Sob a Máscara

Calakmul

Os dirigentes americanos informaram ao imperador que infelizmente não conseguiram capturar a rainha, que conseguiu se esconder numa região remota de Campeche, nas proximidades da divisa do México com a Guatemala.

Emílio, no fundo de sua mente, torcia para que isso acontecesse, queria sentir novamente o prazer de poder perseguir Paloma, aquilo chegava quase a excitá-lo por dentro.

— Chegou a hora! — disse ele na reunião onde convocou todos os seus conselheiros — Vamos caçar na América!

Alguns dias depois uma esquadra composta por seis navios de guerra cruzava o oceano com destino ao México.

Quando ancoraram em Vera Cruz foram recepcionados por mais de uma centena de soldados mexicanos, que conduziram a pequena comitiva real Caltês até a capital mexicana, que o imperador já conhecia, de sua última aventura por estas terras.

Emílio olhava com asco para o povo que aparecia no caminho tentando observá-lo em meio aos cavalos.

Em sua mente não demoraria muito para se divertir caçando esse povo medíocre e esse pensamento o tranquilizava.

O líder em pessoa o recebeu na sede do governo do México e o imperador pensou que gostaria de usufruir daquelas acomodações no futuro, que eram de muito bom gosto, quando viesse a dominar a América.

— Você honrará sua parte do acordo? — disse o mascarado com desdém num espanhol perfeito.

— Se você honrar... — rebateu o mexicano.

— Estou aqui com uma centena de homens para caçar aquela traidora que ainda se intitula falsamente de rainha, mas todos que se colocarem no meu caminho para defendê-la tombarão...

— Concordo com isso! — respondeu o líder.

— E espero que não me enviem para uma armadilha e peço que torçam para que eu saia vitorioso desta minha empreitada, pois caso eu não retorne com vida para a Espanha em trinta dias, todos os exércitos da Europa e Ásia tem ordens para atacar o continente americano e destruir tudo que encontrarem pelo caminho.

Pela primeira vez o líder mexicano pareceu assustado com o mostro mascarado que se encontrava na sua frente e percebeu que o futuro que os aguardava era sombrio.

— E os primeiros alvos do meu exército — continuou Emílio — serão exatamente as famílias mais abastadas dos dirigentes americanos e depois o povo. Não precisa repassar esta informação, se não quiser, pois antes de sair da Europa eu mesmo providenciei uma mensagem bem clara das minhas intenções para todos os países da América.

— Agora vamos ao que me interessa. Você me fornecerá algum guia para que eu me desloque mais rápido por este território imundo?

Naquele momento o líder mexicano concordou com a rainha Paloma que a única saída era a morte do louco tirano, o que ele gostaria de fazer imediatamente, mas as novidades cruéis informadas por Emílio tornavam mais urgentes outros tipos de medida de segurança.

Assim, forneceu dois dos melhores guias que conhecia para o imperador e lhe deu as costas sem se despedir.

Emílio retornou com os conselheiros para as docas de Vera Cruz, organizou seu pequeno exército e se puseram a caminho de Calakmul, que ficava a leste da cidade costeira.

Para seguirem com maior velocidade, retornaram para o mar e navegaram até Campeche, de onde por terra seguiram até as florestas que cercavam as ruínas que buscavam.

Os primeiros confrontos se iniciaram na manhã seguinte, contra os primeiros soldados calteses que invadiram a floresta, mas ficaram somente nos disparos, não havendo baixas de nenhum dos lados.

Os guias já haviam sido dispensados, pois agora era somente vencer a mata e chegar ao centro para chegar a antiga construção maia.

O imperador e seus conselheiros passaram cada um a liderar um grupo de soldados e a seguir de forma isolada, para poder cobrir a região com mais facilidade, que era enorme.

Combinaram que após sair da floresta, cada grupo aguardaria o outro, para de forma reagrupada, atacarem as ruínas de Calakmul.

De longe Emílio podia ouvir novos conflitos, gritos de homens sendo mortos, mas ao tentarem prestar apoio, já era tarde demais.

Isso ocorreu algumas vezes, sempre o fato se repetindo, com poucas mortes dos homens que eles caçavam, e o imperador chorou a morte de quatro de seus conselheiros, que tiveram as máscaras roubadas.

Possuído por um ódio enorme, tomou uma atitude diferente e foi ao encontro dos grupos restantes e após se unirem, realizaram a passagem pela floresta, por pouco não passando pelas ruínas sem a perceberem.

Apesar de Calakmul ser enorme, a floresta que o abraçava era muito maior e diferente do que Emílio pensava, quase não havia espaço livre para descansar com os homens que restaram e organizar uma investida planejada.

Teriam que buscar outra entrada, necessitando rumar ao topo da construção para procurá-la e ficariam muito expostos aos ataques dos inimigos, pois os acessos laterais em todas as plataformas estavam bloqueadas por pedras e não havia outro caminho a seguir.

Nenhum soldado demonstrou querer desistir da perseguição, pois conheciam o temperamento do imperador e o preço por covardia era a morte.

Desta forma começaram a escalada e quando estavam subindo a escada mais longa no meio da ruína, pedras enormes foram roladas sobre eles, esmagando alguns que não conseguiram sair da frente delas, enquanto outros se atiraram pelas bordas, alguns morrendo na queda

Emílio vinha mais atrás com alguns soldados e quatro conselheiros e tiveram tempo hábil para sair para uma plataforma mais nivelada com a escada, mas logo após uma chuva de flechas foi lançada contra eles, matando alguns soldados e mais um conselheiro.

O imperador mascarado percebeu que não teriam chance alguma de se defender ou atacar da posição em que se encontravam e resolveu fugir para a mata com os membros restantes.

Ao lançar de relance um olhar por sobre o ombro, viu uma mulher vestida de vermelho e teve certeza de quem era.

Seu instinto selvagem lhe dizia para fugir, mas a vergonha que sentira quando escapou como um rato no primeiro confronto anos antes, encheu de raiva o seu coração.

Chamou seus últimos comandados e rumou na direção da rainha, que o aguardava quase no topo da ruína, com uma espada numa mão e uma pistola na outra.

— Hoje eu vou matá-la! — resmungou para si mesmo e um sorriso maquiavélico brotou sob a máscara negra.