III

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Em meio a tanto caos, há sempre uma maneira bem legal (e divertida) de ser levar. Quando digo caos, eu não quero dizer que sejam coisas ruins (apesar de parecerem logo de inicio), mas sim de algo que todos os alunos temem: trabalho em grupo. Durante o ensino médio eu já achava um tormento, imagine agora, durante a faculdade. Dizem que é o melhor jeito de se descobrir quem serão seus amigos durante a longa caminha que é a vida de universitário.

O plano era perfeitamente perfeito. Iniciar os trabalhos na casa da Ana, terminar, comprar bebidas e ficar até o dia amanhecer. Claro que antes deveríamos deixar os amiguinhos irem embora. Outro fato importante é que dificilmente íamos seguir esse plano.

Éramos seis. Seis cabeças pensando em como planejar um seminário, conseguir materiais e apresentar aquilo para toda a sala. Carlos, Timothéo, Ana, Carol, Tereza e eu.

— Quer saber? Eu desisto! - disse Ana.

Ela estava espalhada no sofá da sua casa com uma apostila na mão e na mesma hora jogou tudo para o alto. Levantou e procurou algumas coisas dentro do armário. 

— Ana, isso é sério. - comentou Tereza, seu óculos já nem ao menos estava no seu rosto.

— Eu estou sendo mais que séria. - ela mostrou algumas garrafas. - Pessoal, hoje é sábado, provavelmente estaremos mortos amanhã, e se não tivermos, faremos o restante do trabalho. Vamos lá, o que me dizem?

— Beber um pouco não vai fazer mal, não é? - Tim pegou uma das garrafas da mão da garota e analisou, como se fosse um professor ao pegar o trabalho adiantado de um aluno nota dez.

Todos concordamos com a filosofia de vida de Ana, e em poucos minutos já estávamos bebendo como se não houvesse amanhã. Tim estava sempre com uma garrafa e um copo nas mãos, sempre alternando. Enquanto Carlos e Tereza dividiam o mesmo copo, todos tinham certeza de que eles eram um casal, mesmo dizendo que não. Ana e Carol comentavam assuntos diversos. Eu apenas observava todos e olhava sempre o cabelo bagunçado do Tim. Como ele conseguia deixar tão bagunçado e ao mesmo tempo ser tão arrumado? Caso eu fizesse isso, seria taxado de louco na mesma hora.

— Sete minutos no paraíso. - disse Tim, a garrafa que segurava já estava vazia.

Todos olharam para o garoto como se aquilo tivesse sido uma ideia totalmente absurda.

— Qual é, pessoal, vão dizer que nunca brincaram?

— Podem usar o escritório de papai, depois arrumamos. 

Nos sentamos todos em um grande círculo no meio da sala de estar da Ana. Uma garrafa vazia no meio do círculo e seis cabeças pensando no que aconteceria dali em diante. Carol girou e esperamos. 

— Tim e Bernardo, o escritório é todinho de vocês.

Rimos, mas claramente era um riso de nervoso. A regra era clara, não poderíamos recusar ou pagaríamos algo, que possivelmente seria o fim do restante da nossa dignidade. Então fomos em direção ao escritório. Tinha cheiro de madeira velha e livros novos. 

— O que faremos? - perguntei.

— Podemos ficar aqui sem fazer nada ou podemos fazer algo que você queira.

— Eu sou péssimo em escolher algo, fica por sua conta.

Realmente ficamos sem fazer nada, durante esse tempo eu aproveitei para vasculhar todo o comodo, o cheiro de livros novos era nada mais que livros velhos super conservados. 

— Já se passaram seis minutos! - gritou Carlos.

— É, acho que está na hora de irmos. 

Fomos em direção a porta. A maçaneta era redonda e extremamente gelada. 

— Bernardo, espera.

— Oi? - virei para ele.

Nos olhamos por alguns segundos e Tim encostou os seus lábios nos meus. Apesar de ter sido pouco, pude sentir a maciez e o gosto doce da bebida que havíamos tomado.

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