Capítulo 1

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No fim do verão eu havia me matriculado na Universidade de Princeton, e hoje, aqui estou eu, arrumando toda a bagagem para cursar Ciência da Computação. Na quinta série eu tinha a visão de que chegar ao ensino superior levaria anos, o que na verdade levou, e é perceptível que eu ainda tenho medo da vida adulta, talvez seja por isso que ainda não criei coragem suficiente para me livrar de algumas tralhas.

Fechei a caixa e passei fita por cima; nomeei-a com um marcador e me sentei na cama. Agora, meu quarto, que levou meses para ser decorado com as páginas dos meus gibis do Batman, era tão inútil que sequer podia ser chamado de meu. Levantei, peguei a caixa e sai do meu quarto, descendo até a garagem, onde todos os meus pertences aguardavam no carro, prontos pra dizer adeus à Chestertown. 

 Minha mãe estava desesperadamente insegura com a minha partida, ela dizia que eu não tinha maturidade suficiente para morar sozinho, mas ela estava enganada; (a) eu não iria morar sozinho; (b) ela só estava insegura porque ficaria sozinha, não que meu pai seja insuficiente, mas sou filho único. Meu pai estava mais empolgado do que eu, ele havia cursado economia em Princeton e quando o contei que eu havia passado na universidade, ele quase surtou; afinal, o sonho dele era que eu seguisse qualquer de seus passos. Enquanto eu descansava no sofá, o mesmo se colocou a contar mais uma de suas histórias, de quando ele tinha a minha idade e vivia intensamente seus dias pelo campus de Princeton.

-Sabe, Gregory, no meu último ano, eu e Robert fizemos tantas coisas...- Se ajeitou na poltrona, logo continuando. - Ele foi pego, com sua tia Loren dentro do salão de artes, os dois estavam...Você sabe, aquilo que aprendeu na escola. - Ele disse, sorrindo malicioso. - Por pouco ele não perdeu a bolsa de estudos, mas teve que ficar trabalhando no refeitório durante seis semanas.

-Droga pai, eu não precisava saber que o tio Rob e a Loren... Qual era o problema deles? Aliás, vocês já não tinham dormitórios naquela época?- Falei, franzindo a testa.

-Claro que tínhamos, mas você sabe que Robert sempre teve um parafuso a menos, e também, dizia que precisava transar em todos os lugares do campus, antes que se formasse.

-E ele conseguiu atingir a meta? - Encarei-o, rindo.

-Claro que não, meu filho. Aquele lugar é enorme. - Suspirou, retirando seus óculos em seguida. - Não conte para sua mãe, mas apostamos em você. Transe em todos os lugares daquele campus, Gregory. - Arqueou a sobrancelha, sorrindo maliciosamente. - Rob começou com essa meta no penúltimo ano, mas você terá mais tempo.

-Droga, você não pode estar falando sério, pai. - Levantei, rapidamente, encarando-o com repulsa. - Você sabe que eu ainda sou...

-Virgem? - Assentiu - Sei sim, meu filho. Por isso, espero que essa nova fase lhe traga novas experiências; espero que viva tanto quanto eu e Rob vivemos naquele abençoado campus. - Suspirou, lembrando-se dos velhos tempos.

-É, tanto faz. - Disse, caminhando para a cozinha, logo parei, e voltei alguns passos. - Só para constar, eu não ligo de ser virgem. Quer dizer, eu vivo minha vida normalmente, estando nessa condição. Sem problema algum. - Ele riu, e eu o ignorei, logo voltei para meu caminho até a cozinha.

Abri os armários em busca de algo para comer, toda aquela arrumação me deixou faminto. Peguei algumas torradas, abri a geladeira em busca de geleia, e para meu azar, só havia geleia de abacaxi. Eu definitivamente a odiava. Abacaxi não era uma fruta boa, aliás, nenhuma fruta parecia suficientemente boa quando se tratava de uma geleia, tudo ficava com um gosto genérico; mas eu não tinha tempo de preparar algo melhor, então, me sentei na banqueta próxima a península da cozinha, e devorei aquelas torradas com geleia.

Pensei um pouco em tudo o que havia acontecido nas últimas semanas, e eu percebi que minha empolgação já não era algo tão explícito. A verdade é que eu tinha medo de não me enturmar, até porque nunca tive tantos amigos. Henri era meu único amigo na Kent County High School, e depois que ele partiu para a Inglaterra, me senti um pouco isolado com toda aquela situação, até que aprendi a lidar com o fato de estar só, e que a solitude me fazia bem. Mas agora, eu estava prestes a arriscar toda a minha confortável solitude, e jogar tudo o que havia enfrentado por água abaixo.

Antes de partir, fiz uma playlist de aproximadamente quatro horas. Levei o lixo para o lado de fora pela última vez e dei ração ao Sr. Sparkles, que se agitava toda vez que eu balançava a caixa de ração. Pós afazeres, estávamos à caminho de Princeton.

P.A.N.D.O.R.A (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora