Um estudo sobre as Lunares

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Quando Haluna a levou de volta para o quarto, Aubrey teve uma surpresa. O quarto não era o mesmo. Se tinha duas camas ao invés de uma e era bem mais espaçoso. Haluna fechou a porta deixando Aubrey sozinha com uma garota. Parecia ter a mesma idade de Aubrey mas era mais alta. Tinha a pele escura e os cabelos presos em uma trança como Haluna usava. Ela sorriu quando Aubrey de aproximou, tinha o sorriso caloroso e os olhos castanhos. Ela colocou o livro que estava em suas mãos na mesa ao lado da poltrona e se levantou.
- Eu sou Meg. E eu sei seu nome. – Ela esticou a mão para Aubrey aperta-la. Depois de Aubrey fazer o cumprimento, Meg se sentou novamente indicando a outra poltrona para Aubrey se sentar. As duas estavam sentadas quando Meg disse. – Eu sou sua Lunar guia. Vou colocar você a par de tudo.
- Pensei que Haluna seria a guia. – Aubrey encarou a garota com interesse.
- Ela é a guia de todas as iniciantes. – Meg disse. – Faz três meses que estou aqui mas eu sei de tudo e por isso me instruíram a ficar com você. Você é nova e não é de família que conhece a magia. Eu já nasci para ser uma lunar. Você foi descoberta depois.
Aubrey assentiu. Felizmente tinha Meg ali para esclarecer suas dúvidas e receios. Finalmente teria suas respostas.
- Você vai responder tudo que eu perguntar? – Aubrey disse. Meg assentiu demonstrando confiança. Aubrey pensou e depois perguntou. – O que é uma lunar?
- Lunares são mulheres que canalizam o poder da lua. Existem vários tipos de magia em todo o mundo. Forças da natureza. A nossa é essa. A lua. – Meg abriu o livro em uma página e mostrou a Aubrey a mesma gravura que viu na porta. Mulheres de branco em volta da lua. – Gostaria de saber tudo sobre as lunares da fortaleza?
Aubrey fez um sinal de sim com a cabeça.
- Muito bem. Vamos começar com as principais lunares. Existem três hierarquias na fortaleza. Alta, média e baixa. – Meg se levantou, serviu agua para as duas em taças de vidro e voltou a falar. – Somos baixas porque somos iniciantes. As altas são as mais poderosas e somente três detém esse poder.
- Elinor é uma das altas. – Aubrey compreendeu. Quando se conheceram, Elinor disse que era a alta lunar. – É isso?
- Sim. Ela, Garva e Kelene são as altas lunares. – Meg tomou um gole de agua. – São as únicas, pois para se tornar uma lunar, devem conseguir mudar de forma.
- Mudar de forma. – Aubrey franziu a testa. – Como assim?
- Devem se transformar em um animal da lua. – Meg respondeu. Ela parecia saber de tudo e ainda mais. – Elinor se transforma em coruja por exemplo.
- Podemos continuar amanhã? – A cabeça de Aubrey estava latejando. Era muita informação. – É muita coisa para digerir.
Meg riu.
- Tudo bem. – Meg apagou as velas que iluminavam o quarto, deixando só uma suficiente para saber onde andavam. O que mais impressionou Aubrey, foi que ela fez isso com um gesto na mão esquerda – Boa noite, Aubrey.
- Vou aprender a fazer isso? – Aubrey perguntou indo para a cama.
- E muito mais. – Meg sorriu e se deitou.
- Boa noite, Meg. – Aubrey fechou os olhos e adormeceu rapidamente.
Aubrey sentiu uma mão sacudindo seu corpo, abriu os olhos e viu que todas as velas estavam acesas novamente. Era tão estranho acordar e dormir e ter o quarto de uma mesma maneira. Não havendo janelas era parecido com uma prisão.
- Vamos comer. – Meg sorriu para Aubrey e levou a ela uma bandeja de prata repleta de frutas. – Hoje teremos a iniciação das novas lunares. Você deve saber como funciona.
Um arrepio correu por toda a espinha de Aubrey. Uma coisa era ficar trancada no quarto. Outra completamente diferente era se apresentar para pessoas. Aubrey nunca foi de ter muitos amigos. Só teve o irmão e os pais. Meg ainda era uma novidade. Era diferente. Mesmo conversando com ela, não a via como uma amiga.
- Não...eu...tenho vergonha. – Aubrey começou a respirar ofegante. – Você já é uma lunar?
- Calma. Sou uma lunar baixa. Quando você se tornar, será igual a mim. Vamos continuar nesse quarto juntas. – Meg disse, ajudando a tranquilizar Aubrey. – É bem simples. Você é apresentada ao conselho. O conselho é composto pelas três altas, por cinco médias e por um solar. Terão mais iniciadas com você, isso ajudará a passar a vergonha. Eu também estava muito nervosa na primeira vez.
- E como é? – Aubrey estava preocupada com a cerimonia. Nunca fizera coisas assim. Foi criada no campo em uma pequena casa de madeira. Comiam o que plantavam.
