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Demorou onze horas. Em um ritmo extremamente rápido, parando apenas para alimentar os cavalos e limpar os ferimentos de Heyden, conseguimos chegar à pequena cidade de Phelom, quase na fronteira com Sazar.

Eu não sabia se eles ainda moravam ali, mas eu só podia torcer para que sim. Guiei-nos até uma das extremidades da praça principal, pela rua de terra, até chegarmos a uma pequena fazenda.

Bois, vacas, galinhas, porcos, ovelhas, cavalos e cabras pontilhavam a frente da fazenda.

Eu segui para a entrada da casa de tamanho médio de dois andares. Um homem estava na varanda, fumando um cachimbo e balançando numa cadeira, lendo um livro.

Meu coração deu um pulo e se apertou. Provavelmente nos ouvindo, ele levantou a cabeça e eu me esqueci de todo o resto.

Ele tinha cabelos encaracolados e grisalhos, uma barba por fazer e olhos castanhos. Era alto e magro, de mãos grandes, usava uma camisa xadrez e calças jeans, mesmo no verão.

Parei meu cavalo e desci da sela. Caminhei até ele, incapaz de desviar o olhar e sequer respirar.

Me perguntei se ele saberia quem eu era, se lembrava-se de mim.

Parei a pouco mais de dois metros, no primeiro degrau da varanda. Ele fechou o livro e tirou os óculos, me examinando.

Prendi a respiração e sustentei seu olhar.

O homem franziu o cenho. "Posso ajudar?" Sua voz hesitava e ele estava claramente em dúvida.

"Não sei se você se lembra de mim..."Eu comecei. "Mas eu me lembro de você. Está um pouco mais grisalho do que eu imaginava."

Seus olhos se arregalaram e ele pulou da cadeira, me prendendo em seus braços num abraço forte e quente no qual eu me permiti afundar.

"Você está viva. "Ele murmurava como uma oração ao meu ouvido.

"Terah! Terah. " Ele gritou e depois de alguns segundos, uma mulher surgiu na porta.

Seus cabelos escuros estavam presos num coque, os olhos azuis escuros como os meus brilhavam na luz do sol. Ela usava um vestido branco e enxugava a mão num avental azul.

"Pare com essa gritaria. Vai assustar os animais. "Terah disse.

Então ela estacou ao me ver nos braços do marido. Sua boca abriu e os olhos marejaram.

Ela correu e me colocou em seus braços finos, me apertando com o máximo de força que conseguia.

"Anaya. Me diga que é você e não mais um dos meus sonhos." Ela pediu enquanto beijava minhas bochechas.

Então eu me lembrei de Heyden e da urgência que tínhamos.

Segurei suas mãos e a afastei. Lágrimas caíam por seu rosto em finos fios. "Mãe, eu preciso da sua ajuda. Meu amigo foi ferido e pode morrer sem sua ajuda. "

Ela olhou por cima do meu ombro, para os três cavalos e as três pessoas sobre eles. E para Heyden sobre o colo de Collen.

"Traga ele para dentro e ajude seu pai com os cavalos. Farei o que puder. " Ela ficou séria, voltando a ser a enfermeira que um dia fora.

Collen colocou Heyden sobre o ombro e carregou-o para dentro, seguido de Brea e Thierry.

Com um cavalo em cada mão, eu e meu pai os levamos para as baias.

"Anaya, por que você monta um cavalo com o brasão de Sazar?" Ele perguntou.

Suspirei. "É uma longa história. Vamos entrar e eu conto tudo para vocês, começando de quando parti."

Meu pai passou o braço pelos meus ombros e me guiou de volta para a casa.

Minha mãe trabalhava num Heyden se camisa e deitado de barriga para baixo na mesa da cozinha. Três buracos de aparência suja e mortal pontilhavam as costas dele, uma no ombro, uma do lado direito, no final do pulmão, e outra onde deveria estar o diafragma.

"Ele perdeu muito sangue. Precisaria de uma transfusão mas não sei seu tipo sanguíneo. Há também uma pequena hemorragia interna que eu posso parar sem precisar de uma cirurgia. Mas, no geral, ele teve muita sorte. "Minha mãe disse.

Minha garganta se fechou. Ele estava naquela situação por minha culpa. Ele me derrubou do cavalo e usou seu corpo para me proteger.

Estendi o braço para minha mãe. "Se tiver tudo que precisa aqui, pode fazer a transfusão. Eu sou doadora universal. "

Ele deu algumas instruções para meu pai de onde estavam​ suas coisas médicas e ele subiu para pegar.

Enquanto meu sangue era transferido para Heyden, lhes contei a história toda. Desde meu treinamento até os caçadores em Sazar.

Para provar, cada um de nós fez uma pequena demonstração. Eu acendi o fogão com meio pensamento, Collen fez jorrar água da torneira, mesmo com o registro fechado, Thierry fez soprar uma forte brisa que balançou os cabelos de minha mãe e Brea ergueu a cadeira de meu pai do chão.

Quando todos nós acabamos, eu me virei para eles, séria.

"Vocês agora tem consciência de quem sua filha se tornou e dos riscos de tê-la em sua casa. É escolha de vocês nos acolher e vamos embora imediatamente se preferirem não correr riscos. "

A Ruína da RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora