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9 de fevereiro de 2017

Querida Jieun,

Perdoa-me por estar tanto tempo longe, mas percebeste porquê que o fiz, não percebeste? Precisava de uma pausa de tudo aquilo, embora falar contigo sempre tenha sido uma forma de conforto. Espero que saibas que nunca deixei de pensar em ti.

Durante estes quase dez anos mantive este caderno bem guardado, pois não tive coragem de o deitar fora. Muita coisa mudou e tenho muito para te contar, então espero que ainda estejas disponível para me ouvir.

O meu tempo na universidade foi incrível. Conheci várias pessoas e fui a várias festas, embora nunca me descuidasse dos estudos. Fiz algumas loucuras e coisas que talvez não devesse, mas a vida de universitário é assim mesmo, não é? Espero que não fiques desiludida comigo por ter sido um tanto rebelde.

Durante os quatro anos do meu curso não vi Jungkook. Lembras-te de te falar dele? Foi o meu primeiro amor. Realmente pensei que os nossos rumos nunca mais se cruzariam mas jamais me esqueci dele. Tive dois namorados na universidade de quem gostava muito, mas nenhum desses relacionamentos foram tão intensos quanto o simples ato de olhar Jungkook. Parece exagero mas algo nele me faz sentir assim. Trocaria sem pensar duas vezes qualquer noite passada com um dos meus ex-namorados pelo nosso primeiro e único beijo desajeitado, pela sensação de ter colados aos meus aqueles lábios fininhos e envergonhados que me cativam de uma forma que nem eu posso explicar. E, embora talvez não notasse na altura, durante todo aquele tempo senti imenso a sua falta. Eu estava incompleto e não me apercebia. Jungkook marcou-me tão fortemente em tão pouco tempo e parece que só percebi isso realmente quando o voltei a ver passados seis anos.
O meu primeiro emprego a sério foi num pequeno jornal e estava a fazer uma reportagem quando entrei naquela procuradoria. Os escritórios eram feios e frios e eu levava um pequeno bloco nas mãos quando entrei num deles para falar com o procurador do caso que investigavamos. Ele era alto e imponente, e a sua aura intimidante inundava a sala de tensão. E foi então que eles nos apresentou o seu secretário, que se sentava numa mesa mais pequena em frente á sua. Senti o meu mundo parar quando voltei a encarar os seus olhos amendoados e vi a sua expressão tão ou mais surpresa que a minha. Jungkook estava muito diferente, mas ainda tão lindo aos meus olhos. Não gostei quando reparei que estava muito mais magro e pálido, mas mesmo assim sorri-lhe. Ele sorriu de volta, mais timido que eu, e mais tarde convidei-o para sair.

Não tardou muito para nos beijarmos e em todas as nossas saídas até lá eu descobria um pouco mais sobre a sua vida após o nosso afastamento. Os seus olhos estavam tristes quando me contou que não conseguiu ser advogado e que se sentia um falhado por isso, embora odiasse a profissão. Quando voltamos a ter uma maior confiança tentei persuadi-lo várias vezes a lutar pelo seu sonho novamente, mas foi em vão, Jungkook continuava - e continua - demasiado frágil emocionalmente e isso faz-me querer protegê-lo e amá-lo ainda mais. A repressão dos pais ainda é algo que o atormenta e magoa imenso, mas fiquei imensamente feliz quando me disse que ver-me o fez querer lutar contra isso. Espero que tenha percebido através do meu sorriso rasgado o quão quentinho aquelas palavras me fizeram sentir.

Claro que essa luta não fora nem um pouco fácil, não só pela parte de ter de enfrentar os seus pais mas também pelo psicológico do próprio Jungkook. Era algo profundamente marcado na sua mentalidade que o fazia negar quem era. Para Jungkook querer ser ator e ser homossexual era errado e algo do qual se devia lutar contra, e, embora ele soubesse que isso não era correto, via-se incapaz, por mais que tentasse, de contrariar os ensinamentos que foi forçado a ouvir e obedecer desde infância. A sua subordinação em relação aos mandamentos paternos foi diminuindo com o tempo mas eu sempre soube que não desapareceria por completo.

Quando fizemos amor pela primeira vez, senti-o tenso e nervoso, e ele viu-se obrigado a contar-me que aquela seria a primeira vez que faria aquilo com um homem. Senti-me triste por saber que tinha vivido aqueles anos todos a reprimir-se, mas ao mesmo tempo feliz por poder ser eu a ajudá-lo.

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