Pedro

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Pedro:

Titi me parou à porta do colégio. Fechei meu livro e tirei os fones. Já na porta eu vi um monte de gatinhas. Claro que eu podia escolher, mas isso me faz querer ser mais exigente ainda para não acabar atraindo garotas interesseiras.

Pensei que se chegasse mais tarde, as pessoas já teriam desistido e eu poderia entrar calmamente para a sala de aula. Graças a Deus que o Instituto da Criança e do Adolescente proíbe os paparazzi de entrar nos colégios para perseguir famosos teens.

Entrei escoltado por Titi  e mais dois seguranças. As pessoas foram bem colaborativas. Ninguém tentou me assediar, nem me pediu para tirar fotos. Na boa, se fosse em um show ou em outro evento, eu pararia e daria atenção aos meus fãs, mas o colégio é outra coisa. Até minha mãe diz: “Pedrinho, é até bom você mostrar ao público que no colégio, seu foco é o estudo. A mídia adora famosos cultos”.

Entrei no colégio, era bonito, grande e os professores me cumprimentaram na entrada. Achei melhor ir logo para a sala. Informei-me de onde ficava e pedi para meus seguranças para que já retornassem para casa. Eu já podia agir como um adolescente normal a partir dalí.

Peguei um elevador quase vazio, a não ser por um garoto dois anos mais novo que eu e a quem eu conhecia muito bem.

- Fala aê, Pedrão. Cê veio mesmo, hein?

- Não te falei? Ou eu vinha estudar aqui, ou minha mãe cortava minha cabeça fora. Sabe como são as mães, né?

Era Gustavo Arrais, filho de um jogador de futebol amigo do meu pai. Gustavo e eu éramos amigos.

Ele saiu no quarto andar e eu segui para o quinto.

Parei de frente para a sala. Não conhecia ninguém, mas, obviamente, todos me conheciam. Todos me olhariam como se eu tivesse vindo de outro planeta, então eu ficaria com vergonha e iria seguir para uma carteira vazia.

Foi o que aconteceu. Eu entrei na sala, todos se calaram. Alguns rostos eram conhecidos, acho que já os havia visto em eventos. Acho que minhas bochechas ficaram vermelhas. Fui para uma carteira vazia em um canto. As conversas retomaram, olhei para um lugar no outro lado onde uma menina tinha o cabelo rosa. Se eu pedisse para minha mãe para tingir uma só mecha do meu cabelo, ela diria que se eu fizesse, ela o rasparia. A menina conversava com uma garota que já tinha visto em algum jornal, eu acho.

Algumas meninas vieram para perto de mim.

- Oi, eu sou Clarissa. É um prazer enorme conhecer você, Pedro. Somos suas fãs- ela apontou para ela e para as amigas.

Uma delas era Jéssica, uma modelo com quem posei uma vez, a outra era Alessandra, sua mãe sempre tocava nas minhas festas.

- Oi, meninas. O prazer é todo meu- respondi.- E aí, Alê- falei, ela me respondeu com um sorriso e um gesto.

As outras meninas olharam para Alessandra de modo estranho.

- Deve lembrar de mim, não é, Pedro?- Jéssica perguntou.

Eu ri. Era claro que eu lembrava, as amigas dela me disseram que ela achava que estava gostando de mim. Eu havia conhecido a menina fazia três horas.

- Claro. Não se pode esquecer um rosto bonito desses- falei.

Se há uma coisa que eu aprendi com meu pai, é que homens devem falar o que acham que as garotas querem ouvir. Garotas gostam de elogios, então, nem sempre que um garoto elogia ou diz coisas “fofas”, é porque ELE quer.

Jéssica estava corada.

- Esperamos que você possa vir para a festa de boas vindas do colégio. Se não for pouco para o grande Pedro- Alê falou brincando.

- Festa? Com professores?

- Não- ela falou.- Até parece que os professores querem segurar vela para os alunos. Eles ficam em um canto e nós ficamos no resto. Só uma festinha para receber os alunos novos. Sempre é o terceiro ano que organiza. Este ano vai ser a melhor do século. Convenci minha mãe a fazer uns remix para eu trazer e nós vamos usar a Callado para organizar a festa. Ela é assistente da mãe, o que significa que a festa vai ser bafonica.

- Claro, né amor?- Clarissa falou.- Eu também vou estar ajudando.

O professor entrou. Era aula de física. Ou seja: para mim, era aula de mandarim.

No intervalo, eu estava indo para o pátio com Alê e suas amigas, todos saiam da sala. Imaginei que devia rolar zoeira no recreio daqui. Uma menina, a mesma que conversava com a de cabelo rosa, estava deitada na mesa, com a cabeça entre os braços. Pensei: Essa aí não deve ser uma dessas antisociais que nunca saem da sala.

Cantos Livres- Ele É Uma Estrela Do RockOnde histórias criam vida. Descubra agora