Aubrey voltou para o quarto junto de Meg, que não disse uma palavra. As lunares que andavam nos corredores ficavam aos cochichos, com certeza falando sobre o fracasso de Meg e o sucesso de Aubrey. Ela não gostava nada disso. Quando chegaram no quarto, uma garota estava ali. Tinha uma bolsa que parecia cheia em mãos.
- Quem é você? – Aubrey perguntou intrigada.
- Terez. – A garota respondeu, colocando a mala na cama de Aubrey. – A nova colega de quarto de Meg.
- Nova? Eu moro aqui. – Aubrey disse.
- Quando se torna assistente, deve se mudar para os aposentos da alta. – Meg disse em um sussurro. – Imediatamente.
Aubrey não queria aquilo. Meg parecia estranha desde a roda da fortuna. Parecia triste, mas de uma maneira estranha.
- Eu não...
- É a regra! – Meg disse alterando a voz. O que assustou um pouco Aubrey. – Vá logo. Tem o cargo dos sonhos. Pare de drama.
Aubrey encarou a amiga. Depois, juntou suas coisas e colocou em uma bolsa. Pensou em ir dar um abraço em Meg, mas a amiga virou de costas. O que estava dando nela? Não era culpa de Aubrey ela ter ido mal na roda da fortuna. Aubrey não tinha nada a ver com aquilo. Saiu sem dizer uma palavra.
***Os aposentos de Garva ficavam do lado do seu salão de aulas. Aubrey bateu na porta. Esperou um tempo até ouvir passos e a porta se abrindo. Garva usava seu habitual preto, porém tinha os cabelos presos. Isso passava algo mais natural nela. Seu rosto se envelhecia dando um aspecto de sabedoria.
- Aubrey Moon. – Ela disse, abrindo caminho para ela entrar. – Seja bem-vinda.
Aubrey entrou, notando o grande cômodo. Todos os moveis eram negros. A lareira crepitava com o fogo branco das lunares. As paredes eram recheadas de livros, assim como no aposento de Elinor, só que esses livros pareciam ter características mais místicas ainda. As capas eram todas pretas e pareciam mais velhos e grossos. Garva a guiou até outro cômodo que era menor, mas do mesmo modo daquele. Havia uma cama negra, uma escrivaninha, poltronas e uma lareira apagada.
- Aqui é seu novo quarto. – Garva disse. – O meu fica logo ao lado e eu não gosto de ser incomodada nas minhas horas de descanso. O jantar é servido no cômodo principal e é uma ótima maneira de conversarmos. Se arrume que logo ele estará servido.
- Garva. – Aubrey disse antes dela se retirar. – Porque me escolheu?
Garva saiu sem responder sua pergunta. Aubrey iria faze-la de novo no jantar.
***Depois de se trocar, Aubrey foi para o cômodo principal assim como lhe foi ordenado. Ali estava posto uma mesa redonda com vários pratos repletos de comida de onde vinha um cheiro delicioso. Garva a esperava sem tocar em nenhum dos pratos. Aubrey se sentou de frente para ela e as duas se serviram. Aubrey não sabia o momento certo de falar com ela. Era algo frustrante. Antes que Aubrey pudesse pensar em alguma maneira de falar. Garva falou primeiro:
- Você já ouviu a história da grande sacerdotisa? – Garva disse, logo após tomou um longo gole de vinho.
- Meg já me disse algo assim. – Aubrey parou de comer. – O trono no salão das lunares já foi ocupado antes.
- A última grande sacerdotisa morreu há muito tempo. – Garva dizia com seriedade. – Ela era a lunar que tinha maior conexão com a mãe lua. Ela podia ditar regras e comandar em toda a Fortaleza.
- Os solares tem um alto sacerdote? – Aubrey, curiosa, começou a se interessar pelo assunto.
- Sim. – Garva respondeu. – Os solares sempre foram mais numerosos que nós. Eles tem sete altos solares e um grande sacerdote.
Aubrey assentiu com a cabeça, recomeçando a comer devagar. Garva se levantou e foi até uma estante. De uma alta prateleira, ela retirou um livro grosso e castigado pelo tempo.
- Gostaria que lesse esse exemplar, Aubrey. – Ela arrastou o livro até o prato de Aubrey. – Sabe ler, não é?
Aubrey assentiu novamente com a cabeça, concordando. Havia aprendido a ler recentemente, mas Garva não precisava saber disso. A capa do livro era azul com o título escrito em branco.
- As profecias de Undry. – Aubrey leu em voz alta. Garva a encarou.
- Undry foi a última grande sacerdotisa a se sentar no trono e liderar as lunares. – Garva se levantou. – Ela escreveu nesse livro profecias que indicariam a próxima grande sacerdotisa a se sentar no trono.
Garva foi se retirando. Não disse mais nada a Aubrey.
- Garva! – Aubrey se levantou com o livro na mão. Estava muito curiosa. Por que Garva queria que ela lesse esse livro? – Por que quer que eu leia essa livro?
Garva parou de andar. Se virou para Aubrey e caminhou até ela. Aubrey quase deu um grito de susto quando Garva sorriu. Isso era impossível. Garva era conhecida por nunca mover um musculo em suas expressões faciais. Aubrey deu um passo para trás.
- Você é muito curiosa, lunar. – Ela continuou sorrindo. Isso a deixava mais jovem, mais bonita. – Você me faz lembrar de quando entrei na Fortaleza pela primeira vez. Cheia de perguntas. Terá que se controlar nas perguntas se quiser se dar bem comigo.
Ela se virou e continuou a ir rumo ao próprio quarto.
- Garva... – Aubrey chamou novamente. Ela se virou. Aubrey acabou abrindo um sorriso. – Não respondeu minha pergunta. Por que quer que eu leia o livro de Undry?
- Porque Undry relatou vários sinais da nova grande sacerdotisa nesse livro. – Garva respondeu, voltando a seriedade de sempre. – O primeiro deles, é uma lunar baixa conseguindo conjurar fogo azul. Boa noite Aubrey.
Garva foi para seu quarto, fechando a porta. Deixando uma Aubrey totalmente chocada para trás. Aubrey havia feito fogo azul na roda da fortuna. Seria esse o motivo de Garva ter escolhido ela? Seria por isso que todas as lunares ficaram chocadas com ela na roda da fortuna? Aubrey, a lunar baixa que havia chegado na fortaleza depois de ser vendida pelos próprios pais e trazida por um captor que a tratou como um animal, estaria destinada a grandeza. Aubrey seria a nova grande Sacerdotisa?
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A Lunar
FantasíaAbandonada pelos pais por considerarem ela perigosa, Aubrey é levada para uma sociedade de mulheres místicas que canalizam a energia da mãe Lua para obter magia. Após algum tempo, ela se sente em casa, mas as coisas nem sempre são flores. Um antigo...