Preocupações à vista

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- Ela gritou um bocado. - Disse Logan se aproximando do pai que estava na cozinha esquentando um pouco de chá.

- Ela está tremendo toda. - Avisou Gabriel chateado. - Deixei-a na cama vestida com um pijama, chorando e tremendo feito vara verde.

- Ela é uma menina, sabia que ia sentir vergonha. - Logan comentou sentando-se na bancada ao lado do local onde o pai ajeitava o chá. - Você parece preocupado.

- Eu estou. - Avisou. - Ela foi estuprada, com certeza, em algum momento. Ela foi incrível... até onde o limite dela permitiu. Deus sabe que eu achei que ela fosse fazer uma cena muito pior.

- Ela está machucada? - Logan sentiu um soco no estômago.

- Não... mas estava suja. - Suspirou. - Bem suja. Eu nem lavei ela direito. Eu acho que ela está tendo uma crise de pânico na verdade.

- Muitas vezes meninas que foram abusadas tem dificuldade de se tocar... mesmo pra se limpar. - Logan comentou vendo o pai se movendo depressa. - Você sabe disso, ela não é a primeira menina abusada na cidade.

- Ela é a primeira menina que eu cuido e estou apavorado. - Admitiu. - Eu nunca tinha... nem lavado uma menina. - Parou por um momento. - Eu não sei se fiz certo com ela.

- Se fosse comigo ou com Sam, o senhor provavelmente teria nos segurado e olhado, mesmo com os gritos.

- Vocês são meninos. - Gabriel pegou o bule de água quente e o despejou na xícara. - Ela é uma menina. Não quero que se sinta ameaçada.

- Pai... Jilly precisa da gente. - Logan sorriu pro pai. - Você fez tudo certo e pode contar conosco, nós vamos ajudar com ela.

- Obrigado, meu filho. - Ele sorriu para Logan. - Converse com ela... ela está nervosa.

- O senhor vai levar ela pro.... médico e...

- Vou, em algum momento. - Concordou. - Primeiro quero que ela confie em mim. Ela foi boazinha... até onde conseguiu ser. E pelo amor de Deus, me ajude a conter Sam... não quero ele fazendo bobagens o tempo inteiro perto dela.

- Pode deixar - Logan sorriu balançando o cabelo loiro. - Eu estava pensando se eu poderia tomar banho no seu banheiro hoje... já que Jilly já está deitada e...

- Pode, claro. - Concordou. - Eu vou dar o chá para ela dormir melhor e depois te dou banho.

- Pai, eu já posso tomar banho sozinho. - Pediu.

- Não, não pode. - Falou duro. - Nada de ficar sozinho atrás de portas ainda.

- Eu estou bem há quase um mês. - Sentiu-se ofendido.

- Eu disse não. - Repetiu. - Não fique teimoso comigo. Não é não.

- Você não confia em mim...

- Não, Logan. - Respondeu firme, com um olhar paterno para um filho que nem compreendia suas próprias necessidades. - Eu não confio em você ainda, é verdade. Você se machucou bem feio e ainda está tendo crises de choro de noite, então eu não posso permitir você sozinho, nem mesmo no banheiro.

- Eu não quero que fique toda hora me vendo e enfiando a mão em mim, e....

- EU NÃO VOU TER ESSA CONVERSA DE NOVO COM VOCÊ! - Falou alto, de forma a repreender as palavras agressivas do filho. - Você não precisa gostar das minhas decisões, mas você vai respeitá-las, Logan.

- Mas pai, eu...

- Nariz na parede. - Gabriel apontou pro canto da cozinha, de forma firme. - Agora.

- Mas papai! - Protestou.

- Eu mandei você ir pra parede e ficar lá, pensando na forma como está falando comigo! E você tem sorte que eu não te dou umas palmadas pela forma de falar comigo, Logan. - Falou sério. - Eu confiei em você e você lembra o que aconteceu? Você se cortou, bem feio, então você perdeu esse direito, rapazinho!

Logan desceu na bancada, chateado e foi até o canto da parede, parando ali, completamente irritado mas sem forças para discutir com o pai. Sam sempre discutia... e tudo acabava em uma surra, então Logan costumava obedecer.

- E fique aí até eu terminar com Jillian, você está me entendendo?

- Sim, senhor.

Gabriel saiu da cozinha, levando consigo um chá de camomila para a nova filha. E quando ele saiu, foi Samuel que entrou na cozinha, rindo da situação do irmão.

- Olha só quem está de nariz na parede! - Provocou. - O que você fez?

- Não tem graça, Sam!

- Sério, o que você fez? - Quis saber, e se aproximou do irmão, parando ao lado dele, mas com as costas para a parede.

- Eu discuti com o papai. Queria meu direito à privacidade de volta... aparamente isso não vai acontecer.

- Ei... - Sam ficou mais sério. - Logan, está tudo bem.

- Não, Sam, não está. - Logan falou começando a chorar. - Ele não confia mais em mim.

- Ele vai confiar de novo, irmão... só dê um tempo pra ele. Você assustou todo mundo. Eu? Eu vivo fazendo bobagem... mas você... ele não esperava... só isso! Dê um tempo pra ele, você vai ver...

- Às vezes eu acho que ia ser melhor morrer mesmo. - Falou sério demais.

- Ei. - Sam o repreendeu. - Não fale assim, Logan, as pessoas aqui te amam muito. Papai só está sendo responsável com você. E ele precisa da nossa ajuda agora, com a Jillian... você ouviu ela chorando... ela parece gostar de você... se você não estiver bem, como espera que eu ajude ela sozinho? Eu sou um trapalhão, lembra?

- Eu que sou. - Comentou fechando os olhos. - Eu não vou deixar ele me tratar como um bebê de novo, Sam, eu não vou.

- Está sendo injusto agora, irmãozinho. - Encostou nas costas dele. - Sabe que se começar a agir assim, vai ser pior pra você mesmo. Vamos lá... você está indo tão bem! Você fez boas coisas essa semana... até papai percebeu. Ele só não está pronto para te deixar sozinho ainda.

- Ele te deixa sozinho. - Comparou.

- Talvez nem devesse. - Brincou. - Eu estou limpo há anos, Logan... e mesmo assim... quando ele precisa me cuidar, eu deixo. Eu deixo porque eu o amo e confio ele. Assim com a Jilly vai aprender a amar e confiar ele também... agora... se ela te ver resistindo assim, ela vai ter medo... quer que ela tenha medo?

- Claro que não.

- Então, meu irmão, eu...

- Samuel... - A voz de Gabriel veio na porta. - Eu fui deixar o chá para Jilly mas ela apagou. - Comentou sério vendo Logan chorando e Sam do lado dele. - Eu quero que deite na sua cama e se ela acordar ou chorar me chame.

- Ok. - Concordou ficando um pouco vermelho. - Ok...eu posso fazer isso.

- Obrigado filho.

Samuel começou a caminhar, suspirando, mas antes de sair, ficou ao lado do pai, e se aproximou do ouvido dele.

- Ele não está bem... está falando em morrer de novo.

- Obrigado. - Gabriel agradeceu baixinho e viu o filho sair da cozinha como ordenado. - Vamos, Logan... venha com o papai... vamos lá pra cima....

Hell's CreekOnde histórias criam vida. Descubra agora