44

30.5K 1.7K 195
                                    

Narração por Caio. 

Eu estava com a sensação de fracasso com a Luna. Eu não conseguia admitir que uma pessoa que eu considerava meu amigo pudesse ter feito tamanha sacanagem com a minha irmã. E ainda fui um idiota com o Gael, o culpei sem ao menos saber o motivo de suas atitudes. Teria que conversar com ele e tentar consertar a situação. 

Na segunda-feira, após ir almoçar no restaurante mesmo da empresa, voltei a sala na qual dividia com o meu pai. A Emilly havia voltado ao trabalho, porém notei que seu rosto estava estampado a tristeza, ela havia me agradecido por tudo que fiz no dia em que sua mãe morreu. Queria poder fazer algo que a motivasse, mas não a conhecia e nem sabia o que fazer. Por via das dúvidas, não fiz nada. 

Me concentrei no trabalho, estava assinando alguns papéis de liberação de verba e quando terminei chamei a Emilly. Ela entrou na sala e veio até a minha mesa. 

Emilly: Pois não chefe? 
Caio: Apenas Caio, por favor. –Respondi conferindo se assinei tudo certo-. Preciso que leve esses papéis na sala do Paulo Drummond. –Entreguei os papéis na mão dela. 
Emilly: Sim senhor. –Ela saiu andando, mas no meio do caminho a chamei e ela olhou para mim. 
Caio: Ei, como você está? 
Emilly: Bem na medida do possível. 
Caio: Qualquer coisa pode me procurar. 
Emilly: Obrigado. –Ela deu um meio sorriso e saiu da sala. 
João: Não flerte com a secretária. –Ele falou e me tacou uma bolinha de papel. 
Caio: Ei. –Ri reclamando-. Claro que não estou flertando, me preocupei com a situação dela. 
João: Sei bem... –Ele riu. 

Dei de ombros e voltei a me concentrar nas coisas que tinha que fazer. Também estava procurando umas casas aqui pelo RJ, não queria ficar até bem velho morando com o meu pai né.

No final do expediente, resolvi ir embora e meu pai ficou pra ver mais algumas coisas. Sai da empresa, peguei meu carro no estacionamento. O carro não era meu, era um dos carros do meu pai e eu estava o usando. Sai do estacionamento e peguei caminho para minha casa. Vi a Emilly parada no ponto sozinha. Como o ponto era do outro lado da pista, eu peguei o próximo retorno e parei o carro do lado do ponto.

Abaixei a janela do carro. Notei que a Emilly ficou desconfortável, com certeza ela achou que fosse algum tarado. 

Caio: Quer uma carona? 
Emilly: Ah... –Ela olhou para o carro e viu que era eu-. Não precisa. –Ela disse parecendo meio nervosa. 
Caio: Que nada, te levo em casa. 
Emilly: É longe. 
Caio: Eu lembro o caminho, entra. –Abri a porta e ela entrou. 
Emilly: Obrigado. –Ela sorriu sem graça. 
Caio: Não precisa agradecer. –Dei partida no carro e peguei o caminho que levaria pra casa dela. Ela parecia meio desconfortável com a situação, então tentei puxar um assunto-. Você tem quantos anos mesmo? 
Emilly: 18. 
Caio: Caramba, você ainda é mais nova que a minha irmã. 
Emilly: Sim, sou. –Ela sorriu tímida. 
Caio: E faz faculdade? 
Emilly: Ainda não terminei a escola, pretendo voltar. 
Caio: Ah. –Fiquei sem ter o que dizer, pelo visto ela teve muitas dificuldades na vida. 
Emilly: Pois é. 
Caio: Parou em qual série? 
Emilly: Parei no segundo ano, quando minha mãe... –Ela parou-. Descobriu que estava doente. 
Caio: Desculpa, não queria tocar no assunto. 
Emilly: Sem problemas. –Ela suspirou e ficou quieta. 
Depois de um tempo, chegamos a casa dela. 
Caio: Entregue.
Emilly: Muito obrigado. –Ela sorriu e saiu do carro. Esperei que ela entrasse em casa e dei partida. 

Cheguei à minha casa mais de 20 horas, coloquei o carro na garagem e entrei em casa. Meu pai estava vendo TV na sala junto com a Luna deitada com a cabeça no colo dele. 