- O teto do grande salão é de vidro. – Meg se levantou e abriu uma gaveta na cômoda. Tirou de dentro papel, pena e um tinteiro. Ela mergulhou a pena e começou a desenhar conforme ela falava. – Toda vez que há uma iniciação, a lua estará cheia. Desde os primórdios é assim. É o destino que faz a iniciação na lua cheia. Você e as outras se ajoelharão perante o conselho e jurarão suas vidas à lua. Você passará a se chamar Aubrey Moon.
Aubrey assentiu. Isso não serviu para acalentar o seu coração. A fez ficar ainda mais nervosa. Seu corpo todo tremia.
- Não precisa ter medo. – Meg colocou a mão levemente em seu braço. – A vida de uma lunar não é tão ruim. Futuramente quando você se tornar uma média, poderá se tornar professora aqui na fortaleza, ou se casar com um solar, ou...
- Espera. – Aubrey franziu a testa. -  Se casar com um solar?
- Sim. – Meg terminou o desenho e mostrou a Aubrey. Ela desenhava bem. No desenho havia um salão com teto redondo. Tinha pilares e era bem bonito. – Muito longe daqui, há uma fortaleza igual a essa. É chamada Fortaleza do sol. Em vez de mulheres, só são admitidos homens no ensino de magia. Os solares canalizam a magia do sol, do mesmo modo que nós da lua. Lunares só podem se casar com solares e vice-versa. Para ter o equilíbrio, deve haver um solar aqui e uma lunar lá na Fortaleza do sol.
Aubrey aos poucos começava a compreender. Não sentia mais o medo que sentia inicialmente. Melhor ficar em um lugar onde a queiram do que em um lugar onde a detestam, como era em sua casa.
- Quer dar uma volta? – Meg disse, tirando uma chave do bolso do vestido branco. – Depois de três meses uma baixa pode andar por toda a fortaleza. Deseja conhecer?
- Claro! – Aubrey disse se levantando e puxando o véu para cima do rosto. Meg fez um sinal de não e tirou o véu.
– Véus só são usados para impressionar forasteiros. Haluna certamente apareceu de véu para você. É uma tradição bem estranha. – Meg girou a chave na fechadura. O símbolo da lua com as mulheres envolta brilhou e a porta se abriu. – Você ainda não é uma lunar mas como eu sou sua guia, posso levar você onde eu quiser.
As duas saíram para fora. Um corredor repleto de velas surgiu. Era largo e iluminado.
- Por que não há janelas? – Aubrey perguntou passando a mão na parede branca. Era fria.
- Lunares não podem ficar muito no sol. – Meg pegou no braço dela. Aubrey nunca teve contato assim com alguém. Nem a família se tocava. Ela não se afastou. Meg estava ajudando muito. Começava a gostar dela. – Quando você se tornar uma lunar, sua magia será lunar. A lua te deixa forte. Apesar de serem aliados, o sol e a lua enfraquecem os seus opostos dominantes de magia.
Aubrey assentiu. Meg a levou por mais corredor. Chegaram em um corredor diferente. Tinha janelas. A luz do sol entrava em feixes tão iluminados que os olhos de Aubrey arderam.
- Esses são os aposentos do solar que vive aqui. – Meg puxou o braço de Aubrey. – Vamos agora aos jardins.
Quando as duas se viraram para ir embora, Aubrey sentiu um impacto contra seu rosto. Meg soltou seu braço. A cabeça bateu em algo duro. Olhou para cima. Aubrey nunca tinha vislumbrado muitos homens. O pai e o irmão eram os únicos que ela viu. O Lorde que um dia foi em sua casa não era tão bonito... Mas o homem que estava a sua frente era lindo. Tinha os cabelos loiros como a luz que o sol emana. Os lábios eram carnudos, os olhos verdes. Uma barba que começava a nascer fazia seu rosto ficar ainda mais lindo. Ele a encarou por alguns instantes.
- Me desculpe. – Ele disse. Colocou as duas mãos nos ombros de Aubrey e a olhou fundo nos olhos. Aquele toque fez a pele de Aubrey se arrepiar. – Você se machucou?
- Não, eu... estou bem. – Aubrey viu que ele não tirava os olhos dos seus. Pareciam se olhar por muito tempo.
- Você é nova? – Ele tirou as mãos dos seus ombros e sorriu. – Me desculpe, não me apresentei. Sou Ryan Sun. Você é?
- Aubrey. – Ele ofereceu a mão e ela o cumprimentou. Eles continuaram se olhando até que Meg interviu.
- Ela é uma iniciante, Ryan. – Ela pegou novamente no braço de Aubrey. – E já estamos indo.
- Foi um enorme prazer, Aubrey. – Ele pegou em sua mão e deu um leve beijo. Os lábios eram macios, iguais a sua mão. – Espero vê-la de novo.
Aubrey sorriu e acenou com a cabeça. Meg a puxou e ela foi junto. Quando olhou para trás, viu que ele a olhava ainda.
- Nossa! – Meg disse depois de se afastarem e ele sumir de vista. – Ele falou com você! Ele nunca fala com ninguém. Todas as lunares são a fim dele e ele falou com você! Garota, você é muito sortuda.
Aubrey só conseguiu dar uma risadinha nervosa. Não parou de pensar em como Ryan a olhava.

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