Herdeira Da Maldição

Capítulo 17 - Jessy

Me sinto anestesiada...

Eu acordei e não mais como uma menina, o peso da vida acaba de me transformar. Eu não sei em que tipo de ser eu me tornei, só quero a minha mãe de volta e poder ser livre como eu sempre sonhei, infelizmente para que isso aconteça eu preciso carregar a minha cruz e se essa cruz for me tornar uma criminosa, que seja, as privações da minha mãe não são em vão e eu não vou entregar os pontos agora.

Estou me sentindo fria, desconheço qualquer tipo de sentimento e assim vou seguir até encontrar meu coração novamente, o levaram junto com a minha mãe e eu estou mais do que disposta a recuperá-lo, custe o que custar.

Vou até o closet procurar algo para vestir, parece que Robert tinha tudo planejado e sabia que eu viria até ele, os cabides estão cheios de todos os tipos de roupas e artigos femininos que se pode imaginar. Pego uma calça de couro preta, uma camiseta preta e um colete de couro da mesma cor, assim que eu quero me sentir agora, escuridão por dentro e escuridão por fora.

Entro no banheiro e solto um suspiro quando vejo uma enorme banheira de hidromassagem, sem pensar duas vezes preparo o meu banho com sais aromáticos de lavanda e me deito na banheira para relaxar. Fico submersa por um tempo, sei que não devo ficar muito tempo aqui no banheiro por mais aconchegante que seja. Levanto rapidamente pegando uma toalha dobrada em um armarinho ao lado da banheira e me seco com pressa, enxugo meus cabelos e volto para o luxuoso quarto para me vestir, terminando com as roupas pego uma bota preta cano longo que cobre até os joelhos. Olho o meu reflexo no enorme espelho que fica na parede oposta da cama e me sinto quase pronta, ainda falta algo. Volto para o banheiro e acho um estojo de maquiagem dentro da gaveta do armarinho, com o lápis preto para os olhos em mãos volto para o quarto e termino de me arrumar passando uma forte camada de lápis nos olhos destacando-os, dou uma batida nos cabelos e me sinto pronta para encarar o hospício.

Descendo as escadas eu estranho o tamanho silêncio para uma casa tão cheia de homens, impressionante como até o corrimão e a beirada dos degraus são cor de ouro. Agora que me dei um tempo para reparar na beleza do lugar, percebo que por traz de todo esse luxo há um certo vazio, uma solidão que eu sou incapaz de explicar.

Chego na mesma sala pela qual entrei quando cheguei aqui na mansão, acho que se trata de uma sala de visitas, sem esperar mais entro em um enorme corredor e sinto um cheiro maravilhoso de comida e me lembro que não tenho comido por um bom tempo, sigo o aroma e entro em uma porta a minha direita, acho a cozinha da casa, um lugar amplo, todo branco, com paredes de vidro do chão ao teto. Daqui da cozinha consigo ver um jardim com guarda-sóis, cadeiras brancas de praia e muitos homens armados. Curiosa fico um tempo os observando de longe e me pego distraída quando alguém me chama.

- Senhora jessica, deseja alguma coisa?

Me viro surpresa ao ouvir aquela voz tão doce no meio de todo aquele caos, me deparo com uma senhora baixinha e fofinha, de cabelos grisalhos e um sorriso encantador.

- Olá, como se chama?

- Matilde, senhora.

- Hum, Matilde. Que tal me chamar de Jessy?

- O patrão me deu ordens senhora e eu tenho que segui-las.

- O patrão que se exploda! Então Matilde, prazer Jessy e sim, eu estou morrendo de fome. - A pobre senhora me olha com os olhos arregalados e depois sem se conter solta uma risada descontrolada.

- Minha nossa, bem que me disseram que você é um furacão hein menina! Deixa eu preparar um sanduíche. - Ela vai em direção ao balcão ainda sorrindo e eu me sinto imediatamente à vontade com ela.

Me sento em um dos banquinhos junto ao balcão da cozinha e me admiro com a destreza e rapidez com que Matilde se movimenta na cozinha. Pouco tempo depois ela coloca um prato com um enorme sanduíche de presunto na minha frente seguido por um grande copo de suco de acerola. Devoro tudo como se estivesse a meses sem comer. Matilde me observa em silêncio, eu me levanto e lhe dou um beijo na bochecha pegando eu e ela de surpresa.

- Obrigado Matilde, estava maravilhoso!

- De nada menina, agora vá que o seu pai te aguarda no jardim dos fundos. - Abrindo um largo sorriso para ela, respondo:

- Ele não vai morrer se esperar mais um pouco.

Matilde imediatamente cai na risada. Minha alma se conectou com a dela a primeira vista, ela tem uma aura boa, sinto isso só de olhar para ela. Como essa senhora tão doce veio parar aqui?

Saio pela porta da cozinha e vou direto ao encontro de Robert que estar em uma espreguiçadeira embaixo de um guarda-sol no centro do jardim. Tento me aproximar, mas tem uma mesa rodeada pelos seus cães de guarda no meu caminho que parecem não perceber ou simplesmente ignoram minha presença. Se a missão era me irritar, eles conseguiram.

- Vocês vão tirar essas bundas gordas da minha frente ou eu vou ter que atropelar?

Me lançam olhares de ódio, até que percebem quem está falando. Saem imediatamente do meu caminho, mas não antes de eu ouvir um "puta merda" baixinho. Ignorando-os, me aproximo de Robert, pego uma cadeira que estava por perto e me sento de frente para ele. No começo ele apenas me observa em silêncio, mas depois abre um sorriso enigmático e me cumprimenta com um aceno de cabeça.

- Precisa destratar meus soldados dessa forma?

- Acho bom eles irem se acostumando, pois a partir de agora eles são os MEUS SOLDADOS!

- Vejo que pensou melhor depois da nossa conversa.

- Só quero colocar um fim nisso tudo.

- Entendo, mas antes de assumir o comando você precisa de um rigoroso treinamento e se quiser pode começar amanhã mesmo. Tire o dia hoje para descansar, a jornada vai ser longa.

- Eu estou preparada.

- Espero que sim. Quero te apresentar o seu treinador. - Robert pega o celular e parece enviar uma mensagem.

Passam dez minutos quando ouço uma certa comoção no meio dos soldados, da minha cadeira tento ver o que pode estar acontecendo pois estou em uma posição desfavorável, de costas para eles. Sinto um estranho calafrio quando ouço Robert falar:

- Jessica, esse é Gustavo Schiavo, o melhor soldado da facção e agora seu treinador.

Me levanto e viro na direção da pessoa a qual estou sendo apresentada.

- QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI ROBERT? - Me viro novamente para olhar para o meu pai, pois a visão do Gustavo ali parece surreal. Robert me olha como que se desculpando e a minha ficha cai rapidamente. Na frente de todos, volto a olhar para Gustavo e pergunto:

- Meu pai te pagou pra me vigiar seu desgraçado? Espera aí, eu preciso reformular essa pergunta. Robert te pagou para transar comigo? - Ele chega mais perto, com as mãos a frente de seu corpo como um pedido silencioso de desculpas.

- Jessy...

- Jessy é o caralho! Para você à partir de hoje é Srª. Jessica ou chefe e de jeito nenhum você irá me treinar. - Virando para o meu pai, digo:

- Meu treinador será Matteo. Podia ter pago ele pra transar comigo, é mais gostoso do que esse lixo que você me arrumou.

Saio do jardim a passos largos deixando os soldados boquiabertos com a situação.

Faz parte do meu show!!!