Ameaça

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Aubrey estava sentada em sua cama, abraçando as próprias pernas. Mais cedo naquela noite, ela havia relatado a Garva seu sonho. Ela ouviu tudo antes de perguntar qualquer coisa. Aubrey ficou lembrando do que Garva perguntou quando ela a contou.
- Disse que viu guerreiros usando preto? - Garva perguntou enquanto se sentava na escrivaninha da sala principal.
- Sim. - Aubrey respondeu na mesma hora. - Por favor, sinto que é um aviso.
- Vá dormir. - Garva se levantou com as mãos entrelaçadas na frente do roupão negro. - Amanhã irei...
- Amanhã? - Aubrey levantou para ficar de frente a Garva. - Eu te disse que a fortaleza pode estar correndo perigo! Se você me ouvisse e organizasse...
Garva elevou a mão direita. Pedindo silêncio.
- Aubrey... Se fosse qualquer lunar e me relatar esse sonho, eu não daria atenção. - Garva disse séria. - Você ter um tipo de sonho assim reforça ainda mais minha teoria sobre você. Vá dormir e amanhã conversaremos.
Agora Aubrey estava ali em seu quarto. Sozinha. Pensando em cada detalhe do sonho que pareceu tão real. Não tinha ninguém com quem conversar. Se animou um pouco por ter aula de Elinor amanhã, o que poderia ser ótimo para se encontrar com Meg. Se é que Meg se encontraria com ela.

                            ***

Aubrey passou a noite em claro. Quando o sol surgiu e as velas de chamas brancas foram acesas, Aubrey ja estava pronta. A água da banheira que foi trocada de manhã estava gelada, porém ótima para os nervos. Garva havia saído cedo, o que a deixou sem oportunidade de falar com ela. Aubrey fez sua trança de lado e saiu rumo ao salão de Elinor.
Os corredores estavam abarrotados de lunares ansiosas para o começo da aula de Elinor. Quando Aubrey finalmente chegou na grande porta, Meg estava ali, a esperando.
- Oi... - Meg disse tímida como sempre. Era estranho ela ser tímida com Aubrey, que era sua melhor amiga. - Me desculpe por...
- Tá tudo bem, Meg. - Aubrey lhe deu um abraço forte. Ficou tão feliz por elas estarem bem. - Vamos.
As duas entraram e foram para seus lugares. O salão de Elinor não tinha mesas nem cadeiras. Tapetes brancos para cada lunar estavam posicionados por todo o salão. Aubrey se sentou de frente para Meg como costumavam fazer.
O pio da coruja que voava pelo salão fez Aubrey sorrir. Era isso que ela sempre quis ser. Uma lunar. As aulas eram sempre uma alegria para ela.
A coruja mergulhou do teto para o piso, se transformando em Elinor na descida. Os aplausos encheram o salão. Elinor usava seu habitual lindo vestido branco, com o cabelo branco solto nas costas.
- Obrigada, meus amores. - Elinor sorriu para todas. Os aplausos cessaram e ela começou a lição do dia. - Primeiramente, queria parabenizar todas vocês pela roda da fortuna. De qualquer cargo, todas vocês foram ótimas para mim.
Elinor fez um sinal para que todas se levantassem.
- A lição de hoje será a...
- Defesa! - Garva entrou no salão, agitando o vestido negro. - Posso falar com você em particular, Elinor?
- É claro, Garva... - Elinor foi em direção a ela. - Mas a lição de hoje seria criar ilusões.
- Depois de minha conversa com você, irá mudar de ideia. - Garva disse. Logo após ela e Elinor entraram em uma portinha no salão, deixando as lunares sozinhas.
O tempo passou e mesmo assim elas não saíram de la. Aubrey começou a ficar entediada.
- Meg... - Aubrey chamou a amiga, que se sentou no mesmo tapete que ela. - Preciso te contar um sonho que tive.
Aubrey relatou com detalhes o seu sonho. Meg, no final, quase tremia de medo.
- Guerreiros de preto? - Meg perguntou com a voz em um sussurro.
- O que isso significa? - Aubrey ficou intrigada. - Garva também perguntou sobre isso...
- Soldados que usam preto servem a... - Meg respirou fundo. - Ysmatiz.
Um grito fez os ouvidos de Aubrey doerem. Todas as lunares se viraram na direção do som alto.
- O que está acontecendo? - Terez, a colega de quarto de Meg, estava flutuando no ar. E cada vez mais, subia para cima. - Socorro!
Elinor e Garva se aproximaram correndo depois de ouvirem os barulhos.
- Quem está fazendo isso? - Elinor gritou olhando para todas ao redor. - Pare com essa brincadeira imediatamente!
"Não estou brincando com ninguém"
A voz ribombou por todo o salão. Era feminina, mas grossa e com ódio.
- Não... - Garva disse, parecendo saber do que se tratava.
"Parece que vocês não estão preocupadas com o bem estar dessas lunares"
Terez continuou subindo no ar, porém agora ela dava piruetas enquanto subia.
"Uma lunar morta e ninguém fez nada. É uma pena."
- Pare com isso e se mostre, covarde! - Garva gritou sem medo.
"Não está na hora de me mostrar ainda. Quero fazer uma trégua com vocês."
- Não fazemos tréguas com traidoras. - Elinor disse para o ar.
"Terão que fazer. É o único modo da fortaleza ser poupada"
- Socorro! - Uma outra lunar começou a levitar.
- Me ajudem! - Outra também levitou para cima. Essa chorava como um recém nascido.
"Vão embora da fortaleza. Desapareçam para nunca mais voltarem! Só me deixem uma oferenda de boa fé. Me deixem sua lunar mais poderosa."
- Jamais faríamos isso! - Garva gritou novamente. Dava pra ver a raiva transparente em seu rosto.
"Não?"
A voz deu uma risada. A mesma risada dos sonhos de Aubrey.
"Então sentirão a fúria de Ysmatiz"
As lunares que estavam levitando, caíram de uma vez no chão, com uma velocidade que ninguém pôde impedir,  fazendo um barulho horroroso. O barulho da morte.








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