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O destino costuma nos pregar peças engraçadas, me lembro sempre muito bem disso quando levanto e meu olhar vai automaticamente pra o relógio que fica grudado na cabeceira da cama, pelo menos um dos olhos.

7:40. Já estava mais que atrasado. Dia em que calouro começa na faculdade é sagrado. Vários calouros -principalmente eu- e a maior parte dos veteranos não veem a hora de começar nessa jornada.

8:30. Metrô lotado. Uma das situações que mais odeio nesse mundo. Logo cedo ter que compartilhar o mesmo local com várias pessoas, mas na verdade eu gosto do calor que elas transmitem. O calor humano sempre faz falta, ainda mais em dias em que o frio comanda toda a cidade. Hoje, em especial, é um desses dias. A cidade além do frio, está coberta com as gotas de chuva. Péssimo dia para sair de casa, ótimo dia para se ter o calor de outros.

O caminho para a faculdade é lento e colorido. Há várias árvores pelo caminho e poucos rostos conhecidos. Logo na entrada é perceptível a felicidade. Adolescentes e adultos confraternizando como se fossem conhecidos de longa data.

Os alunos do meu curso não eram diferentes, todos gargalhavam e se apresentavam como no primeiro dia de aula em uma escola, onde a professora se junta a turma e fica esperando que cada um se apresente e tente se enturmar em um local onde o desconhecido é essencial.

- Qual o teu nome, calouro? - gritou uma menina que estava ao meu lado. O cheiro dela era extremamente bom.

- Tim... Timótheo. - respondeu o garoto ruivo que estava na frente.

Ele se agarrou ao quadro de costas e fez dali o seu porto seguro. O diferencial dele era justamente os cabelos ruivos.

Continuaram as apresentações e até eu fui uma das vitimas, antes de acabar me perguntaram se a branca de Neve estava bem. Já era de se esperar, desde o colegial eu era o menor aluno de todas as turmas que frequentava. Tentei de tudo: natação, tratamentos e uma caralhada de coisas que via por ai que deu certo com fulano de tal. Mas não dava. Tentei me enturmar.

- Sim, foi ela quem me matriculou.

Nesse momento eu pude ver todos que estavam na sala, desde a menina cheirosa que estava ao meu lado, o ruivo Tim e Cláudio, o menino dos óculos redondos. Todos riam da minha resposta e batiam palma como se eu fosse um apresentador famoso e aquele o meu show.


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