Pasadena

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"Mundos perdidos, por Jillian Pooper", dizia o cartaz com a foto da mulher jovem de cabelos lisos castanhos claros, cheia de tatuagens e de botas masculinas para trilhas. Ela estava conquistando o mundo, e, na foto, apontava do topo de um desfiladeiro para uma comunidade pequena em cabanas.

Era assim que ela ganhava a vida: pesquisando lugares onde ninguém ousava ir. Um ano com uma tribo canibal na África Meridional, quase dois em Bornéu acompanhando nômades perigosos, outro ano no Nepal, com povos que viviam em regiões altas contemplando os Deuses. Tinha uma magia que ela descrevia como "um estilo de vida". E pagava bem também. A National Geographic havia comprado quase todas as fotos da última expedição e isso pagaria suas contas por anos. Talvez ela ganhasse um prêmio. Ela bem que merecia.

Ela saiu do salão cheio aplaudida, carregando uma caneta, um sorriso e sua camiseta xadrez aberta no peito, mostrando uma camisa branca simples demais por baixo. Jillian raramente tinha tempo para saltos e maquiagem. E isso se traduzia no seu espírito livre de antropóloga livre e solta. Ela pisou do lado de fora, enfiando a mão no bolso para pegar um chiclete quando viu o homem alto e gordo demais, com uma estrela de xerife no peito, se aproximando dela.

- Senhorita Pooper. - Ele tirou o chapéu de xerife da cabeça, em sinal de respeito, mostrando uma cabeça com poucos cabelos claros. - Boa tarde.

- Xerife. - Jillian o saudou, sorrindo e lembrando do homem de farda no meio de seu público atento de universitários e curiosos. - Espero que tenha gostado da palestra, acho que te vi em uma das cadeiras laterais. É sempre um prazer ver força policial se informando sobre coisas novas! É uma honra.

- Achei muito esclarecedora, Senhorita Pooper.

- Jillian, por favor. - Sorriu oferecendo um chiclete para o homem.

- Não, obrigado. - Recusou educadamente com a mão, sem dar muito tempo para papo furado. - Jillian... será que podemos conversar, em particular?

Ela achou curioso. Imaginou que ele fosse falar algo sobre a palestra, ou pedir um autografo para uma filha aventureira... mas não. Ele estava sério demais.

- Algum problema? - Ela quis saber.

- Eu vi o trabalho que você faz, e achei que talvez estivesse interessada em me ajudar em um caso. - Informou enfiando a mão no bolso e tirando de lá alguns papéis, olhou entre eles, com cuidado e deu-lhe uma foto de uma menina jovem.

Jillian aceitou a foto e olhou-a. Uma menina jovem, loira, de olhos escuros como os dela, enormes e alegres. Ela devia ter o quê? 18, 19 anos? Parecia muito americana e saudável.

- O nome dela era Kathlyn Sanchez. Ela tinha 19 anos. - Informou.

- Tinha? - Jillian levantou uma sobrancelha passando o dedo no rosto da menina na foto.

- Ela foi achada morta, semana passada.

- Ela era jovem. - Concordou Jillian, suspirando. - Muito jovem. Infelizmente não vejo como posso ajudar, Xerife. Eu sou uma antropóloga, não uma investigadora particular. Não lido com mortes... talvez se eu puder dar o telefone de um amigo que...

- Eu sei. - O xerife suspirou também, interrompendo-a e pegando a foto de volta das mãos de Jillian. - Eu assumi a cidade há duas semanas e... ela é peculiar. Se é que posso definir assim... Peculiar o suficiente para uma pulga me coçar a orelha.

- Peculiar como? - Ficou curiosa.

- Kathlyn foi achada com sinais de tortura, e com os pulsos cortados, diversas vezes.

- Suicídio? Meninas jovens se matam o tempo inteiro, pelos motivos mais absurdos possíveis.

- Não. Meu legista descartou isso.

- O que a família dela diz?

- Aí que está... a família dela mora na Carolina do Norte e achava que a filha tinha ido trabalhar na minha cidade. O que não é verdade... ela nunca chegou a assinar nenhum contrato. Ninguém fala nela e ninguém afirma saber da existência dela. Em uma cidade de três mil pessoas, Jillian.

- É impossível. - Riu. - Alguém devia conhecer ela.

- Eu acho que é una espécie de culto. Seita, chame como quiser.

- Por que acha isso? - Ficou interessada.

- Você teria que ver para acreditar... mas estou preocupado. Temo que Kathlyn não foi a primeira e não será a última.

- Por quê acha isso?

- Ninguém fala com ninguém. É tudo estranho... o que eles tem lá... é além da minha compreensão. Não existem televisões, jornais apenas os locais... sem celulares... telefone apenas na delegacia e no comércio, mas eles não são Amish. Eles usam eletricidade e Roupas da moda. Preciso de um fechamento, por Kathlyn. Você diz que conhece mundos perdidos, Jillian... pois bem, Hell's Creek é um mundo perdido. Se eu provar que Hell's Creek é um culto, talvez possamos fazer alguma coisa, mas eu preciso de uma especialista.

- Hell's Creek? - Riu do nome da cidade.

- Você poderia vir e me dizer se é um culto? - Perguntou. - Eu pagaria as despesas da investigação, claro. Venha, por favor, dê uma olhada... eu preciso saber com o quê estou lidando. Eu pago por você e sua equipe, até saberem do que se trata e das circunstâncias da morte de Kathlyn.

- Eu trabalho sozinha. - Ajeitou o corpo, pensando bem. - Cidades do interior podem ser assustadoras, Xerife, mas concordo que há um elemento estranho na sua comunidade. Eu posso ir e dar uma olhada. - Concordou. - Porém... sabe que posso não achar nada... não sabe?

- Eu preciso saber. - Concordou. - Mesmo que seja só coisa da minha cabeça, preciso saber se há ou não um culto ali.

- Eu vou. Vou para Hell's Creek. E vamos investigar juntos.

Hell's CreekOnde histórias criam vida. Descubra agora