Sob a Máscara

Os conselheiros

Paloma e seus homens foram treinados exaustivamente em todas as artes dominadas pelos membros da Aliança Vermelha, mas o tempo dado pelo imperador se mostrou escasso.

Assim os líderes americanos fizeram contato com Emílio, pedindo mais dois meses de prazo, pois, segundo alegaram, a rainha teria fugido com seus homens assim que descobriu que seria entregue para o imperador.

Emílio se mostrou animado pelos dirigentes americanos estarem caçando Paloma, algo que ele adoraria fazer pessoalmente, e foi difícil convencê-lo de que esta era uma missão que eles dariam conta e de que não eram aliados para unir forças para uma tarefa em conjunto.

Emílio concordou com o novo prazo, mas sob uma condição: se não o cumprissem, ele seria autorizado a realizar esta caça livremente por terras americanas, sem sofrer nenhum tipo de perseguição ou impedimento.

Os líderes americanos nada puderam fazer contra essa imposição do imperador e selaram um compromisso, mas ocultamente arquitetaram um plano para acabar de vez com a tirania de Emílio, independente de terem que desonrar este acordo.

Esse novo prazo conseguido pelos líderes favoreceu o árduo treinamento realizado junto à Aliança Vermelha, onde os mestres ficaram satisfeitos com a dedicação do grupo.

Um mês antes do prazo final, o general procurou Paloma para lhe dar as boas novas.

— Meus homens me informaram que vocês estão prontos para enfrentar um exército de imperadores loucos...

A rainha riu e olhou para as mãos calejadas pelo uso diário de armas.

— Não vejo a hora de colocar um fim na vida deste miserável.

— Não estará sozinha nesta luta minha rainha. Todos os meus melhores homens estarão junto conosco nesta luta, não se esqueça que Emílio matou meu filho e deverá pagar por isso também...

— Ficarei feliz em lutar ao seu lado — disse ela lhe segurando pelo braço — Qual será o próximo passo agora?

— Temos que seguir até a capital, os líderes nos aguardam com uma estratégia montada, que é claro que teremos que refinar. Partimos amanhã cedo...

— Por que esperar tanto, ainda estamos no meio da tarde. Gostaria de partir ainda hoje...

— Não será possível, pois faremos a cerimônia de inclusão sua e de seus homens como membros da Aliança Vermelha. É uma tradição valiosa para nós e a senhora será a primeira mulher que será agraciada com essa nomeação.

— Pois me sinto honrada. Faremos então como rege a tradição.

No final daquela tarde todos se reuniram no interior do vulcão adormecido, que parecia ter revivido, tal a elevada temperatura que fazia lá dentro.

No final da cerimônia, Paloma e seus homens receberiam uma pequena tatuagem vermelha numa parte do corpo que escolhessem. A rainha pediu que a sua fosse feita no rosto, para que todos que a olhassem pudessem ver, em homenagem a Aliança Vermelha.

No fundo do seu coração ela também desejava exibir aquela nova marca recebida para Emílio e lhe provar que agora não mais lhe pertencia, que havia seguido em frente e evoluído como ser humano, justamente através dos ensinamentos de homens que eram tidos como assassinos, mas que Paloma passara a considerar como muito mais dignos de honra do que o louco imperador.

Retornaram para a Cidade do México e a beleza da rainha deixou a todos os líderes boquiabertos, ao aparecer vestida de vermelho, com uma espada fina e uma pistola num cinto dourado que cruzava sua veste.

Sua pele, levemente morena por natureza, se encontrava um pouco mais bronzeada, e a pequena marca abaixo do olho esquerdo lhe dava uma aparência perigosa, mas que ao mesmo tempo a deixava ainda mais bela.

Foi informada sobre o plano inicial de perseguir e matar sete dos oito conselheiros do imperador, pois cada qual cuidava de uma parte dos territórios conquistados por Emílio, como um tipo de governador com amplos poderes.

Mas com o novo acordo selado junto ao tirano do leste, eles entendiam que seria muito mais fácil derrotá-los na América e queriam ouvir a opinião da rainha, que novamente os surprendeu.

— Temos que ter mais de uma estratégia em mente. Primeiro precisamos saber se Emílio virá com os todos os conselheiros para cá...

— Como saberemos quem são? — perguntou um deles.

— Isso é fácil! Usarão como sempre máscaras felinas douradas...

— Mas ele pode tentar nos enganar, como fez antes...

— Não! — disse Paloma séria — Este é um costume sagrado para Emílio. Uma máscara negra cercada por máscaras douradas. Ele pode até trocar a sua, mas não permite que seus conselheiros usem outras. Como eu disse antes, eles são a sua força, se os derrotarmos, derrubamos o imperador junto com eles.

— Supondo então que ele não venha com todos os conselheiros — prosseguiu ela — um grupo nosso terá que se deslocar para os seus domínios e os matar, mas algo me diz que Emílio vai trazer todos para cá.

— O imperador jamais teria fugido do combate caso os seus conselheiros estivessem com ele, quando o enfrentamos no passado. Emílio não vai querer correr este risco novamente, tenho certeza que a dor que a humilhação que sentiu foi imensa, por fugir tal um rato como ele vê a todos. Acredito que o imperador vai preferir morrer do que passar por isso novamente.

— Como ele pretende me caçar — provavelmente na sua mente sou o seu mais importante troféu — e sabe que não estou sozinha e que tenho aliados fortes e preparados para enfrentá-lo de igual para igual, Emílio precisará estar confiante de que nada o derrotará.

— E a senhora rainha não está com medo? — questionou o líder mexicano.

— Já senti medo dele, hoje tenho desprezo. Se Emílio quer me caçar, estou preparada, que venha logo.

— Mas preciso deixá-los alertados de que o imperador não é um tolo, é mau e sabe o quanto muitos anseiam por tirar-lhe a vida.

— Tenho certeza de que ele também virá com muitos trunfos para a América, que lhe garantirão a sobrevivência enquanto seu estúpido passatempo durar. É nisso que os senhores devem se concentrar, no que a mente doentia de Emílio planeja. Pensem no pior que lhes poderia acontecer, pois é exatamente aí que a mente dele está direcionada neste exato momento.

E Paloma estava certa...