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Assim que alguém pisou na minha tenda, eu acordei. Num simples inclinar de pulso, peguei minha faca e sentei, apontando-a para o invasor.

Heyden xingou e levantou as duas mãos. Envergonhada, eu abaixei a faca.

"Bom dia para você também. " Ele riu e se sentou perto dos meus pés.

"Desculpe. "

Ele deu de ombros. "Você foi treinada para permanecer alerta mesmo dormindo, então não te culpo pelos seus instintos. " Ele examinou minha roupa--a mesma blusa de couro reforçado e a calça com uma perna cortada até a coxa--e os equipamentos à minha volta--o escudo perto da minha cabeça, a espada encostada nele, as ombreiras e braçadeiras espalhadas e a faca apoiada no colchonete--e riu. Simplesmente riu.

"Vamos arrumar roupas novas para você hoje, princesa guerreira. "

Eu dei de ombros mas realmente me sentia um pouco ridícula por estar usando toda aquela roupa reforçada enquanto ele e Collen usavam roupas simples. Heyden usava uma calça jeans clara, um pouco suja na barra, é uma camisa cinza com cordões pendurados. Usava tênis com solado ondulado, totalmente sujo de terra.

"Me diga uma coisa, princesa guerreira, se nada disso tivesse acontecido, você teria sido rainha?"

Eu tomei alguns segundos, pensando na resposta, avaliando todos os cenários possíveis.

Ele provavelmente achou que eu não responderia porque começou a se levantar e sair da tenda.

"Sim. Sim, eu teria sido rainha. "

Ele parou, com metade do corpo do lado de fora. Pareceu surpreso por um segundo, mas então sua expressão se dissolveu num sorriso.

"Então vamos, rainha guerreira. Precisamos começar a nos mover antes que a guarda nos ache. "

                                ⚔⚔⚔

Nos movemos sem direção aparente, apenas tentando abrir distância da arena e do castelo.

Sabia o quão rápida a guarda podia ser e seria pior se as campeãs se juntassem à busca. Ou a rainha, quem quer que fosse.

Minha perna machucada era um fator que nos atrasava mas nem Collen nem Heyden me deixaram forçá-la mais do que era necessário.

Andamos por horas sem descansar, quando ouvimos água corrente. Encontramos um córrego limpo e enchemos nossos cantis.

Enquanto descansávamos e bebíamos, tentei me lembrar do mapa de Vanalius.

"Provavelmente estamos próximos do lago Richter. Isso significa que há algumas cidades por perto, então talvez possamos arrumar alguma comida e roupas antes do anoitecer. "Eu disse enquanto brincava com a faca e o mapa improvisado que fizera na terra .

Eles ficaram alguns segundos em silêncio e levantei a cabeça quando não houve resposta. Eles se olhavam e tinham uma conversa silenciosa que me dizia que eles provavelmente estavam juntos há tempo o bastante para criar uma conexão.

Collen, então, se virou para mim. "Anaya, tem certeza de que não sente...Nenhum impulso? Nada que possa nos ajudar a chegar ao próximo cara do elemento?" Seu tom era cauteloso, como se falasse com uma besta prestes a dar o bote.

Eu sentia. Era leve mas estava ali, quase como uma intuição. Eu sabia que podia começar a seguir aquela linha imaginária que minha mente formava.

Dei de ombros para não lhes dar esperança. "Vamos ao vilarejo e depois seguimos esse...Impulso. "

Ambos concordaram e andamos durante uns vinte minutos antes de ver os telhados pontilhados de musgos das casas.

Para minha surpresa os dois eram ótimos ladrões e pediram para que eu e minha perna ferida ficassemos para trás.

Eles voltaram depois de dez minutos, com Collen trazendo roupas para mim e Heyden trazendo a comida.

As roupas eram simples também. Nada que pudesse ser facilmente lembrado, dissera Collen.

A calça bege era um pouco justa e ia até a metade da canela. Era cheia de bolsos e compartimentos e eu adorei aquilo. Os tênis eram confortáveis e combinavam com a blusa regata branca. Ele trouxe também um casaco para caso eu ficasse com frio.

Nos afastamos do vilarejo e, no caminho, roubei um mapa de um comerciante local.

Usei a faca para marcar onde provavelmente estávamos e onde a arena deveria estar, perto do Castelo de Ourel marcado no mapa.

Confiando em mim para guiar, os dois permaneceram ao meu lado e não tentaram aumentar o ritmo.

Com a blusa regata eu percebia que eu estava cheia de pequenos cortes e hematomas pelo corpo todo. Cicatrizes pontilhavam meus braços, pescoço, costas e basicamente cada canto do meu corpo.

Heyden contou como era sua vida antes. Ele era caçador de Tonakai, em Sazar, e vivia para isso. Perdeu ambos os pais cedo, para meningite, e foi criado até os quatorze anos por um vizinho lenhador que vivia na floresta. Aprendeu a caçar sozinho porque era encarregado de levar comida para casa. Assim que completou quinze anos, partiu para morar numa​ pequena cabana na floresta, escondida do mundo.

Heyden tinha vinte e um agora, enquanto Collen tinha vinte e dois. Heyden tinha feito aniversário no começo do ano e Collen faria no meio de novembro, três meses depois de mim.

"Sempre foi estranho caçar. Era... Fácil demais. Mesmo no inverno. Eu parecia ter uma percepção de onde estavam os animais e como achá-los. Talvez seja parte da magia, talvez seja só um instinto adquirido pelos anos na floresta. " Heyden disse, continuando sua história.

E eu contei a minha depois, na versão completa e cheia de detalhes.

Nós estávamos há menos de um dia juntos e já havia uma conexão palpável entre nós.

Descobri que eles estavam juntos há quase um mês, que foi esse tempo que demoraram para me achar.

Conversamos todo o caminho e quando o sol começou a descer, paramos na borda de uma clareira para montar acampamento. 

A Ruína da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora