cap.6 Quem é você?

20 7 0
                                    

3 dias. Eu passei exatamente 3 dias em estado de coma e acordei com dores terríveis. Meus olhos demoraram a se adaptar a luz daquele lugar,onde é que eu estava afinal?
Grandes olhos azuis acidentados me fitavam,meio curiosos.
Olhei para aquele rapaz que me observava e o avaliei por um instante. Alto,pele clara,moreno,olhos penetrantes... Definitivamente eu nunca o tinha visto na vida,fiquei embaraçada e senti minhas bochechas queimarem,e antes de eu conseguir falar qualquer coisa,ele percebeu meu embaraço,sorriu e aaah... Que sorriso.

— Oi.— falou o desconhecido ainda sorrindo.

— Oi.— respondi tentando retribuir o sorriso,mais minhas costas doíam demais, então fiz uma careta involuntária.

— Algum problema?— perguntou arqueando a sombrancelha.

— Minhas costas...— respondi com os olhos fechados de tanta dor.

— Vou buscar ajuda.— disse ele é saiu em seguida.

Minutos depois ele estava de volta com uma enfermeira e uma mulher de mais ou menos meia idade,que eu também não conhecia.
A enfermeira pôs um remédio no meu soro e a senhora correu pra mim e segurou minha mão.

— Nick,minha filha! Que bom que você acordou.—disse tentando beijar minha mão.

FILHA? AQUELA MULHER HAVIA ME CHAMADO DE FILHA,FOI ISSO MESMO QUE EU OUVI?

Por um impulso e instantaneamente,puxei minha mão antes mesmo dos seus lábios o tocarem. Tenho certeza que de todas as reações possíveis,aquela era a reação que a mulher menos esperava,vi seus olhos marejarem.

— Nick? Tá tudo bem?—perguntou com cuidado,temendo a resposta.
Respirei fundo antes de perguntar séria:

— Quem é Nick?—a mulher pareceu espantada  e olhou para o rapaz com um olhar desolado,como de quem pede ajuda.

— Nick é você.—disse o rapaz com cuidado,atento a minha reação,olhou nos meus olhos antes de continuar: —Domynick Ferrari,para ser mais exato.

Então esse era o meu nome...

Você não se lembra do seu próprio nome filha?—perguntou a senhora com uma expressão assustada.

— Desculpa,mais...—comecei exitante.— Quem é você?—a mulher empalideceu,vi seus olhos encherem de lágrimas e ela cairia se o rapaz até então desconhecido pra mim, não tivesse a amparado.

— Minha filha não se lembra de mim Ethan!—gritou em meio aos soluços—Simplesmente não lembra...

O rapaz,que agora eu sábia que se chamava Ethan,a envolvia com os seus braços,incapaz de falar qualquer coisa. Confesso que aquela cena me deixou com o coração partido,uma pessoa aparentemente boa estava sofrendo por minha culpa,o que era pior: a minha mãe! Certo que eu não me lembrava dela,mais eu acreditava que ela estava falando a verdade,no fundo eu sentia... Antes mesmo que eu me desse conta,eu já estava chorando também.

— Desculpas,mil desculpas...—falei em meio aos soluços— Eu queria me lembrar,juro que queria...—tentei enxugar as lágrimas com as costas das mãos e noto pela primeira vez que estou com o braço direito quebrado.— Droga de braço...—murmuro.

Os dois vieram em minha direção.
Ele segurou a minha mão, enquanto ela me fez cafuné.

— A culpa não é sua minha querida.—disse ela com doçura.

Nos acalmamos juntas,e o remédio que a enfermeira havia entrado no meu soro finalmente fez efeito,com o cafuné e as palavras doces que ela me dizia,e o Ethan ainda segurando a minha mão,adormeci.

***
Acordei com uma conversa que provavelmente vinha do corredor:

— Como isso é possível,doutor? Minha filha não lembra de nada...

— Não sabemos como isso aconteceu senhora,ela não sofreu nenhum ferimento grave na cabeça,vamos precisar de alguns raios-x pra sabermos se foi algum ferimento interno.

— Ela não vai lembrar de nada doutor? Nem do mal que fizeram a ela? Sem a ajuda dela vai ser impossível identificar os agressores...—ela disse com voz preocupada e um arrepio percorreu minha espinha.

— Ainda não sabemos,tudo depende da reação que ela terá esses dias,talvez ela se lembre de alguma coisa,talvez não.— o médico respondeu sincéro.

Ouvi a conversa em silêncio,sábia que eles se referiam a mim pelo fato dela ter me chamado de filha,mais precisava tirar algumas dúvidas sobre aquela conversa,é assim que a senhora veio me visitar novamente eu  não hesitei em perguntar:

— O que aconteceu comigo?

— Como?–rebateu,confusa com a minha pergunta repentina.

— Como foi que eu fiquei assim.—disse olhando para o meu corpo.

— Você quer mesmo saber?

— Sim.—respondi sinceramente.

— A exatamente 4 dias atrás você saiu pra ir pra faculdade,estava feliz já que era a sua primeira semana de aula de jornalismo...—ela olhava pela janela enquanto me contava,parecia pensativa.— Você deveria ter chegado as 22hrs da noite,no máximo,mais você não apareceu. Na manhã cedo do dia seguinte eu corri pro seu quarto pra saber se você tinha chegado,e não tinha... Eu senti que alguma coisa tava muito errada sabe?—eu fiz que sim com a cabeça.— Fui a delegacia o mais rápido possível prestar depoimento por desaparecimento,e horas depois,um pouco depois da hora do almoço recebi uma ligação do delegado avisando que uma moça tinha sido encontrada jogada na beira da cachoeira. Você foi jogada na cachoeira Domynick, ribanceira abaixo,sabe a dimensão disso? Você,minha única filha foi encontrada espancada,machucada,com marcas de violência...—seus olhos já estavam cheios de lágrimas.— Tudo indica que você foi estuprada.

Engoli em seco. Estuprada...  Horas depois essa frase ainda ecoava na minha cabeça.

Quem Sou Eu?Onde histórias criam vida. Descubra agora