Capítulo 13 - Jessy

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Sempre me perguntei qual seria a minha reação se algum dia encontrasse meu pai. Várias sensações passam pela minha cabeça, mas medo não é uma delas. Revolta, ódio e asco. Chego até aqui com a intenção de perguntar sobre o paradeiro da minha mãe, mas agora além disso vou mostrar a ele que não se toca no que eu amo, nem que para isso eu tenha que voar no pescoço dele. Entro pela forte e enorme porta de madeira, a cada segundo que passa a minha respiração vai ficando mais pesada, meu coração parece que vai sair pela boca, estou começando a desfrutar dos efeitos da adrenalina, vou precisar bastante dela para o que eu tenho em mente.

Na sala as paredes são brancas como a neve, o teto é decorado com um lustre de cristal e detalhes dourados, o tapete cor marfim é tão macio que os meus pés afundam. Estou distraída com a decoração quando percebo que todos os seguranças se enfileram e fazem um corredor em frente a uma outra porta do lado oposto da sala. Ao adentrar me deparo com mais dez seguranças fortemente armados. Fico ali por um tempo sem entender o que está acontecendo, até que um deles diz:

- Soldados, preparem-se para a entrada do chefe.

Que palhaçada!

- Vocês tem ideia do quanto estão sendo ridículos, certo? - Falo olhando para cada um deles e sorrindo. Eles preferem agir como se não me ouvisse, então eu continuo:

- Sabe, eu tive um pouco de medo quando saí de casa, com medo do que iria encontrar. Se eu soubesse que eu ia ficar cercada por um monte de maricas chupadores das bolas do meu pai eu teria vindo antes matar aquele desgraçado, com certeza. - Eu mal respiro a última palavra quando uma arma é colocada na minha fronte. Me viro na direção do homem que segura a arma contra a minha cabeça e guio a ponta da arma até o meio da minha testa. Se eles acham que vão me intimidar estão muito enganados, só saio daqui quando tiver notícias da minha mãe ou morta, tomara que seja a primeira opção.

O homem me olha como se eu fosse louca, mas rapidamente ele endurece o olhar e eu só consigo ver escuridão dentro dele. Ele é lindo, alto, ruivo, os olhos tão negros que o faz parecer um vampiro, a barba curta e ruiva o faz parecer uma pessoa simpática, mas seus olhos dizem o contrário, eles dizem "morte''. Não vou voltar atrás agora, vou fazer o que eu sei de melhor, roubar o juízo das pessoas, se é que ele tem isso.

- Vai atirar bonitão?

- Você está cometendo um grande erro! Se fosse outra pessoa, já estaria morta com seu cérebro espalhado por esse tapete. - Ele aperta ainda mais a arma contra a minha cabeça.

- Muita palavras e pouca ação - Levanto uma sobrancelha e sorrio de lado. Os outros homens assistem o duelo sem ao menos piscar os olhos.

Ah merda, acho que eu o irritei de verdade!

Ele destrava a arma...

- Matteo, abaixe essa arma! Vejo que já conheceram a minha menina.

Fico paralisada ao ouvir aquela voz forte e autoritária. Eu estou de costas, mas posso sentir o seu olhar me perfurando e enviando comandos silenciosos para que eu me vire. Respiro fundo e lentamente olho na sua direção. O ar se prende na minha garganta quando consigo ver seu rosto por completo. Eu sou a cópia desse desgraçado!

Ele tem cabelos grisalhos, mas dá para perceber que já foram castanhos como os meus. Nossos olhos são da mesma cor, meus lábios parecem com os dele, meu nariz, simplesmente tudo. Eu pensei que ele fosse ser um completo estranho para mim, mas todas as vezes que eu me olhei no espelho nesses dezoito anos, era ele quem eu via.

Ele desvia o olhar, mas não antes de eu ver um lampejo de dor passando por eles, mesmo que rapidamente.

Eu não posso ter pena desse homem agora, ele tem que saber onde a minha mãe está e custe o que custar eu vou descobrir. Agora eu só consigo lamentar por ter usado a minha mão esquerda na cara do Gustavo, ela seria muito útil para mim agora, pena que está fodida. Tirando forças eu nem sei de onde, vou correndo em sua direção, me jogo para agarrar seu pescoço com as duas mãos, mas braços fortes me agarram por trás. Ensandecida, tento me livrar dos seus capangas, mas toda tentativa é inútil. Olho para ele e com os dentes cerrados falo:

- Não consegue se defender de uma garota sem as suas marionetes? Você é mesmo asqueroso. Eu não me importo com a sua "suprema'' vontade, isso você pode enrolar e enfiar no seu rabo. Estou aqui para saber da minha mãe e só saio daqui com ela, ou morta, mas não antes de levar você para o inferno junto comigo. - Ele analisa meu rosto. Apenas com um aceno manda que os homens me soltem. Olhando para o ruivo, diz:

- Matteo, mostre a senhorita Jéssica seus aposentos. - Ele simplesmente vira para a porta por onde entrou e sai.

Vou ficar aqui o tempo que for necessário para trazer a minha mãe de volta. Se ele pensa que eu vou baixar a guarda está equivocado. Aguarde e verá Sr. Velatti!

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