Caio: Boa noite, família. Já jantaram? 
Luna: Claro né bebê, não tinha nem como te esperar. Tem comida pra você na geladeira, só esquentar. 
João: Você saiu primeiro do que eu e chegou só agora? 
Caio: É que tive uns imprevistos no caminho. –Ri e subi as escadas.

Se eu falasse o que tinha feito de fato, meu pai iria vir com aquele papo dele de mais cedo. Mania de ver coisa onde não tem eu hein. 

Fui para o meu quarto, tomei um banho, coloquei uma roupa de ficar em casa e fui jantar. Esquentei minha comida, coloquei um copo de suco e sentei na mesa da cozinha pra comer. 
Estava terminando de comer quando a Luna chegou na cozinha. 

Caio: Luna, senta. Quero conversar com você. 
Luna: Sobre? 
Caio: Hugo. –Ela me olhou estranho e sentou de frente para mim. 
Luna: Diz. –Terminei de mastigar a última garfada e olhei pra ela. 
Caio: Por que nunca me contou o que rolou entre vocês? 
Luna: Eu queria esquecer que havia sido tão estúpida. –Ela rolou os olhos. 
Caio: Luna, ele tentou te agarrar, poxa. Sabe o que foi mais humilhante? Foi ter que ouvir seu namorado gritar comigo e com toda razão. Ele fez o que fez com você e eu nunca percebi nada. 
Luna: Você iria me proteger de que? De ser otária? Caio, o Hugo ter passado na minha vida foi bom para eu aprender não confiar cegamente em ninguém. 
Caio: Mas isso marcou a sua vida? 
Luna: Muitas coisas marcaram a minha vida, umas eu prefiro esquecer como essa. E eu prefiro me lembrar apenas da primeira vez em que eu e o Gael fizemos sexo, essa sim foi a minha primeira vez. –Eu olhei para o lado sem graça e na minha mente já veio a cena dos dois fazendo sexo.
Caio: Talvez eu não quisesse saber que você e o Gael transam. Você é ainda uma garotinha. –Fiz careta, levantei da mesa e fui levar meu prato até a pia. Comecei lavar o que sujei. 
Luna: Você é meu irmãozão... –Ela me abraçou por trás e deu uns beijos na minhas costas toda fofa. Do mesmo jeitinho que ela fazia quando éramos mais novos-. Tem que saber que de 4 é a minha posição favorita e deixa o boy com uma visão muito favorável. –Ela caiu na gargalhada e me soltou. Enchi minha mão de água e taquei nela, só que ela desviou. 
Caio: Sai daqui Luna, vou falar tudo isso para o meu pai. 
Luna: Te amo. –A doida saiu correndo da cozinha rindo. 

Ninguém merece ter que ouvir sua irmã mais nova falando esse tipo de coisa, sinceramente. Terminei de lavar o que sujei e fui para o meu quarto. Peguei meu celular, fiquei mexendo e conversando com um pessoalzinho que havia feito amizade lá na Itália. Mais tarde já estava com sono, então eu fui dormir. 

Acordei com o meu despertador tocando, o desarmei e levantei da cama. Fui ao banheiro, tomei um banho e a empregada já havia deixado meu terno passado dentro do closet. Coloquei uma cueca e vesti minha roupa. Ajeitei meu cabelo, passei perfume, coloquei meu relógio, arrumei minha pasta e peguei meu celular. Vi que havia mensagem de um corretor de imóveis que entrei em contato ontem marcando uma visita a uma casa que havia gostado pra daqui a pouco. 

Sai do meu quarto, desci às escadas e fui para a sala de jantar. A Luna e meu pai tomavam café da manhã, só que a Luna estava com seu pijama ainda. 

Caio: Bom dia. 
João e Luna: Bom dia. –A Luna deu um sorrisinho safado e eu rolei os olhos. Claro que ela estava lembrando do que me disse ontem. 
Caio: Pai, eu tenho que resolver umas coisas na rua e vou chegar um pouco tarde no trabalho. 
Luna: Posso ir com você? Não tenho aula hoje. 
Caio: Pode. –Ela comemorou e saiu da mesa indo para o seu quarto.

MIL RAZÕES (F!)Onde histórias criam vida. Descubra agora