[3] you hurt him;

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Agarrei o volante firmemente, focando-me na estrada enquanto tentava afastar a conversa com Taehyung da minha mente. Já se tinha  passado bastante tempo desde esse dia mas mesmo assim a sua voz era como um eco no meu cérebro que me tinha vindo atormentar.

Quando parei o carro e saí, senti uma nostalgia imensa daquele sitio.
Estava na nossa cidade natal, minha e do Jimin, e hoje havia uma festinha popular. Ele amava vir cá e todos os anos fazia questão de estar presente.

O cheiro do algodão doce feito em pequenas barraquinhas espalhadas por todo o lado intoxicava o lugar de uma maneira agradável. As pessoas falavam animadamente umas com as outras e todas elas sorriam e gargalhavam formando uma harmonia acolhedora. As crianças corriam e brincavam, algumas pelas ruas cheias de lojinhas e outras num pequeno parque infantil não tão longe de mim. Elas soltavam gritinhos de empolgação de uma maneira tão inocente que me fez querer ser criança outra vez. Permiti-me sorrir ao vê-las. Já não sorria há algum tempo.

Eu percebi que toda aquela gente era feliz com coisas simples e senti inveja delas. Talvez fosse exatamente isso que tornava esta cidadezinha especial, a forma simples e genuína de felicidade que toda a gente parecia viver.

Caminhei pela festa observando tudo ao pormenor até chegar ao sitio que pretendia. Era o lugar mais alto e dali via-se toda a cidade.

Aquela festa tinha uma tradição e ali seria onde milhares de balões de papel seriam lançados á meia noite. Jimin sempre ficava ali até ao final, só para ver aquele espetáculo que, segundo ele, era mágico.

Já era de noite e eu, inclinado sobre o muro lá no topo, olhava o céu estrelado. Uma brisa fresca lançava os meus cabelos para trás fazendo-me relaxar um pouco e perder-me nos meus pensamentos. Aquele local trazia-me muitas memórias.

Tinha sido ali o nosso primeiro beijo. Ás exatas doze badaladas, enquanto víamos os balões encherem o céu, Jimin puxou-me pela gola e tomou a atitude que o meu eu timído do passado não tinha tido a coragem de tomar. Fora algo tão intenso que parece que ainda consigo sentir as suas mãozinhas pequenas a trazer-me para perto de si. Jimin era absolutamente intoxicante e isso fez-me apaixonar-me tão perdidamente que eu jurava que faria tudo por ele.

- Pensando nele, ah? - uma voz despertou-me dos meus pensamentos. Virei-me e encarei Taehyung que, igual a mim, se inclinava sobre o muro.

Fiquei-me apenas por encará-lo, ignorando deliberadamente a sua pergunta. Questionei-me mentalmente se ele me teria seguido, incomodado pela sua presença.

Céus, e se ele fosse um stalker?

Taehyung deu um pequeno sorriso enquanto mantinha o olhar fixo na vista da cidade. Ele parecia viajar em seus próprios pensamentos.

- Este era um lugar especial para ele. Sabes? Ele dizia-me que, se pudesse, passaria aqui o resto da vida. -disse aparentemente nostálgico ao relembrar as suas palavras. - A felicidade na sua voz ao falar deste sitio fazia-me feliz só de o ouvir, era incrivel. - soltou uma risada triste.

Franzi as sobrancelhas, não acreditando na lata dele.

- Claro que sei disso! Ele era o meu noivo, pára de falar como se o conhecesses melhor que eu! - estava claramente irritado e, diferentemente do nosso encontro anterior, não tive a paciência para me fingir relaxado. Taehyung ter ido ali, áquele sitio tão importante para nós, apenas para me provocar, era pisar a linha. E se antes tinha decidido manter a pose de quem não acreditava nele nem se tinha afetado, naquele momento todo o meu stress deu as caras, fazendo com que não controlasse o meu tom de voz.

- Além disso, eu todos os anos vinha aqui com ele, exatamente por saber o quanto ele ficava feliz de cá vir. - continuei, fixo nele.

Ele finalmente me olhou nos olhos, desviando a sua atenção da paisagem. Enquanto eu fervia, ele estava calmo. Lindo e irritantemente calmo.

- A sério, Jungkook? Vinhas mesmo? - desafiou, ainda sereno, pose elegante e expressão indecifrável.

- Onde queres chegar com esta conversa? - perguntei, sobrancelhas novamente franzidas e um ar incrédulo que provavelmente só estampava "idiota" na minha testa.

- O ano passado? Vieste? - o seu olhar era intenso, que eu senti como se me queimasse, e realmente parei para pensar naquilo.

- Taehyung, já te disse... - estava pronto a repetir que não o queria ouvir e que a sua história mirabulante não me interessava, mas ele foi rápido a interromper-me.

- Não sabes pois não? - falou como se fosse óbvio, ainda me encarando. - Mas eu respondo-te, Jungkook. Não vieste. Estavas demasiado ocupado para levares o teu noivo ao sítio que ele mais amava e que supostamente era importante para os dois. Tens a noção do quanto o deixaste triste? - ele terminou e um peso caiu sobre os meus ombros. Relembrando o ano anterior, confirmei mentalmente que ele tinha razão. Eu não só não tinha cá vindo como sequer me lembrei desta data.

- Eu...-tentei responder mas acabei por ficar sem palavras.

- Ele estava destroçado. - continuou, interrompendo-me de novo. Confuso e pensativo, não tentei falar mais, apenas o ouvi.

- Jimin contou-me que aqui era o vosso lugar especial e que todos os anos vocês vinham cá numa espécie de encontro. - ele disse olhando outra vez a cidade, ambos continuávamos sobre o muro, com o vento frio da noite a soprar em nossos cabelos. - Quando a data desta festa se aproximou ele passou dias falando disso com um sorriso nos lábios. Eu lembro-me de o encarar e apaixonar-me pelo seu sorriso e o brilho de seus olhos, era algo que me cativava nele. -sorriu- Mas quando apareceu na revista cabisbaixo e triste, o meu mundo caiu. Odiava vê-lo assim. Pelos vistos quando ele te lembrou da data tu não prestaste muita atenção e disseste logo que não podias nesse dia, sem sequer deixa-lo terminar. Ele disse que tu estavas distraído com o trabalho e não lhe deste muita importância. -suspirou e virou-se para mim. Eu sentia os meus olhos húmidos, como se a qualquer momento fosse desabar. -Tu magoaste-o muito nesse dia, Jungkook, mas não foi a única vez.

Sem saber o que lhe responder, encarei-o. O seu tom acusador deixou-me frágil e eu sabia que nada que eu dissesse iria amenizar a hostilidade que as suas palavras tinham criado. Tive mais um daqueles momentos em que se perde a noção da realidade, como se a minha mente se disassociasse do corpo e, de repente, aquela situação não era minha. Era de alguém, e eu assistia, como espectador de um programa da manhã. Da outra vez, no café, entrei neste transe por vontade própria, como uma defesa planeada. Mas desta vez, foi algo involuntário e quando dei por mim já lá estava, em frente à televisão.

Por isso, não reagi quando ele deu a entender que conhecia mais da nossa história. Ainda assim, perante o meu silêncio, Taehyung continuou.

-O Jimin precisava de alguém quando tu não estavas lá, e eu acabei por ser a quem ele recorria para falar - com o ênfase que ele fez na palavra 'tu', senti uma pontada no peito.

Entretanto, deu a meia-noite e os inúmeros balões de papel vistos no céu negro da noite interromperam a nossa conversa. Eu observei o espetáculo com atenção. Agora ele parecia-me incrivelmente mais bonito mas numa maneira triste.

Ali, depois de sair do meu transe momentâneo e saltar para dentro do ecrã, senti o peso da realidade. Pensei sobre o que tinha escutado de Taehyung e ponderei dar-lhe realmente ouvidos.


- Taehyung! - falei alto devido ao barulho das pessoas e ele, que via os balões atentamente, virou-se para mim. - Eu quero que me contes tudo.

Now I Know Why He Loved You - FANFIC  Onde histórias criam vida. Descubra agora