Pedro

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Eu nunca mais havia pego no violão por prazer. Dessa vez eu peguei. Já estava marcado. Começaríamos uma semana antes do lançamento do meu novo CD.

Passamos algumas semanas como bons amigos. Helena era realmente uma maluquinha. Todos os dias ela chegava com uma novidade, nunca encontrava malícia em nada (bem... Quase nada). Era explosiva, as vezes. Sempre na brincadeira, lógico.

Ítalo e Megan começaram a namorar e por isso eu e ela passamos um bom tempo juntos.

Uma semana antes da festa de lançamento, eu havia acabado de chegar ao colégio e passei direto da porta da sala para ir cumprimentar um amigo do outro lado. Com alguns passos sinto algo pesado nas minhas costas.

Na verdade não era pesado, mas fora jogado com muita força e nenhuma piedade.

Helena estava com um pé no tênis e o outro com a meia cinza de fora. Ela descalçou um pé e jogou o sapato em direção às minhas costas.

- TU TÁ FICANDO DOIDO?- Ela gritou com uma brincadeira disfarçada de raiva- COMO É QUE TU PASSA DIRETO POR MIM E NÃO FALA NEM “OI”?

Eu a agarrei pelos dois braços, prendendo-a ao próprio corpo.

- Desculpa, Lena. Não te vi. Eu juro.

- Eu sei... Tá bom que eu acredito.

- É sério. Eu juro- falei já rindo.

Ela não aguentou minha risada e riu também. Parecia lutar para não rir, mas ficava mais gozada.

Entramos na sala.

Passamos todos os horários rindo desconfiadamente pelo que faríamos pela tarde.

Quando a aula terminou, corremos para o lado oposto ao que todos iriam. Descemos pela escada dos funcionários e ficamos no armário de vassouras.

- Tem certeza?- ela perguntou- Não quero que seus pais pensem que sou má influência para você.

Eu ri ironicamente.

- Você só tem as informações. Eu promovi o crime.

Saímos pela porta dos fundos. Mandei uma mensagem para minha mãe: “Chego pela noite”.

Pegamos um táxi e Helena lhe entregou um papel para que ele seguisse para o endereço anotado.

Ele me olhou pelo retrovisor. Pareceu ficar perplexo.

- Oh, Sr. Pedro Williams. Minha filha é louca pelo senhor. Pode tirar uma foto comigo para eu levar para ela?

Era a deixa que eu precisava.

- Faço até um vídeo mandando beijos e abraços para ela se o senhor não contar a ninguém o lugar para onde estamos indo.

Chegamos à orla de uma floresta. Fiz um vídeo dizendo “Olá, Elisa Oliveira Rodrigues. Eu soube que você é minha fã. Agradeço seu carinho. Um grande beijo e um forte abraço para você, linda”.

Paguei a corrida e entramos na floresta.

- Não se preocupe- ela falou.- Eu conheço o caminho. Não é perigoso. Aqui é um parque de pesquisa de um amigo da minha mãe. Ele sabe que venho aqui de vez em quando, mas não conta para ela.

Ela me guiou até uma parte onde várias árvores juntas formavam um círculo bem fechado. Não dava para ver nada dentro. Não era grande, mas também não era tão pequeno. Caberia uma pessoa deitada no seu centro. Entramos por uma pequena abertura pela qual tivemos de nos esmagar.

Era magnífica. Acima havia uma clareira. Dava para ver o céu de uma forma ainda mais bonita do que se via de fora dali.

- Destino número um- ela disse- círculo de paz.

- E qual a vantagem?

- É uma contradição. Você se sente preso. Sufocado. Aí você se prende literalmente, com aqui. Você entra em um lugar apertado, porém, você agora tem paz. É como ter a solução dentro do problema.

Eu a olhei. Seu rosto moreno cor-de-cajú refletindo a fraca luz do sol que entrava ali. Senti vontade de abraça-la.

Ela esticou um pano no chão e deitou. Eu deitei-me ao seu lado. Havia uma garrafa de chá ao nosso lado e uma cesta de chocolate e salgados, mas eu não queria nada senão deitar e ficar ali. Parado, os olhos fechados. Uma sensação de relaxamento que não sentia fazia tempos.

Cantos Livres- Ele É Uma Estrela Do RockOnde histórias criam vida. Descubra agora