[11] memories of us;

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Entrei em casa ainda meio atordoado com tudo passado naquele carro. A minha cabeça andava á roda e a minha mente reproduzia repetidamente algumas frases ditas por Taehyung.

Fechei a porta e vi que tremia um pouco, encostei-me a ela e suspirei. Fechei os olhos por momentos para logo os abrir quando ouvi o latido de Bolt. Ele veio até mim apressado e ergueu as patas sob as minhas pernas abanando o rabo e tentando me lamber. Esta era não só uma forma de cumprimento mas também uma forma de conforto. Bolt sabia quando eu não estava bem e tentava alegrar-me, eu amava isso nele.

— Está tudo bem rapaz...— fiz-lhe festinhas na cabeça e focinho e ele deitou-se no chão fazendo-me agachar — ...está tudo bem — disse baixo e mais para mim mesmo do que para Bolt, e continuei com os carinhos no seu pelo.

Rapidamente me levantei deixando o bichinho deitado, pus o cabelo para trás com as mãos e decidi que iria acabar a análise do resto dos processos de hoje de manhã, sendo essa a forma que arranjei de me distraír dos meus próprios pensamentos tóxicos.

Descalcei-me e já no meu quarto tirei a roupa com o intuito de mudar para uma mais confortável para trabalhar. Mas, antes que o fizesse, olhei o meu reflexo no grande espelho do cómodo. Observei com cuidado o meu corpo quase completamente nu de cima a baixo. Eu com certeza tinha perdido peso pois as minhas coxas grossas — aspeto que Jimin dizia amar em mim mas odiava nele próprio — estavam agora mais finas e minha pele mais seca, devido ao desleixe que tinha vindo a cometer no que toca aos seus cuidados. O meu rosto estava mais estreito também. Tinha perdido algum volume nas bochechas e a minha linha do maxilar estava mais marcada. Ao reparar no meu abdomen, vi que as minhas costelas eram agora visiveis e lentamente passei a mão por elas, sentindo o seu relevo e perdendo-me no pensamento de que eu estava uma lástima. Não era uma novidade para mim, verdade seja dita, mas o tato de umas costelas salientes trouxe-me a dura realidade de que eu não estava só a desmoronar por dentro mas no exterior também.

Eu não me importava muito com isso. Afinal, o meu corpo não precisava ser bonito, porque já não havia ninguém para o admirar. Não precisava de ser forte porque seria uma farsa, um escudo sem nada para proteger. E não precisava de ser saudável porque eu não tinha medo da morte.

E se o meu corpo deixasse de funcionar, seria isso um grande problema? Não, não seria.

Então eu percebi que não iria deixar os maus hábitos e continuaria a desleixar-me, simplesmente porque não me importava mais.

Voltei a olhar para o meu reflexo até virar costas, decidido a que não pensaria mais nisso e que me focaria a cem porcento no meu trabalho. Mas, já com a roupa mudada e sentado na mesa da cozinha com os papeis á frente, rapidamente me vi a falhar completamente nessa minha convicção.

Não conseguia tirar os olhos de uma foto minha e do Jimin, já antiga, do tempo da escola quando tínhamos 17 ou 18 anos, que eu mantinha emoldurada em cima de um dos móveis. Eu adorava aquela foto e não tinha coragem de a tirar dali por muito que me magoasse vê-la. Ela trazia-me memórias que agora pareciam dolorosamente longínquas.

Larguei a caneta que segurava e deixei os papeis na mesa, levantei-me e fui pegar na moldura. Já com ela em minha posse, voltei a sentar-me na mesa e, com os cotovelos apoiados na mesma, ergui a moldura e passei o dedo pelo seu vidro calmamente, mesmo por cima do rosto de Jimin, como se fosse um carinho.

Ele estava adorável com um sorriso pequeno e o seu gorro habitual da altura enquanto apontava para a camera. Lembro-me de ele me obrigar a tirar aquela foto com ele, subornando Mark para que o fizesse mesmo sem a minha permissão, e de me dizer que eu estava lindo usando um gorro semelhante ao seu. Sei que sorri tímido com a sua frase e que muito provavelmente corei.

Now I Know Why He Loved You - FANFIC  Onde histórias criam vida. Descubra agora