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Vestida com uma calça justa de couro, blusa branca e sem mangas, botas até o joelho e um colete trançado de couro, eu estava pronta para a patrulha.

Minha espada estava presa ao meu cinto, com sua empunhadura em ouro rosé antiga despontando.

Era uma espada linda. A lâmina dupla era simples e tinha apenas uma faixa com arabescos na parte chata. O punho de ouro era grosso e um pouco maior do que a maioria das espadas. As duas partes de ouro do final do punho lembravam vinhas e a espada era surpreendentemente mais leve do que deveria.

Meu escudo estava preso nas minhas costas e eu podia sentir minha trança batendo nele enquanto eu andava.

Estávamos indo para os estábulos,onde nossos cavalos esperavam.

Lembrei-me de nossa primeira aula de equitação. Eu tinha doze anos e nunca havia andado sozinha num cavalo.

Kalamhos nos fez correr pela floresta sem qualquer rédea até que conseguíssemos domar os cavalos sozinhas.

Depois disso, ele nos levou até os estábulos e encontramos dez jovens cavalos, que ainda pareciam estar em sua adolescência.

Eu instantaneamente me apaixonei pelo jovem corcel do meio, cujo comportamento selvagem mantinha as outras garotas longe.

Ele era lindo. Todo negro e com apenas o final das patas num degradê de branco até os cascos. Ele era selvagem, indomado e eu aceitara o desafio antes mesmo de qualquer garota se mexer.

Alguns anos depois, quando eu havia domado Telonius, Kalamhos me disse que levar aquele corcel até o celeiro, naquele dia, foi um teste. Um teste de coragem e determinação, no qual eu fui a única que obtive êxito.

As baias haviam sido recentemente reformadas para abrigar corcéis tão grandes.

Fui até a quarta baia da esquerda e Telonius me olhava com astúcia. Eu o escovei rapidamente e o selei.

Fui a penúltima a sair, na frente apenas de Eribeth.

Levei-me até o lado direito de Colima e de seu corcel marrom-chocolate. Ela não me olhou mas pareceu relaxar com a minha presença.

Antracia estava do outro lado dela, montada em seu cavalo branco como a neve, Himeneu.

Encontramos Kalamhos e seu corcel a alguns metros de distância e o seguimos até o final da propriedade real.

Então aceleramos para uma velocidade extremamente perigosa quando chegamos aos campos férteis.

Depois de longas horas de cavalgada sem fim e sem descanso, chegamos à fronteira no começo da tarde.

Pelas minhas contas, saímos às oito e meia e eram quase três horas quando chegamos ao acampamento militar de Kenora, na fronteira com Sazar.

Passamos de trotar a uma caminhada lenta. Kalamhos ia na frente, um pouco mais rápido que nós.

Já conheciamos o lugar. Íamos ali a cada quatro ou cinco meses desde os quatorze anos.

Todos os homens ali jamais nos olharam com cobiça ou superioridade, mas com respeito. Eles sabiam quem éramos desde a primeira vez em que pisamos ali.

Eles jamais se curvaram para nós e jamais pedimos que o fizessem. Nenhuma de nós era rainha ainda.

Eu fui a primeira a descer do cavalo quando as primeiras tendas começaram a se aproximar. Uma a uma, as outras me seguiram.

Quatro homens nos cumprimentaram rapidamente e levaram nossos corcéis.

Segui para o centro do acampamento, onde havia uma enorme fogueira apagada. A tenda atrás dela era três vezes maior que qualquer outra.

Passei minha cabeça pelo tecido e senti Antracia às minhas costas.

Kalamhos estava com um braço em torno dos ombros de Relow, seu velho amigo. Costumavam servir no mesmo batalhão juntos e lutar ombro a ombro.

"Minhas senhoras, é muito bom revê-las. Sejam novamente bem-vindas a Kenora. Já sabem onde ficam suas instalações. O jantar, como sempre, será no pôr do sol. Almoço quando o sol estiver no topo e café no amanhecer. Tem muito trabalho dessa vez. "

Colima riu. "Imagino. Só uma de nós vai voltar aqui novamente quando partirmos e estará usando uma coroa na cabeça. "

Relow riu. "É verdade, querida, é verdade. "

O velho coronel estava no meio dos cinquenta anos, provavelmente, e seus cabelos grisalhos tinham mais branco que cinza. Seus olhos eram profundos e amendoados. Eu sabia que havia uma cicatriz escondida em seu peito, que basicamente o dividia ao meio.

Começamos a nos virar quando Relow exclamou. "Ah, tenho uma surpresa para vocês no jantar. Não se atrasem. " Então nos dispensou com um gesto de mão.

Tínhamos duas rendas no acampamento, no lado leste da fogueira. Eram idênticas em tamanho e no interior.

Como sempre, eu, Colima e Antracia ficamos numa tenda e as outras ficaram em outra.

Nós sempre fomos mais próximas e as outras nunca reclamavam de ficarem juntas.

Sabíamos que éramos as mais frias e duras do grupo, mais insensíveis e egoístas, enquanto as outras ainda tinham humanidade, bondade e amor em si.

Deitei-me na cama de frente para a entrada, Colima no meio e Antracia na ponta oposta.

Na frente de cada cama havia um baú vazio onde podíamos guardar nossas coisas.

Eu havia levado minha espada, escudo e um conjunto de facas de caça e de luta comigo.

Deixei o escudo na tampa do baú e o estojo de facas debaixo do travesseiro.

"Vou para a cachoeira, se alguém quiser um banho. " Eu disse enquanto tirava as botas e as partes pesadas e desnecessárias da roupa.

Colima negou, dizendo que cuidaria disso mais tarde, mas Antracia me seguiu.

Fizemos nosso caminho até as árvores e viramos a placa de "em uso" para sinalizar que os homens não deveriam de aproximar.

Era uma ofensa séria ver uma mulher nua, ainda mais qualquer uma de nós sete, de forma proposital. Dependendo, era um castigo digno de açoite e até outras coisas mais sérias.

Deixei minha espada na beira, onde poderia pegar se precisasse. Antracia preferiu nadar com ela acima da cabeça e a posicionar acima de uma rocha.

A água estava fria e foi um alívio para meu corpo quente. Mergulhei e nadei um pouco antes de me encostar novamente na beirada. Antracia permaneceu a alguns metros de mim, boiando.

"Vai de lembrar de mim quando for rainha, Nay?" Ela perguntou.

Eu sorri para ela. "Já desistiu da coroa? Não achei que seria tão fácil. "

Ela suspirou mas havia um minúsculo sorriso em seus lábios. "Nós todas sabemos que você será coroada. É a melhor que todos já viram em décadas. " Ela engoliu em seco e se virou para esconder a intensa emoção em seus olhos. "Só não se esqueça de mim quando for coroada. "

"Tracy? Olhe para mim. " Eu pedi, me aproximando um pouco.

Ela o fez e eu vi que lágrimas marcavam seus olhos. Eu segurei sua mão.

"Eu prometo. " Sussurrei, selando um acordo com minha amiga.

A Ruína da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora