Amor proibido

163 21 0
                                    

3 semanas depois

O suor escorria por sua testa. Havia treinado o dia todo e mesmo assim não queria parar. Ela e Meg estavam tão empenhadas em evoluírem de posição que não tinham outro assunto a não ser sobre o treino. Estavam ela e a amiga agora olhando uma para a outra, sem mover um musculo. A sala de treinos estava meio lotada. Várias lunares se juntavam, exatamente do mesmo jeito. Pernas cruzadas e de frente a outra colega. Os exercícios de Elinor eram os mais difíceis.
- A concentração é a alma da magia. – Elinor caminhava no meio delas. Usava calças brancas, botas e camisa da mesma cor. As roupas de treinamento das lunares eram quase parecida com a roupa que os solares usavam. Ryan sempre usava aquele tipo de roupa com símbolos do sol e a cor amarela. Não. Não podia pensar em Ryan agora. Não podia se distrair. – Sem a devida concentração, não se consegue nem levitar um grão de poeira. O único momento na vida de uma lunar onde não se tem concentração para usar magia, é quando os poderes despertam. O motivo de vocês serem trazidas até nós.
Meg girou os olhos para cima. Aubrey fez uma extrema força para não rir. Graças a mãe lua ela não riu. Elinor se aproximou das duas.
- Agora, meninas. – Elinor disse a elas e à turma em geral. – Quero que levitem. Se tiverem a concentração. Conseguirão. Pensem no ar. Pensem na lua. Nas estrelas. Sintam-se nas nuvens.
Aubrey respirou fundo e fechou os olhos. Nas ultimas aulas, ela se saiu bem melhor do que as outras lunares quando tentou levitar. Ficou uns dois segundos no ar. Agora ela lançava tudo que tinha aprendido. Sentiu leve. Começou a sentir o ar em volta de si mudar. Os fios de seu cabelo levitaram para cima junto com o corpo. Não ousou abrir os olhos para interromper a concentração.
- Aubrey está se saindo bem melhor do que vocês. – Aubrey ouviu a voz de Elinor. – Aubrey. Tente fazer com os olhos abertos.
Aubrey respirou fundo novamente e dessa vez abriu os olhos. Estava vários centímetros do chão. Seu corpo estava próxima a cabeça de Elinor. Nunca conseguiu subir tão alto. Sorriu de orgulho. Não devia ter feito isso. Caiu com força no chão e sentiu uma dor profunda nas costas. Meg correu para ajudar.
- Ótima levitação, porém péssima descida. – Elinor afastou Meg e ofereceu o braço a Aubrey. – Deve ter mais concentração, lunar. Apesar disso, parabéns. Aula finalizada por hoje.
Elinor começou a levitar. Todas se levantaram para observar a maestria de como ela conseguia. De pé e com os braços abertos ela subiu. Alto e mais alto.
- Ainda vou conseguir fazer isso. – Meg comentou com Aubrey. – Parece fácil.
Elinor deu um giro muito rápido no ar. Enquanto girava, o corpo brilhou com uma intensidade capaz de cegar. As lunares fecharam os olhos e esconderam o rosto com as mãos. Quando elas olharam novamente, uma coruja branca voava para fora da sala.
- Eu queria fazer era isso. – Aubrey achava incrível as transmutações das altas. Apesar de só ter visto Elinor virando coruja e Kelene virando lobo. Garva, além de ser muito misteriosa, nunca se transformou para as lunares. – Vamos.
Ela e Meg deixaram a sala aos risos, indo para os corredores brancos da Fortaleza. Andaram por alguns minutos até chegarem ao corredor das janelas. Era muito claro e demorou para os olhos de Aubrey se acostumarem. Meg olhou para ela com seu olhar travesso.
- Eu vou vigiar o corredor. – Meg levitou uma pedra e jogou na porta do corredor claro. – Qualquer coisa eu grito.
Meg se afastou deixando Aubrey sozinha. Fazia umas duas semanas que ela estava fazendo isso. Ignorou completamente os conselhos de Garva. A porta se abriu e Ryan saiu lá de dentro todo sorrisos. Ele correu e pegou Aubrey pela cintura. Ela segurou em seus ombros para não cair. Não devia estar fazendo aquilo, mas era tão bom. Ele se aproximou e os dois se beijaram. Os beijos de Ryan eram sempre como o sol, calorosos. Aubrey nunca havia beijado ninguém e ela supôs que Ryan já beijou muitas garotas. Aos poucos ela foi aprendendo e descobriu que era bom.
- Me coloca no chão. – Aubrey riu baixo e deu um tapinha no ombro de Ryan. Ele a colocou no chão e a envolveu com seus braços. Hoje ele estava de túnica amarela e os cabelos presos atrás em um rabo. Lindo. – Eu tenho que ir.
- O que? – Ryan a olhou nos olhos e fez uma cara de bravo. – Só nos encontramos uma vez por dia e é só por uns minutos.
- Sorte sua que ainda nos encontramos. – Aubrey tirou os braços dele de sua cintura e aconchegou suas mãos no rosto dele. – O que estamos fazendo é proibido. Se nos pegarmos, eu sou expulsa e você não.
- Eu me expulsaria só para ficar com você. – Ryan tinha um jeito de convence-la, mas não podia se enganar. Tinha um novo proposito na vida agora, não podia deixar tudo ir em vão. – Amanhã eu volto. Prometo.
Aubrey ouviu um grito abafado, parecido com uma tosse. Levou algum tempo para entender. Quando entendeu arregalou os olhos.
- Vem vindo alguém. – Aubrey empurrou Ryan com força para o corredor. – Entre. Anda.
Ele puxou ela e deu um beijo rápido em seus lábios. Aubrey empurrou ele de novo e finalmente ele entrou no quarto. Nesse exato momento, uma mulher apontou no corredor. Kelene. Ela pareceu confusa quando a viu.
- Aubrey? – Kelene franziu a testa. – O que faz por aqui? Não devia estar com Meg? Ela pareceu estranha no corredor.
- Eu... – Aubrey pensou em mil desculpas, mas a pior saiu de sua boca. – Eu me perdi.
- Três semanas na fortaleza e ainda se perde? – Kelene fez algo que Aubrey nunca pensaria que faria naquele momento. Riu. – Eu tenho mais de cento e cinquenta anos e ainda me perco em alguns lugares, pequena.
Aubrey riu nervosa, fez uma reverencia e se retirou. Quando olhou para Meg encostada na parede soltou o ar, aliviada. Riu enquanto contava a Meg o que aconteceu.
- Tem que ser mais cuidadosa. – Meg disse. Ela parecia insegura. – Posso fazer uma pergunta bem indiscreta?
- Claro. – Aubrey olhou para ela, desconfiada.
- Vocês já... – Meg fez um sinal com a mão nem um pouco delicado.
- Não! – Aubrey quase riu, mas viu a cara seria de Meg. – Eu nunca fiz isso. Por que está tão assustada? Eu sei que só posso fazer isso quando for média, e mesmo assim não tenho tanto interesse.
- Eu tenho. – Meg riu. – Deve ser tão prazeroso.
Aubrey riu dela e as duas deram os braços e foram andando pelo corredor. Quando finalmente chegaram no corredor do quarto delas, tiveram uma péssima surpresa. Uma lunar estava caída no chão, tinha o vestido branco manchado de vermelho. Sangue. Meg gritou. Aubrey conhecia aquela garota. Estudava com elas. Era uma baixa, de nascimento nobre. Filha de uma lunar e um solar. Aubrey se ajoelhou, sem medo. Tocou o rosto da pobre garota e examinou de onde saia o sangue. Um grande ferimento no peito, direto no coração. Muitas lunares chegaram devido ao grito de Meg. Muitas ostentavam expressões chocadas. Uma morte na fortaleza. Assassinato. Um vestido negro se aproximou da multidão. Garva segurou o ombro de Aubrey e a puxou para trás. Pegando o corpo do chão em seus braços, sem demonstrar nenhum esforço, ela se virou para as lunares.
- Quero todas no grande salão imediatamente. – Ela saiu pelo corredor com o corpo nos braços. A tensão pareceu surgir por todos os lados.
- Quem faria uma coisa dessas? – Meg tinha o rosto vermelho e inchado pelas lagrimas.
- Vocês estavam aqui. – Uma lunar de cabelos vermelhos chamada Isabel se aproximou e olhou para as duas com um certo desprezo. – São as primeira suspeitas.
- Estávamos voltando da aula. – Aubrey disse. – Como você. Pode ser qualquer uma de nós.
- Ninguém aqui tem motivo para matar outra lunar. – Isabel continuou. – Já a descendente de Ysmatiz tem.
O nome pareceu deixar todas ali mais tensas ainda. Ysmatiz era a ancestral de Meg. A lunar que resolveu adotar o sol como pai. Meg havia lhe contado a história. Ysmatiz adquiriu muito poder. Mas nunca mais foi a mesma. Ela era conhecida por dizimar populações e pessoas por puro prazer. Dizem que sempre quando ela estava prestes a matar alguém, ela cantava uma melodia insana que deixava a pessoa mais apavorada ainda.
- Vamos embora, Meg. – Aubrey pegou Meg pelo braço e a levou dali. Meg desatou a chorar. Apesar de falar muito, Aubrey era a única amiga dela. Sabia que ela era muito frágil e tímida. As outras lunares não tinham o que suspeitar dela.

A LunarOnde histórias criam vida. Descubra agora