Dificuldades

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Ela mal tinha conseguido comer ou tomar alguma coisa, tamanho o grau de novidade no qual havia se envolvido. As coisas nem sempre iam como ela planejava e Hell's Creek estava passando longe de tudo que ela havia planejado. Era fácil lidar com algo maligno, agora, algo que podia ser bom em algum sentido mas requeria envolvimento... isso sim era um desafio. Como antropóloga, ela gostava de pensar que estava preparada, mas a verdade era que ela não estava... ela podia estudar mil tribos sem se envolver - através de um vidro - mas entrar nas coisas sempre era bem mais profundo.

O quarto, em silêncio, exibia as camas de Logan e Sam ao lado e ela estava sentada ali separando papéis em cima da cama sobre Kathyln. Não havia muito ali, decidiu, apenas o suficiente para provar que Kathlyn era real o suficiente. Se ela era mesmo uma protegida de Marta e sua morte toda, isso era um mistério. Um mistério que Jillian pretendia esclarecer em breve. Se ela podia ir embora à qualquer momento, pretendia fugir antes de se envolver demais.

Ela sabia como era ruim sair de locais que amava e tinha sentido isso na pele na Amazônia Peruana.

E foi assim que Gabriel a encontrou - sentada na cama olhando para papéis brancos e frios. De todas as coisas que ela poderia estar fazendo, ela havia procurado dedicar seu tempo à morte de Kathlyn enquanto podia estar pensando sobre seu novo arranjo ali. Ela não era egoísta, aliás, parecia altruísta demais. Na primeira noite, Logan e Sam haviam chorado, se recolhido e ali estava ela, estudando outra pessoa para ajudá-la mesmo na morte.

Ele sorriu e encostou-se no portal, derrubando consigo o ar durão que carregava.

- Você parece perdida nesses papéis, menina.

- Eu sei. - Ela sorriu gentilmente, olhando para os inúmeros papéis espalhados ali. - Eu gostaria de entender o que deu errado pra ela.

- Todo mundo tem alguma coisa errada, antes de vir pra cá. - Concordou, entrando um pouco no quarto. - No caso de Kathlyn, era bem claro que ela trouxe seus demônios para Hell's Creek. Marta teve trabalho com ela, bastante.

- Eu ouvi a história. - Jillian olhou Gabriel nos olhos. - Missy assumiu a loja e Marta cuidou de Kathlyn.

- E Kathlyn simplesmente apareceu morta, um dia. - Completou. - Ela estava começando a melhorar, fisicamente pelo menos. A cabeça dela, segundo Marta, era o problema.

- Se ela estava tão mal quanto dizem que estava... a cabeça sempre é um problema. - Concordou.

- Apesar de Quinn saber de muita coisa e selecionar as pessoas, ele nunca nos conta porque as trouxe aqui. Segundo ele, e os xerifes antes dele, faz parte do círculo de confiança. Eu soube de Sam no momento em que olhei pra ele... Drogas... foi fácil juntar as peças quando ele começou a suar frio e pedir um pouco de Cocaína. Já Logan... ele era gentil... calmo... não falava muito... eu desenvolvi muitas teorias sobre qual seria o problema dele... mas não acertei. - Suspirou cruzando os braços. - Não acertei até ele se machucar a primeira vez e cuspir o problema como vômito em cima de mim enquanto eu segurava seu braço cortado na banheira.

- Meu Deus. - Tomou um choque de susto.

- Logan foi mais difícil do que Sam. - Declarou se aproximando da cama dela. - Até hoje, ele é bem difícil de ler. Eu preciso ficar em cima, o tempo todo... o que explica a porta. - Apontou pro banheiro. - Eu sei que você é uma menina e precisa de alguns momentos privados... então, quando precisar, pode usar meu banheiro. Ele não tem chave, mas ele tem uma porta e pode usar.

- Obrigada. - Ela sorriu um pouco aliviada.

- Mas nós dois vamos ter que fazer um acordo, Jillian. - Cruzou os braços perto dela, um pouco incerto de como fazer um acordo com uma menina. Ele nunca tinha tido uma menina em casa, além de sua esposa, Dina, e nunca tinha cuidado de uma. - Você vai ficar, então precisa ser uma filha dessa comunidade. O que significa que eu preciso cuidar de você. Eu e você não nos conhecemos ainda, mas podemos ser muito próximos e amigos, se permitir isso. Não precisamos e nem quero começar nada com o pé esquerdo com você. Eu estou aqui sempre, pra você e por você... pode conversar comigo, contar seus problemas e o que te deixa aflita e eu nunca vou te julgar, por nada.

Hell's CreekOnde histórias criam vida. Descubra agora