Jillian entrou na sala e viu Gabriel torcendo a orelha de Sam, com uma cara furiosa. Era uma cena bem familiar, especialmente para uma fazenda. O pai durão, apertando o filho desajeitado. Os dois estavam nervosos e ela ficou totalmente sem ar quando viu o menino torto, com dor, tentando se soltar do pai.- Eu já entendi! - Ele gritou.
- Eu acho bom mesmo, Samuel! - Gabriel falou firme. - Porque eu não quero ter que me repetir, menino!
- Está bom! - Falou alto vendo Jillian de braços cruzados na sala. - A menina está aqui!
Gabriel olhou para Jillian, um tanto surpresa vendo a cena e soltou a orelha do filho. Ele sorriu, um pouco chateado por Jillian ter visto a cena, e limpou as mãos nas calças.
- Desculpe por isso. - Gabriel falou. - Sam vai aprender a não fazer brincadeiras de mau gosto com minhas vacas... não é mesmo, Sam?
- Sim, pai. - Ele falou constrangido, massageando a orelha. - Eu posso ir agora?
- Pode.
O menino correu e Gabriel sorriu para Jillian.
- Ele é jovem... me desculpe. - Tentou explicar.
- Sua casa... suas regras. - Jillian levantou uma sobrancelha.
- Vejo que conseguiu tomar um banho e colocar outra blusa xadrez limpa. - Sorriu, sentando-se em um sofá de forma desajeitada.
- É... eu... o banheiro não tem porta. - Avisou ficando vermelha. - E se eu soubesse que.... não havia outro quarto disponível eu jamais...
- Bobagem. - Gabriel sorriu. - Sobre a porta... eu sinto muito, Jillian. Eu a tirei no verão passado, por causa de Logan. Ele teve uma depressão e... - Mordeu os lábios. - Nos sentimos mais seguros sem a porta.
- Oh, eu não sabia...
- Não tinha como você saber, não é mesmo? - Sorriu. - Pode usar meu banheiro, quando quiser. Ele não tem trancas... mas tem uma porta.
- Obrigada. - Ufa... pensou Jillian sentando-se também em um sofá.
- Já sabe quanto tempo vai ficar, Jillian?
- Algumas semanas, pelo menos. Ao certo, é difícil dizer.
- Enquanto estiver aqui... - Gabriel suspirou. - Talvez possa nos ajudar. Somos bem organizados aqui e eu gosto de manter as coisas limpas, especialmente dentro de casa.
- Sem problemas... eu posso limpar a casa. - Concordou. - E o que mais precisar da fazenda... é o mínimo que posso fazer, não é mesmo?
- A fazenda é responsabilidade nossa. Minha e dos meninos. Jamais pediria para uma moça para... ficar no sol assim.
Jillian ficou vermelha. Ela não era exatamente uma moça frágil, mas também não ia discutir com o senhor sentado na sua frente.
- Eu ficarei feliz de ajudar com a casa.
- Ótimo. Eu sou um pouco chato e convencional demais, mas estarei aqui, para o que precisar, Jillian. - Sorriu.
- Eu agradeço.
- Aonde você já esteve? Com esse seu trabalho? - Quis saber, bem curioso.
- Em todo lugar... realmente. - Brincou. - Eu viajo bastante.
- Deve conhecer coisas bem diferentes.
- Uma ou duas. - Sorriu. - Pode ser bem compensador, ver sociedades tão únicas.
- E vive entre elas... até saber como funcionam.
- Isso. - Sorriu, concordando. - Muitas vezes mergulho nas experiências e sempre aprendo muito com isso.
- E o que achou de Hell's Creek até agora? - Quis saber.
- Honestamente?
- Por favor, não me poupe. - Brincou com ela.
- Um tanto peculiar. - Admitiu. - Mas eu ainda não tenho certeza porque.
- Eu posso te poupar da curiosidade, Jillian... mas nós dois precisamos de um acordo. - Ofereceu. - Um acordo me garantindo que você não vai fugir por aquela porta.
- Nada mais me surpreende nessa vida.
- Samuel e Logan não são meus filhos. - Admitiu pronto para ver a reação dela. - Não de verdade, pelo menos.
- São adotivos, Logan me contou. - Concordou.
- Eles já eram adultos, quando vieram até mim. - Mordeu os lábios, vendo o rosto de Jillian ficar mais atento. - Sam tinha problemas graves com a família e Logan já tinha tentando se matar seriamente. Eu os aceitei porque era o melhor a ser feito... e funcionou para todos nós, sob o set de regras ideal, claro.
- Bom... - "Não é tão ruim", pensou Jillian. Havia algo nobre ali. Ok, eles eram adultos e tinha condições de se manter, mas... tudo bem... nem todo mundo era independente e capaz como ela. - Se todos estão felizes.
- Eles estão, agora. - Admitiu. - Mas eu e Dina tivemos muito trabalho, especialmente com Logan. De qualquer forma, na iniciação, vão te perguntar se você quer ficar... e se quiser quiser ficar, Jillian, pelo menos por um período de tempo, haverão coisas para você seguir aqui também.
- Que coisas? - Quis saber.
- Bom... isso será dito para você, pela nossa líder.
- A... líder...
- Marta. - Sorriu.
- A moça da vendinha? - Então... eles eram um culto!
- Pode recusar, não se preocupe. Porém, se recusar, terá que ir embora.
- Eu tenho um trabalho para fazer aqui. - Riu.
- Pode fazer ele... se ficar...
- Vocês são algum tipo de culto... não são? - Provocou.
- Não há deuses aqui. - Gabriel avisou. - Não haverá Deuses. Somos só nós, e você precisa concordar em estar aqui.
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Hell's Creek
FantasiJillian Pooper ganha a vida como antropóloga investigando e descrevendo sociedades isoladas no mundo. Ela é surpreendida por um xerife, depois de uma vibrante palestra na cidade de Pasadena que pede sua ajuda para investigar uma morte suspeita em um...