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Narração por Gael. 

Gosto muito da Maia, sei que ela exagera e é louca, porém ela precisa se afastar de vez dessa Luna. Ou vai acabar caindo feio do cavalo. 

Havia dormido um pouco mal e estava com sono. Passei o primeiro tempo do lado de fora fumando e tomando um café sozinho. Depois entrei na aula. Sentei junto com a minha galera. 

Enquanto assistia a aula, minha mãe não parava de me ligar. Assim que o professor liberou nossa turma eu retornei para minha mãe. 

Início da Ligação. 
“Oi mãe” —Gael. 
“Oi filho. Estava em aula?” –Mãe. 
“Estava sim, mãe. Trabalhando?” — Gael. 
“Na verdade indo me encontrar com o João” —Mãe. 
“Ninguém merece (falei baixinho). Bom pra vocês então” —Gael. 
“Filho, poxa, será que você não pode ao menos almoçar com a gente? A filha do João é tão legal, da sua idade quase, quem sabe vocês podem fazer uma amizade.” —Mãe. 
“Poxa, mãe...” —Gael. 
“Será que você NUNCA vai me dar um voto positivo? Nunca, Gustavo? Poxa filho eu sinto tanta falta de você e eu não aguento mais essa distância entre a gente. Eu faço o máximo pra te agradar, pra gente ficar juntos, pra gente sair, ter algo entre mãe e filho. Eu sei que isso é brega, é rídiculo. Mas já fazem 10 anos, Gustavo, 10 anos! E não culpa o João e a filha dele por isso poxa. (chorando)” —Mãe. 
“Tudo bem, mãe. O que a senhora quer que eu faça?” —Gael. 
“Nos encontra no restaurante xxx daqui a pouco” —Mãe. 
“Tudo bem dona Andréia Garcia. Eu vou tentar ok? Se eu não gostar deles não vou gostar e pronto. Sem mais.” —Gael. 
“Você vai os amar, certeza.” —Andréia. 
“Até daqui a pouco, mãe.” —Gael. 
“Até meu anjo.” —Andréia. 
Fim da Ligação.

Eu estava sentindo meu coração pesado. Não aguentava ver minha mãe chorar e saber que a culpa era minha. Peguei um busão correndo e fui pra casa. 

Tomei um banho, escovei os dentes, me arrumei todo, peguei minhas coisas e sai de casa. Desci até a garagem, peguei meu carro e dirigi até o tal restaurante. Deixei meu carro no estacionamento e quando entrei o recepcionista do restaurante me atendeu. Mas de longe vi minha mãe sentada à mesa com um homem e uma menina que estavam de costas para mim. 

—Já tem uma reserva, senhor? –Disse o recepcionista com um sorriso nos lábios. 
—Tenho pessoas me esperando. –Apontei para a mesa e sai andando. 
Minha mãe abriu um sorriso lindo ao me ver e não pude deixar de sorrir também. Ela se levantou, junto com o tal João e a filha... dele. 
—Luna? –Falei olhando pra ela. 
—E você é o Gustavo. –O sorriso dela ia murchar, mas pra não perder a pose ela forçou um sorriso. 
—Se conhecem? –A minha mãe perguntou. 
—Estudamos na mesma faculdade e temos um amigo em comum. –A Luna respondeu. 
—Um amigo, filha? –Meu provável padrasto perguntou. 
—O Lipe, pai. –Ela disse. 
—Então já que os dois se conhecem, eu quero apresentar os dois. João, esse é o meu filho Gustavo. –Estendi a mão para ele e ele apertou com firmeza. 
—Prazer em conhecê-lo, rapaz. –Ele disse e me deu um tapinha nas costas. 
—Prazer é todo meu. –Disse sorrindo. Até que ele não parecia ser de todo mau, porém as aparências enganam. Vou ficar em cima desse cara. 
—Bom, então agora podemos pedir não é mesmo? –Minha mãe disse sorrindo. 
—Claro que sim. –O João concordou e chamou o garçom.
Fizemos nossos pedidos para almoço e começamos a jogar conversa para o ar. 
—Então, Gustavo... –O João começou a falar. 
—Me chama de Gael. –O interrompi. 
—Tudo bem, Gael. –Ele deu uma risadinha-. Você faz faculdade de Engenharia Mecânica não é mesmo? 
—Faço sim. –Respondi. 
—Apesar dele ser rebelde sabe. –Minha mãe falou rindo e puxou minha orelha-. Até que ele não é nada mau nos estudos. 
—Bobeira. –Ri sem graça. 

Continuamos a conversar e na maior parte da conversa a Luna estava quieta. Só falava quando citavam seu nome. Achei um pouco estranho, acho que ela ficou tímida com a minha presença. O nosso almoço chegou e a comida estava uma delícia. 

—Estou achando a Luna tão quieta. –Minha mãe falou a olhando. 
—Não é nada, só pensando um pouco. –A Luna disse. 
—Vive no mundo da Lua é? –Fiz um trocadilho e ela deu uma risada. 
—Um pouquinho. –Ela riu. Que sorriso lindo ela tem. Dei um sorriso pra ela e voltei a comer. 

O João e a minha mãe conversavam algo entre eles que eu não entendi nada, enfim, continuei a comer. Comer é bom pra caralho oxi. Resolvi puxar assunto com a Luna, já que não tinha muito o que fazer a não ser comer. 

—Por que seu nome é Luna? Luna de Lua mesmo? –Perguntei. Ela parou de olhar pra seu prato, bebeu um pouco do seu suco, fazendo uma careta engraçada e colocou o copo sobre a mesa. 
—Minha mãe estava em Media Luna quando descobriu que estava grávida de mim, então ela decidiu por esse nome. –Ela respondeu. 
—Onde fica isso? –Perguntei confuso. 
—Em Cuba, um lugar lindo por sinal. –O João respondeu por ela. 
—Falando em lugar lindo... –Minha mãe falou com aquele tom de que queria me convencer de alguma coisa. Rolei os olhos e olhei pra ela. 
—O que tem? –Perguntei. 
—Vamos fazer uma viagem nas férias, ai queremos saber se você vem com a gente. Vai ser muito divertido. –Ela disse-. E a Luna também vai.
—Eu já tenho meus planos pras férias. –Respondi e dei um sorriso pra não deixar ela sem graça. 
—Ah filho, por favor! É só uma semana. Depois eu não te perturbo mais, você pode ir pra onde quiser. –Ela tentou me convencer. 
—Se serve de consolo eu só estou indo porque não vou ver minha mãe nas férias. –A Luna disse rindo. 
—Ei! Pensei que gostasse de ficar comigo. –O pai dela a cutucou e riu. 
—Eu gosto né pai, mas Itália é Itália, il mio amore. –Ela disse rindo. 
—Pra onde mesmo? –Perguntei. 
—Búzios, vai ser só uma semana. Eu tenho uma casa lá e fica próximo à praia. –O João respondeu. 
—Vamos filho, vai ser tão legal, por favor. –Minha mãe insistiu e eu fiquei fazendo um exame de consciência. 

Era bom ver minha mãe feliz e empolgada com algo depois de anos, mas eu também não queria me desapegar do passado. Não queria recomeçar uma nova fase. Mas seria egoísta da minha parte negar felicidade a minha mãe. Lembrei dela chorando mais cedo na ligação e isso havia cortado meu coração. 

Nesse momento eu estava confiando no João. Apesar de ter minhas desconfianças enquanto a Luna, não gosto nada do jeito dela fazer a Maia sofrer, porém parece ser legal. Uma parte de mim estava preso ao meu pai e ao Henrique, outra parte de mim queria ir nessa viagem e ter um momento em família ou seja lá o que seja que isso está se tornando. 
Minha mãe estava feliz e o João também estava. Gostava do jeito que ele a tratava e como eles conversavam. Sabia que eles já saiam a bastante tempo, porém parece que agora as coisas são oficiais. 

—Tudo bem, quando viajamos? -Disse por fim.

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