[1] who are you?

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Todas aquelas pessoas vestidas de preto aterrorizavam-me.

Estar naquele maldito funeral fez-me perceber que era mesmo verdade. Ele estava realmente morto e eu não podia mais nega-lo e fingir que ele ainda estava aqui comigo.

Eu sentia uma dor insuportável no meu peito e cada uma das lágrimas que corriam pelas minhas bochechas eram um pedacinho de mim a ir embora com ele.

Nunca fui uma pessoa muito dada a emoções, principalmente em público. Por isso surpreendi-me quando me vi chorar em frente a toda aquela gente, sem me preocupar por estar vulnerável.

Deixei uma rosa branca junto ao seu caixão aberto naquela igreja fria. O silêncio era ensurdecedor. Ali apenas estava eu e alguns familiares e amigos dele que se confortavam mutuamente. A mim ninguém me confortava e eu sentia-me como um espectador da minha própria vida, da minha própria dor. Não havia consolo possível, pensei eu, envergonhado pela minha carência que me fazia desejar não estar mais sozinho. A minha família não tinha vindo, nem faria sentido que viesse. Há muito que os meus pais se esqueceram que têm um filho. E amigos eu não tinha, por isso lá estava eu, desamparado, soterrado naquilo que nunca mais iria ter.

Vi uma outra rosa branca a ser deixada junto a ele e ouvi um fungar de choro a meu lado. Virei a cabeça e vi um homem aparentemente da minha idade, mas que eu não conhecia, a chorar pelo meu noivo. O misterioso homem estava uma lástima, as olheiras profundamente marcadas em seu rosto molhado e os seus olhos vermelhos.

- Eu amava-te tanto...- ele disse baixinho, quase inaudível, mas alto o suficiente para fazer o meu coração disparar em nervosismo.
Ele continuou a falar, virado para o corpo, como se eles se conhecessem há muito tempo e fossem muito próximos. Tentei prestar atenção ao que ele dizia mas não deu para ouvir mais nada a partir daí.

Decidi afastar-me, ainda questionando a presença daquela pessoa ali, e fui até ao banco onde a família dele se encontrava sentada, a fazer o seu luto.
Perguntei a uma das tias dele se conhecia o homem ao lado do caixão, pois poderia ser algum amigo de infância ou familiar que eu nunca havia conhecido. Não deixavam de ser estranhas, mesmo assim, as palavras ditas por ele, que demonstravam demasiado afeto para um simples amigo ou primo.

Esta rapidamente me disse que não o conhecia, mas não fiquei satisfeito com a sua resposta. Ainda assim, não insisti no assunto. Tive um mau pressentimento e decidi que a covardia era a melhor resposta. Não iria lidar com isso naquele momento, então abandonei o banco e fui até à parte de fora, para apanhar algum ar. Enquanto saía, reparei que o tal homem não estava mais no sitio onde o tinha visto a última vez. Tentei não pensar muito nisso e continuei o meu caminho.

Já no extrerior, suspirei passando as mãos no cabelo e tentando a todo o custo controlar o choro. Lá estava ela, a maldita vulnerabilidade. Não era suposto ela ver a luz do sol.

Respirei fundo, aproveitando os segundos de paz que a leve brisa me trazia enquanto observava a paisagem que rodeava a igreja.

- És o Jungkook, não é? -ouvi alguém atrás de mim. Olhei para onde vinha a voz e reparei ser o mesmo homem mistério de há pouco.

- Sim, sou. - respondi, talvez um pouco seco demais. Algo nele me deixava intrigado. - E tu quem és?

- Kim Taehyung - ele falava rápido, com a voz embargada do choro e de uma maneira atrapalhada que, se fosse noutra situação, eu consideraria adorável. - Eu queria dizer que, apesar de tudo, ambos estamos a sofrer com a morte dele e ele faz-nos muito falta e se calhar devíamos apoiar-nos e...

- Apesar de tudo? - franzi o cenho, interrompendo a confusão de palavras que saiam de sua boca.

- Sim, ele não te contou? - ele, que antes mantinha a cabeça baixa, olhou para mim confuso.

- Contou o quê?

Taehyung abriu a boca para responder mas foi interrompido por uma outra voz que me chamava.

- Jungkook, querido - a minha ex-futura sogra aproximou-se, com o rosto vermelho, e pôs a mão no meu ombro. - Anda para dentro, estamos a preparar tudo. - eu assenti, percebendo que a cerimónia ia começar. Forcei-me mais uma vez a não chorar e preparei-me para entrar na igreja, mas antes lembrei-me de Taehyung e da conversa que tivemos.

- Ouve, Taehyung, eu não sei quem és nem do que estavas a falar mas eu quero perceber - encarei-o. Ele acenou com a cabeça antes de falar.

- Eu sei, eu também quero que saibas. - ele fez uma pausa, a sua voz já soava mais firme. - Amanhã, ás 16h, no café favorito dele. Eu conto-te tudo.

Now I Know Why He Loved You - FANFIC  Onde histórias criam vida. Descubra agora