5

3.3K 538 69
                                    

Relow dissera para não nos atrasarmos mas ele mesmo estava atrasado.

Eu estava sentada perto, talvez perto demais, da fogueira. Mas era como se meus ossos ganhassem vida e o cansaço fosse embora quando eu estava perto do fogo.

Era lindo e perigoso. As labaredas lambiam o ar acima de nossas cabeças  e subia crepitando e chiando, ardendo e queimando. Era selvagem e rico e indomável.

Eu estava completamente apaixonada pelo fogo quando Relow chegou batendo palmas.

"Boa noite a todos. Hoje recebemos mais uma visita ilustre de nossas campeãs. Entre nós, está nossa futura rainha. "Ele disse e todos aplaudiram.

Colima, ao meu lado direito, apertou meu braço. Eu sabia que ela estava tão preocupada quando eu mas nós não podíamos demonstrar.

"E, como um presente para nossas queridas convidadas, dou-lhes a honra..."Ele fez uma pausa dramática e acenou freneticamente com a mão.

Dois homens entraram puxando uma mulher com um saco na cabeça. Ela usava um vestido pútrido, rasgado e esfarrapado, estava descalça e lutava para se livrar do aperto deles.

Eles a puseram ajoelhada na nossa frente e eu vi seus pulsos esfolados pelas amarras. Sua pele estava manchada com cinzas de fogueira e sujeira. Seus cabelos pretos apareciam por baixo do saco. Ela estava magra, julgando a partir de seus braços lânguidos.

Relow puxou o saco de sua cabeça e ela olhou diretamente para nós.

Seu cabelo preto cacheado contrastava com sua pele extremamente branca. Seus olhos eram azuis e claros como o céu. Sua bochechas estavam pronunciadas e a boca estreita estava rachada e machucada.

"De matar uma bruxa." Relow sorriu triunfante.

Meus instintos gritaram enquanto eu tirava minha espada da bainha e ficava de pé. Colima ao meu lado entrou em formação de batalha e as outras a seguiram. Eribeth sibilou de nojo.

Todas nós apontavamos as espadas para a mulher de joelhos a três metros de nós.

Meu nojo tomou conta e eu encarei uma representante da raça mais odiada em nosso reino: possuidores de magia.

Ela simplesmente inclinou a cabeça para nós e nos estudou com curiosidade.

"Matem-na. A vida dela é um presente para minhas rainhas. "Relow disse e Kalamhos parecia exultante atrás dele.

A bruxa olhou para nós, sem qualquer emoção nos olhos além da curiosidade. "Não precisam fazer isso. Eu não sou sua inimiga. Vocês não me conhecem. Meu nome é Juno. "

Ela claramente tentava erguer as mãos, num sinal de apaziguamento, mas as amarras a impediam.

"O que você faz?" Deiopeia peguntou, medo claramente presente em sua voz. Olhei para ela e vi que sua espada tremia no ar.

"Eu faço as plantas crescerem. Dou vida aos jardins e crio meus pássaros. Eu não sou sua inimiga. Sou uma jardineira. " Ela repetiu.

"Vocês estão perdendo tempo. "Kalamhos repreendeu. "Acabem logo com isso. "

Mas nenhuma de nós de mexeu. Embora eu fosse ser a próxima rainha, não conseguia andar e fiquei ali, com a espada no ar, o corpo tenso e a respiração curta.

As outras pareciam paralisadas como eu.

A primeira a se mexer foi Antracia. Ela fechou a mão em punho ao lado do corpo e se agarrou à espada, com punho em forma de dragão marinho.

Juno a olhou firmemente nos olhos e sequer piscou quando Antracia levantou sua espada e decepou sua cabeça.

A cabeça caiu com um estampido na grama e rolou um pouco até parar, com o rosto para baixo.

Antracia tremia visivelmente e eu achei que ela fosse surtar. Embora não tivesse, ela voltou para seu lugar e tremeu em silêncio ali.

O clima ficou pesado para todos nós e a pouca conversa vinha dos homens na extremidade. Nenhuma das mulheres conversou.

Comi meu peru que parecia ter gosto de cinzas e meus legumes que pareciam isopor.

Minha língua estava grossa e pesada e eu me sentia exausta.

Voltei para a tenda cedo, como a maioria, e me enrolei nos lençóis.

Colima deixou a tenda resmungando sobre a cachoeira e Antracia também se deitou.

Eu deixei o silêncio reinar por alguns minutos, até ouvir os soluços de Antracia.

Fui até sua cama e a abracei. Ela de agarrou a mim e eu deixei ela soluçar no meu ombro, contra minha pele nua.

Ela tremeu e tremeu durantes longos minutos até que parou e soluçou. Quando tive certeza de que ela estava estável, voltei para minha cama.

Ouvi a respiração dela se normalizar depois de alguns minutos e enquanto esperava Colima voltar, pensei nas palavras da bruxa.

Eu não sou sua inimiga.

E por alguma razão, eu acreditei.

A Ruína da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora