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Fui para a aula decidido de cortar qualquer torta de climão que houvesse entre o Tim e eu. Estaria super acostumado se aquele caso houvesse acontecido durante o ensino médio, onde poucas pessoas tem uma boa mentalidade e é suficientemente maduro pra lidar com as coisas que a vida traz.

Mas, ao contrário do que eu espera, Tim nem ao menos esperou que eu entrasse na sala, parecia estar me esperando há um tempo, parado na porta com a sua mochila do lado, celular na mão e fones no ouvido. Ao me ver, retirou um dos encaixes do ouvido e esperou que eu me encostasse mais um pouco nele. 

Parei um pouco antes da sala e esperei Ana terminar de beber água no bebedouro. Todos os dias nos falávamos antes no corredor e seguíamos juntos para a sala.

— Há quanto tempo ele tá parado na porta da sala? - perguntei.

— Mais de uma hora, tá ali desde que chegou.

— Quais as chances dele estar me esperando?

— Olha, as chances são altas. Mas se quiser que eu faça ele entrar antes de você, só me dizer. -disse ela descendo a manga da blusa até os bíceps e fingindo que visitava sempre a academia.

— Acho que não será preciso. 

Tim estava vindo em nossa direção e então decidiu voltar. Seus cabelos ruivos estavam mais bagunçados que o normal e agora estava com os dois encaixes dos fones de volta aos ouvidos.

— Tim!

Ele virou-se e deixou a mostra os seus dentes brancos em um grande sorriso. Chamei-o com uma das mãos e esperei que ele viesse até mim.

— Podemos conversar? Creio que essa aula não seja tão importante para nós dois.

Ele consentiu com a cabeça. Essa era a primeira vez desde o acontecido em que íamos nos falar. Principalmente fora do escritório do pai da Ana. Sentamos em um dos bancos que ficava na praça próxima ao nosso módulo. As flores caiam no chão e transformavam o local em um grande jardim de pétalas caídas.

— Creio que já sabe sobre o que eu quero falar, não é? - esperei para que houvesse alguma palavra da parte dele, mas não aconteceu. — Quais são as chances de realmente termos algo? Tipo, alguns dias atrás eu te via como um hétero que eu quisesse ter algo e agora você é um cara que eu beijei durante uma brincadeira.

— Você foi o primeiro cara que beijei, então acho que essa coisa de que era sou hétero, valeu. - ele colocou uma das mãos em cima da minha. — Tu é um dos poucos que eu consegui me aproximar nessa faculdade e creio que isso mexeu um pouco demais comigo.

— Ainda não me respondeu, apesar de ter falado. Um ponto importante, você falou comigo.

— Creio que isso não precisa ser dito. 

Tim soltou a mochila e me beijou, de um dos seus encaixes do fone era possível ouvir Cazuza. "Nossos destinos foram traçados", única parte que consegui ouvir antes de me entregar.

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