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Viro de lado na cama e sem abrir os olhos volto a dormir. Logo um odor de cigarro incendeia meus pulmões e sou obrigada a tossir. Uma, duas, três vezes. Abro lentamente os olhos e vejo uma sombra masculina a minha frente. Deve ser Apollo. Penso ao observar a sombra escorada na porta de costas pra mim. Mas espera... Como cheguei tão rápido em casa? E desde quando Apollo resolveu fumar?

Rapidamente levanto da cama e fico sentada. Olho ao redor e pra cama que estou deitada e percebo que não estou em meu quarto. Esse quarto é todo preto. Como se alguém estivesse com raiva de algo e após comprar uma tinta bem preta resolveu apenas jogá-la contra a parede. Algumas roupas estão jogadas pelo chão, a janela ainda está fechada e a cama está sem colcha. Apenas com um lençol cinza. Arregalo os olhos e me observo com atenção. Suspiro aliviada. Graças aos céus ainda estou vestida com minha calça e minha regata. Olho pro chão ao lado da janela e vejo meu vans jogado.

"Ótimo Ruby, resolveu transar com estranho agora"?.— Pergunta meu subconsciente mostrando o dedo do meio pra mim.

Começo a me movimentar na cama querendo descer, mas antes de tocar os pés no chão o dono da sombra vira pra mim. E me odeio friamente por estar lhe olhando de queixo caído. Sua bermuda moletom cinza faz um V no cós e um boné preto e branco virado pra trás está sobre sua cabeça. Logo sua boca se abre em um riso zombeteiro e faz com que o cigarro fique preso entre seu dente e sua lingua.

Pisco algumas vezes e tento manter o foco. Kate e seu irmão gato... Ops, gato não... Quis dizer verme. Isso sim verme.

— Pelo jeito você já acordou hein? É, pelo menos uma de vocês tinha que acordar mesmo.—Solta piscando um olho pra mim.

Reviro os olhos.

— Primeiro... O que estou fazendo aqui seu verme? e segundo... Como assim pelo menos uma?

Ele arqueia as sobrancelhas e mantém seu olhar em mim.

— Uau, tem como me vender esse bom humor?

Bufo e ignoro ele. Minha mente tenta processar o que ele diz, mas há uma intensa dor de cabeça se aproximando.

— Responde antes que eu acabe com seu sonho de construir uma familia feliz...— Rosno apontando com o queixo pro amiguinho dele entre as pernas. E ele engole em seco. Pois é play boy até de ressaca consigo ser fria.

—... Tá... É que a outra bêbada tá ali jogada no sofá...

Outra? Como assim? Eu não bebi tanto.... Ou bebi?

— Outra bêbada?— Pergunto quase como um sussurro e ele grunhe impaciente.

— É a Kate.—Diz dando uma baforada no ar e jogando o cigarro no chão, depois o amassa com o calcanhar.

Levanto hesitante da cama.

—... Você quer dizer que eu...

Ele levanta as mãos em rendição e me fuzila com desdém.

— Eita, mas vocês mulheres... Sim você tava bêbada, dançava toda hora... Batia em todos os caras e falava que odiava uma tal de... de... Gi-Ge...

Fecho rápido os olhos, os apertando forte e os abro em seguida. Olho pro chão.

— Genna!— Disparo e ele assente com a cabeça.

Mas o que eu tinha na cabeça? Por que o nome dessa mulher me persegue?

— É, essa ai... Quem é essa?— Indaga curioso, mas não o culpo,  em seu lugar eu faria o mesmo.

Passo as mãos pelo cabelo e sento sobre a cama.

— Desencana... Assunto meu.

Um silêncio fica entre nós e ele resolve quebrá-lo.

— Hum.— Geme como se estivessem pensando em algo.

A dor se torna ainda mais intensa e fecho os olhos novamente. Droga, tinha esquecido o quanto beber demais dói.

— Mas que droga... Minha cabeça vai explodir, que horas são?— Pergunto pensando em Apollo. Ele deve tá uma fera.

— Faltam quinze minutos pras uma da tarde.— Responde sem interesse e levanto ligeiramente da cama.

— Di-di-diz que tá brincando.— Gaguejo arregalando os olhos.

Ele ignora meu jeito atrapalhado e comenta:

— É sério e outra melhor não se apressar tanto.

Entorto a boca. O que ele quer dizer?

— Aé e por que?

Após uma longa olhada no relógio do pulso, avisa:

— Por que faltam alguns minutos ou segundos pra você jogar tudo isso que engoliu pra fora.

Engulo em seco e meu estômago começa a embrulhar.

— Merda!— Esbravejo segurando a barriga com as mãos.

— Eu avisei.— Diz e antes que ele fale mas alguma coisa. Não me contenho e corro na direção da janela do seu quarto. Sem me importar com a presença dele jogo tudo pra fora. Felizmente a casa de Kate não tem andares, por isso tudo que sai por minha boca cai direto no chão. Minha barriga treme enquanto vomito e tudo o que vejo são líquidos amarelos caindo do lado de fora.

— Sei que não precisa saber disso... Mas talvez se tivesse ido ao banheiro seria bem melhor...

Reviro os olhos. Péssima ideia pra lição de moral.

— Cala a boca!— Grito e ele se aproxima de mim.

Recupero o fôlego e observo suas mãos tocarem lentamente meu cabelo. Seus olhos cinzas me analisam condescendentes e o deixo segurar meu cabelo. Após algumas jorradas de vômito pela janela afora. Deixo meu corpo cair no chão. Me sinto cansada.

— Ei... Tá tudo bem?— Pergunta preocupado e ficando de joelhos no chão, próximo de mim, mas mantendo uma pequena distancia entre nós.

— Na medida do possível... Por que me ajudou?— Seus olhos se desviam rapidamente dos meus e ele olha pra um ponto no nada.

Permaneço o observando.

— Por que achei que queria ajuda.— Responde sem rodeios e levanta do chão.

Maneio a cabeça pro lado.

—... Olha se tá pensando que vou agradecer pode esquecer.— Retruco séria e ele ri.

— Beleza gata, não fiz isso pra ser romântico ou pra bancar uma de "bom moço",  na real isso nem faz o meu estilo... Só quis ser solidário.— Acrescenta escondendo as mãos no bolso da bermuda.

Meus olhos ligeiramente se prendem ao seu corpo musculoso e sua barriga sexy. Droga de barriga, e droga de olhos...

Ele percebe que estou lhe olhando e pigarreia. Desvio o olhar dele e amarro o cabelo em um coque frouxo.

—Hum.. Okay. Preciso de um banho...— Solto sem jeito e ele anda até a porta em seguida se escora sobre a mesma e me olha.

— Não preciso dizer onde fica o banheiro ou preciso?

Balanço a cabeça em negativo e abro um meio riso.

— Não, não precisa.— Afirmo levantando do chão e saindo do quarto, mas antes de sair ouço ele sussurrar baixinho: "Fica". Mas ignoro meus ouvidos, talvez esteja ouvindo coisas, é. Quando passamos a noite inteira bebendo é isso que acontece. Ouvimos coisas e principalmente falamos coisas que futuramente nos arrependeremos.

Ringues do coração♥Onde histórias criam vida. Descubra agora