabia que para compreender uma sociedade, tinha que entrar nela... entrar de verdade.

Ela imaginou se Kathyln havia estado ali, como ela havia estado, pronta para ir para o centro de uma cidade que não compreendia, olhando pela janela a estrada vazia e escura demais enquanto o carro se encaminhava sem ela estar verdadeiramente no poder. "É assim que as pessoas morrem", pensou Jillian, "entram em um carro e vão até uma festa na cidade para fazer uma iniciação boboca". Oh, mas ela queria investigar... queria mesmo e algo a puxava a querer ficar ali.

- Vocês se comportem. - Disse Gabriel parando o carro. - E eu estou falando sério, Sam.

A festa era como ela imaginava. Três ou quatro barraquinhas com churrasco, milho cozido e bolos. Bebida para todos, música brega e vizinhos com roupas muito anos 50 dividindo risos no meio de um jardim no meio da cidade. Era a praça principal, e ela estava decorada com bandeirinhas coloridas e tinha um ar de feira estadual. Não era assustador... mas poucas coisas eram assustadoras à princípio.

- Fizeram isso... pra mim. - Ela falou em voz alta, olhando para Logan, sentado ao lado dela no carro parado.

- Eles precisavam de uma desculpa pra encher a cara. - Brincou.

- Logan... seja gentil e leve Jillian até Marta, por favor. - Pediu Gabriel. - Ela vai te explicar o que precisa saber... e eu espero que nos vejamos de novo, Jillian.

Jillian engoliu seco. Ela sabia que podia ficar, se quisesse, afinal, aquilo era solo americano e ninguém podia proibir ela de estar ali... mas investigar... isso precisava de colaboração. E Jillian não teria isso se não ouvisse os termos dele. Culto ou não... é preciso compreender uma comunidade para poder julgá-la e Jillian não a compreenderia se não entrasse nela.

Desceu do carro, acompanhada de Logan, que ofereceu o braço para ela segurar, como um perfeito cavalheiro caipira.

- Está nervosa? - Perguntou rindo das bochechas vermelhas dela.

- Não deveria? - Riu, olhando pra ele. - Quer dizer... você não estaria?

- Eu estava. - Admitiu.

- Você já passou por isso. - Compreendeu. - Quando chegou aqui.

- Você é esperta demais pro seu próprio bem. - Ele apertou a mão dela em seu braço. - Fique tranquila... não vai haver sacrifícios e nem rezas. Não somos um culto.

- Isso é exatamente o que alguém de um culto diria. - Percebeu.

- Se fossemos um culto... eu não estaria vivo, se estive na mesma posição que você. - Tentou fazer alguma lógica. - E você, se desconfiasse que isso é mesmo um culto, não estaria aqui. Você é mais esperta que isso. Está com medo porque não nos compreende e isso te assusta.

- Sou tão fácil assim de ler? - Provocou-o.

- Não. - Riu. - Ali está Marta. - Apontou para a mulher sentada em uma mesa de madeira estilo picnic tomando um copo de limonada. - Se tudo der errado, você vem pra mim e eu te tiro daqui. Promessa de escoteiro.

- Você ao menos foi escoteiro? - Suspirou.

- "Repeito a flora, respeito a fauna, promovo o bem e ajudo os necessitados. Vamos, ursos!" - Falou o lema em voz alta. - Fui escoteiro por anos.

Hell's CreekOnde histórias criam vida. Descubra agora