Capítulo 15 - Jessy

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Acho que hoje eu rompi alguns limites, mas agora também é tarde para voltar e também se eu tivesse uma nova chance não faria diferente.

Matteo me deixou aqui trancada nesse quarto de hóspede dos infernos. Não que aqui seja feio, o quarto é maravilhoso, as cores são extravagantes, porém, elegantes. As paredes cor de marfim, a decoração é vermelho com dourado, uma cama com dossel e lençóis de seda enfeita o centro do quarto. As janelas estão trancadas, a porta também. Me sinto como um passarinho preso em uma gaiola, mas isso não vai durar muito tempo, tenho pressa em saber para onde aquele velho do Sr. Velatti levou a minha mãe. Ao menos eles não pegaram o meu celular, eu não sou idiota o bastante para pensar que chamar a polícia vai adiantar alguma coisa, ainda mais aqui no Rio de Janeiro, onde a maioria dos policiais se vendem por menos de uma puta. Estou sozinha nessa e acho que já é hora de eu liberar esse lado escuro que há em mim, pois eu posso abrir mão da minha vida, mas perder a minha mãe não é negociável.

Ligo o celular com impaciência, eu não tenho escolha, não temos família, amigos, nada desse tipo, eu não tenho a quem pedir socorro. Minha única opção é falar com aquele velho nojento novamente. A missão mais difícil vai ser me controlar e não voar em cima dele novamente. No celular eu abro meus contatos, seleciono o número do meu pai e envio um sms:

"Precisamos conversar. Venha sozinho.''📲

Não sei dizer quanto tempo estou aqui deitada no tapete olhando para o teto. Parece uma eternidade quando eu ouço passos no corredor e uma leve batida na porta do meu quarto.

- Posso entrar?

- Se estiver sem as suas bonequinhas você pode.

Ele me analisa da porta por um instante, entra cabisbaixo e volta a trancar a porta pelo lado de dentro.

- Jessy...

- Isso não é um encontro de família, te chamei aqui porque quero respostas. Para onde você levou a minha mãe?

Sinto o meu rosto pegar fogo de tanto ódio. Ele se senta na beira da cama e coça a cabeça. A primeira vista nem parece o criminoso porco que ele é.

- Eu não estou com ela filha...

- Não brinque comigo caralho! Me fala logo, onde ela está?

- Tem coisas que você ainda não sabe, e eu preciso que você me dê a chance de explicar.

- Explicar o que exatamente? Ah, sim. Quer me explicar como você é tão podre que a minha mãe teve que fugir de você por anos, ou explicar o imenso amor de pai que faz você me manter aqui presa e ainda quer que eu assuma seus "negócios''. Quer me explicar tudo isso querido papai?

Ele parece se irritar como meu sarcasmo e levanta com fúria levando as mãos a cabeça.

- É tudo bem mais complexo do que imagina! Não se trata de querer. Eu não tenho opção!

- O Poderoso Sr. Velatti sem opção. Essa é boa, mas você tem que me contar uma história mais convincente que isso.

Eu ando pelo quarto e me sento na cadeira de balanço no lado esquerdo da cama. Peço para que ele se sente na cama. Eu vou tentar me acalmar. Preciso das respostas que me assolam desde que a minha mãe me contou que meu pai esteve nos procurando. Com um aceno de cabeça eu peço que continue a falar.

- Eu não fui sempre esse criminoso que você despreza. Eu tive uma criação rígida e nosso dever maior era acatar as decisões de nossos pais mesmo sem concordar com elas. Com 16 anos eu fui intimado a ficar noivo de Clarisse Martinez, filha do atual chefe da máfia espanhola na época. O casamento estava marcado para o ano seguinte, só que nesse período eu conheci Samanta, a sua mãe. Ficamos amigos no colegial e eu imediatamente me apaixonei por ela. Estávamos juntos há 4 meses quando ela me contou que estava grávida, mas em pouco tempo eu teria que me casar ou a máfia mataria eu e a sua mãe. Eu reagi de uma forma estúpida quando ela me contou da gravidez, agi como um jovem inconsequente e sugeri que ela tirasse a criança. Depois desse dia eu nunca mais tive notícias, sempre que aparecia alguma pista vocês sumiam como fumaça.

A medida que a história vai se desenrolando eu me encolho mais na cadeira. Interrompendo-o pergunto:

- Até aí eu entendi, mas o que faz você querer me colocar nesse mundo obscuro dos seus "negócios''?

- A Phoenix foi fundada pelo meu bisavô e foi passando de geração em geração. A facção tem uma regra que obriga passarmos os "negócios'' para os filhos quando completam a maior idade. Se essa regra for descumprida, tem assassinos preparados no mundo inteiro para matar os traidores. Se você Jessy, não assumir o comando e descumprir as regras, você será morta. Eu dou a minha vida pela sua, mas isso está fora do meu controle. Eu nunca daria a ordem para a sua execução, mas tenho inimigos prontos para isso.

Puta que o pariu! A merda é mais fedida do que eu pensava. Estou confusa, não sei se consigo pensar com clareza, mas preciso fazer mais uma pergunta.

- Você sabe onde a minha mãe está? Ela corre perigo?

- Jessy, sua mãe foi pega como garantia de que eu vou cumprir as regras. Para trazer ela de volta eu preciso da sua colaboração. Vou sair e deixar você digerir isso tudo, quando tomar uma decisão sabe onde me encontrar. A porta ficará aberta, faça a sua escolha.

Quando ele saiu eu me deitei na cama e chorei por horas até adormecer.

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