Espatódea

VII

Aniversário é um lance complicado. Principalmente quando a sua família decide, sem você, que é bom dar uma festa. Convidam todos os seus amigos (e aqueles que acham que são seus amigos) e pronto, festa confirmada.

Ana havia escondido debaixo de sete chaves que teria uma festa surpresa. Ela amava me ver com cara de bocó na frente de todos quando começavam, em um coro desgovernado, a cantar "parabéns para você".

Já estava tudo ensaiado. Entraria com Ana, acenderia a luz e faria uma cara de espanto, depois choraria e fingiria estar emocionado (não que fosse mentira, mas ninguém precisa saber). Ana, por sua vez, cantaria e daria risadas da minha cara, além de tirar várias fotos para postar nas redes sociais no dia seguinte.

Chegou o grande momento. Luz, câmera e ação. Deveria estar perfeitamente perfeito em meu grande número, o aniversariante emocionado. Meus parentes estavam lá, os primos roubavam doces da mesa, as tias reclamando e mamãe segurando o bolo. Cantamos, bebemos e comemos. E finalmente acabou.

Mamãe me acompanhou até meu quarto e mostrou alguns presentes que recebi dos meus parentes, todos eles embrulhados em caixas com papéis coloridos. Apenas uma caixinha pequena estava longe de todo o resto.

- Chegou hoje, está dizendo que é o mais especial, deixei separado. Vou arrumar aquela bagunça e você abre seus presentes.

Fui até o pacote misterioso e o abri com todo o cuidado. Uma aliança. "Acho que devemos avançar nessa jornada, juntos. Quer namorar comigo?"

Duas coisas a quais eu não sabia reagir muito bem e em um único dia: festa surpresa (nem tão surpresa) e pedido de namoro surpresa. Pedido de namoro surpresa de verdade.