Os sons de bip numa mesma onda extrapolam quando o recipiente racha. O liquido azulado saia da rachadura no vidro, formando a poça no chão próximo ao metal com rodas para movimentação; até quebrar tudo e um homem cair. Puxava o ar com força, parecia que não respirava há dias.
Levantou o olhar e, ao fitar a câmera num canto esquerdo, acaba sorrindo. Não qualquer sorriso, erguendo o canto da boca escondendo algo a mais. O seus cabelos cacheados caiam gotas coloridas, quase tampando seu rosto.
A sirene estava lhe irritando seus ouvidos. Logo apareceriam alguns cientistas para saber o que causara. E, provavelmente, lhe daria trabalho.
Então saiu.
O corredor era largo e muito bem iluminado. O piso lembrava onde trabalhara. Bastante higienizada e polida, podendo ver sua própria imagem perfeitamente. A sua vestimenta estava pingando, encharcado pela cor azulada e gosmenta. Ainda respirava com chiado no peito, conseguia andar, mesmo com dificuldades ou tendendo a cair.
Encostou-se antes da curva, o corredor que indicava onde queria ir. Estranhava que ainda não havia nenhum sinal dos seguranças. Todavia, acabou encontrando um ao ouvir passos que, julgando pelos sons, seria de quatro pessoas. Seu coração acaba por bombear o sangue para o seu corpo, a última coisa que queria é o nervosismo lhe atrapalhar. Talvez sua sorte esteja ao seu lado, já que o barulho ficara longe de onde estava. Soltou um breve suspiro, e voltou avançar.
Um homem parecia dormir perto da porta com algum nome que não dava para identificar por estar longe. Sentado, o corpo pendia para trás e o chapéu azul cobria sua face enrugada e a boca que salivava. Precisava agir, ou a coragem iria para o ralo.
Procurou as câmeras pensou na sorte que seria se elas parassem de funcionar. Se ao menos pudesse...
Deixou de lado. Essa era última coisa a se preocupar.
Indo sorrateiramente ao guarda, aplicou o golpe no pescoço deixando-o desacordado. Rapidamente apanhou os armamentos e a chave e se virou a porta podendo ler o que estava escrito na placa.
"Cuidado. Paciente extremamente perigoso".
Levou o cartão para o dispositivo contendo a programação para identificação reconhecer e destravar. Esperou a porta abrir de lado para poder dar um passo adentro. Novamente prendera a respiração por ver o homem que tanto amou, trazendo tantos sentimentos como de arrependimentos, saudades e atração.
Lucas se encontrava deitado na cama, o colchão totalmente rasgado por ele mesmo. O uniforme, um macacão azul perolado, cobria o corpo e os longos cabelos estavam espalhados no travesseiro igualmente destroçados. Parecia dormir profundo cobrindo os olhos com o braço direito, uma perna de fora dando uma visão relaxada. Pode ver um objeto implantado no pescoço e a luz vermelha piscava como se fosse um alarme. Gustavo estava ansioso, parado ali como se estivesse esperando o homem fosse despertar e olha-lo.
Viu o nariz de Lucas enrugar, como se tivesse captado um cheiro familiar, e virou a cabeça para o lado abrindo os olhos devagar. Sentou rapidamente parecendo surpreso, abria e fechava a boca procurando encontrar alguma palavra para expressar melhor sua surpresa.
— Gus... Gustavo? — a voz estava estranha, achou o rapaz. Pelo visto não havia apenas mudado um pouco da fisionomia, mas também a voz se tornara como de uma fera assassina.
Abrindo um sorriso largo acompanhado da nostalgia, se pôs a andar ligeiro sussurrando o nome de Lucas. Agarrou-se em suas vestes, abraçando forte até beijar no fervor, acabando bater os dentes. Nada precisava ser dito, apenas a sensação do calor do outro era o suficiente para perdões, amores reprimidos, e que tinha que escapar dali.
Gustavo entregou a arma que pegara do guarda para o Lucas, o mesmo sorriu insano por ter novamente o armamento novamente em mãos. Correndo no corredor virando à esquerda, depararam com os guardas que vieram averiguar o alarme a sala de experimentos. Lucas não hesitou em disparar o Plíron e atirar com habilidade superior que tinha antes, o sorriso vitorioso mesclado pelo desejo de matar enfeitava seu rosto e os cabelos voavam quando avançava com movimentos estratégicos, desarmando-os e matando-os sem qualquer dificuldade ou se ferir.
Gustavo golpeou alguns com a lata de lixo que apanhara, e prosseguiu na fuga. As luzes começaram a piscar em todos os passos que pisava como se estivesse acompanhando sua travessia para encontrar a saída. Os dois amigos sorriram cúmplice ao fugir daqueles que tentavam impedi-los.
Saída para se ver livre dessa maldita...
Samanta acordara num pulo. Tentou regular o coração que batia contra seu peito, e acalmando seus nervos até se virar para olhar a janela e ver a lua bela, numa noite branda e calma.
Acabara de sonhar com os dois amigos. Ah, o que acontecera com eles? Perguntava-se. Fazia dois meses que abandonara o Ponto 22 focando apenas em seu trabalho como policial, e esquecendo o passado.
Mas é claro, não havia como esquecer. É como se a mente quisesse lembrar-se de cada momento que passara, de todo dia, minutos e segundos.
A policial fingiu ter sido manipulada pelo governo. Não procurou saber mais dos cientistas, o que faziam com Lucas e Gustavo, até porque suspeitou que alguém estivesse vigiando seus passos, então começou a tomar cuidado.
Abraçou as pernas e sorriu nostálgica ao recordar dos bons momentos que viveram com os dois. Se ao menos o sonho tivesse acontecido...
Se ao menos esse novo governo caísse, e revelasse os podres que escondem debaixo do tapete. Se ao menos mostrasse ao público qual realmente é a finalidade. Se ao menos acabasse com a palhaçada do país esteticamente perfeito.
Nada é perfeito.
Ninguém é perfeito.
A tecnologia progride, mas a mente de alguns não.
Você está satisfeito? Alguma vez já esteve satisfeito por tudo que fez na vida?
Samanta teria a resposta, mas não estava confiante no que pensara.
Fim, talvez?
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Ponto 22
Science FictionEm um Brasil onde a tecnologia expandiu de um jeito chocante, mudanças significativas ocorreram em prol do bem estar da população. No ano de 2020, com um novo projeto na mente do governo, começa-se a criar robôs que serviriam como uma companhia para...