IV

36 3 0
                                    

A vida é cruel e boa em vários momentos do dia. Saber que para se viver basta estar vivo é excelente. Mas saber que devemos viver um dia de cada vez é doloroso, pois talvez o amanhã nunca chegue.

Há vários dias já não conseguia falar com Heitor. Amigo de infância, jamais o esqueceria e ele sabia disso.

Dizem que amizades formadas durante a infância e carregadas até a minha fase (adulta?), costumam durar uma vida toda, ou até além disso.

Me distanciar de alguém já era difícil quando eu queria, era mais difícil ainda quando o ato de se distanciar era forçado por algo ou alguém. Muitos acham que eu não me importo muito com isso, já que não fico triste com essas coisas. Mas o que poucos sabem é que me afeta e muito.

Heitor havia se mudado e esse foi o motivo de nosso distanciamento forçado. Os pais decidiram que seria melhor irem para outro estado, o filho precisava se cuidar. Mas não quiseram entrar em detalhes.

Não me importaria de ver meu amigo ir, desde que seja para o seu bem, mas queria ao menos dar a ele um "tchau", "até logo", ou até mesmo um "adeus". Eu somente queria a chance de dar a ele uma última palavra que saísse da minha própria boca.

Mas a vida tem dessas, as vezes as pessoas vão embora sem dizer nada, nem todos conseguem se despedir. Acham que é um ótimo jeito de deixar apenas as coisas boas. E talvez Heitor só quisesse isso para mim. É o mesmo que desejo para ele.

(Dedico esse capítulo a Caio, uma pessoa que fez por pouco tempo parte da minha vida, descanse em paz.)

EspatódeaOnde histórias criam vida. Descubra agora