Quando o corpo de Ruan foi encontrado, após derrotarem os calteses, o velho general jurou vingança.
A rainha Paloma deduziu que Emílio Caltês conseguiu escapar e se aproveitando da ira que penetrou no coração de Lorenzo, lhe pediu ajuda para caçá-lo na ilha de Moon e ele concordou na hora.
— Irei até o fim do mundo para encontrar esse rei assassino...
— Que bom — respondeu ela — pois é para lá mesmo que teremos que ir!
Após alguns dias velando o corpo de Ruan e depois o entregando para a última morada no principal cemitério da capital, se iniciaram os preparativos para jornada, que eles não sabiam ainda que seria muito mais curta do que imaginavam.
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Emílio conseguiu fugir até um porto do México, de onde seguiu até Angola na África e de lá alugou um barco que o levou para o seu reino.
Na sua ausência muitos grupos rebeldes aproveitaram para se rebelar e tentar controlar o palácio, mas foi impossível vencer a sua defesa, muito bem estruturada.
Seu povo, ao ver retornar sozinho um homem com uma máscara estranha protegendo o rosto e aparentemente desprotegido, o cercou quando passava pela cidade, imaginando que aquele seria o monarca louco que exterminava a população como se fosse uma praga.
O rei Emílio assassinou friamente alguns que o cercavam, depois correu para o palácio, onde seus homens o acolheram.
Nem bem chegou, trocou a máscara provisória por outra felina, se reuniu com seu conselho e tomou decisões urgentes.
A primeira era varrer a população do seu reino do mapa, que berrava desde a sua chegada nos portões do palácio e que por pouco não o linchou.
— Não quero que matem todos — ordenou ele — preciso de mais homens para ampliar nosso exército, pois percebi que temos um mundo todo de imundície para limpar.
Assim, Emílio saiu na sacada do palácio e enfrentou o seu povo, que por mais que agora o odiasse declaradamente, ainda o respeitava como rei e se calou para ouvi-lo.
— Retornei de um país distante onde o caos reina e descubro que o meu reino não é diferente, então tomei uma decisão que me deixa triste, mas não vejo outra solução.
- Assassino! Covarde! Louco! — berrou a multidão.
O rei pediu silêncio e somente quando o povo se calou, ele continuou.
— Convoco todos aqueles que puderem empunhar uma arma para fazer parte do meu exército. O restante de vocês não me serve mais para nada, são ingratos e inúteis, e assim serão caçados e mortos.
Após mais uma manifestação irada da população que tentava derrubar os portões do palácio, Emílio concluiu sua fala ensandecida.
— Dou uma hora para aqueles que quiserem se apresentar e jurar lealdade a mim, nem um minuto a mais...
O que se viu após o prazo estipulado pelo rei louco foi um verdadeiro massacre, que tingiu as ruas de reino Caltês de vermelho.
Mais de 3000 pessoas, entre jovens e velhos, se apresentaram antes e foram conduzidas para os fundos dos palácios e permaneceram vigiadas, enquanto o reino era tomado pelo terror.
Muitas dessas pessoas faziam parte de grupos rebeldes e resolveram entrar para o exército do rei para se fortalecer e depois encontrar uma forma de conseguir assassinar o cruel tirano.
Porém, entre esse grupo o medo reinava e em alguns dias os revoltosos foram facilmente identificados e depois lançados na floresta, onde Emílio e seus principais homens de confiança mataram a saudade de caçar e ainda aproveitaram para treinar outros soldados em táticas de guerra, pois era para isso que se preparavam.
— Precisamos limpar o mundo de toda essa sujeira reinante — disse ele aos seus comandados, antes de deixarem a ilha de Moon — E vamos começar pelo México, que resolveu acolher a maior traidora que já existiu...
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Paloma acordou assustada de um pesadelo sangrento, onde todo o seu povo era assassinado pelo rei mascarado, que um dia ela amou.
Era a manhã que partiriam em direção ao reino Caltês, mas decidiu, não sabe se devido ao pesadelo, aguardar um de seus homens retornar da viagem que foi designado, com a ordem de buscar pistas do destino do rei Emílio.
O general Lorenzo não entendeu aquela perda de tempo.
— Tenha paciência e confie em mim — a rainha lhe pediu com uma mão sobre o seu peito — Eu sei da dor que o corrói aí dentro, mas algo no meu íntimo me diz para aguardar...
— Eu farei como quer Paloma, mas meu desejo é matar o mais rápido possível aquele vil assassino.
Esperaram por mais uma semana quando o seu súdito retornou com um semblante apavorado. Não era nem de longe o mesmo homem que partira. Estava exausto, faminto e doente.
Assim que ele recebeu cuidados, a rainha e o general foram lhe procurar.
— Conte tudo que descobriu, temos pressa — foi logo dizendo Lorenzo.
— Ele vem vindo... O rei louco vem vindo com um exército.
— Mas como, há poucos dias fugiu daqui... — disse visivelmente assustada Paloma.
— Dizem que ele matou todos da ilha de Moon e da vizinha Maguar e está vindo para cá, para nós caçar...
— Então temos que nos preparar para uma guerra! — decidiu o general, saindo do quarto e os deixando a sós.
— Ele matou todos! — disse novamente o homem chorando, enquanto a rainha tentava consolá-lo, ao mesmo tempo em que também chorava.
Mais tarde procurou Lorenzo com Mariano e juntos discutiram o que poderia ser feito para deter o rei louco e chegaram na mesma conclusão.
Para vencê-lo precisariam de um exército que eles não tinham, mais sabiam muito bem onde encontrar.
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Sob a Máscara
Mystery / ThrillerNa capital do principado de Caltês, na ilha de Moon, a realeza se esconde, literalmente, sob máscaras, num costume antigo para preservar a identidade dos soberanos, que foram jurados de morte há mais de três séculos. O novo sucessor do trono, Emílio...