Sob a Máscara

A carta

Os planos do imperador foram seguidos a risca.

Enquanto um numeroso exército americano invadia livremente pela Europa e regiões da Ásia, ganhando território todos os dias, Emílio baixou a ordem para que iniciasse um gigantesco cerco.

Assim, se preparou para seguir com outro exército em navios velozes que o levariam para América, mas uma notícia inesperada fez com que mudasse de planos.

— Capturaram a rainha Paloma, imperador! — foi informado quando se preparava para dormir e o sono desapareceu.

— Onde ela está?

— Segundo a informação que me chegou, a rainha está sendo conduzida por vinte homens nossos e chegará aqui na Espanha daqui há três dias...

Emílio se recolheu aos seus próprios pensamentos, depois dispensou o informante. Algo ali estava estranho — pensou antes de tentar dormir, o que só conseguiu quando o Sol já despontava no horizonte.

Nos dias que se seguiram, fez todos os preparativos necessários para acolher a rainha. Queria causar uma boa impressão com seus melhores homens e nos novos súditos que moravam na capital espanhola, então não polpou recursos para deixar a cidade linda.

Como programado, três dias depois, uma comitiva contendo soldados montados traziam ao centro uma cavalariça vestida inteiramente de branco.

Quando ela se aproximou mais, o imperador ficou encantado quando percebeu que a rainha vinha com uma belíssima máscara felina de cor branca, que combinava de forma magnífica com seus trajes.

— Quero que ela e os soldados que a conduzem me encontrem sozinhos dentro do prédio principal do governo — ordenou Emílio e se retirou.

Mais tarde, sentado num trono improvisado num grande salão de dois andares, o imperador recebeu o grupo, tendo apenas dois seguranças de cada lado.

Ele também se vestira de forma majestosa, com um traje completo negro, uma coroa escura e a mais bela das máscaras que possuía.

O grupo de soldados que conduziam a rainha parou e se perfilou, dez homens de cada lado, formando um corredor para que ela se aproximasse do imperador.

Ele se levantou e deixou que Paloma viesse ao seu encontro e quando ela estava bem próxima, ele abriu os braços para recebê-la.

Demonstrando uma habilidade fantástica, ela retirou de baixo do vestido uma espada e a fez trespassar num só golpe pelo corpo do imperador que nada pode fazer para se defender, tombando morto sobre o carpete vermelho.

Ela correu até ele e lhe arrancou a máscara, berrando logo a seguir.

— Não é ele!

— É claro que não sou eu... — respondeu Emílio do segundo andar, com diversos homens ao seu lado, que como ele, estavam todos armados e em pouco tempo mataram todos os soldados que conduziam a rainha.

Quando somente Paloma restou, o imperador se aproximou e travou uma rápida disputa de espadas com ela, e em pouco tempo cortou-lhe a cabeça que saiu rolando, sem deixar que a máscara nem a pequena coroa que usava se desprendessem.

Ao se aproximar e retirar a máscara branca, constatou aquilo que já sabia.

— Limpem toda esta bagunça — disse aos seus homens e foi dar uma volta no jardim que cercava todo o prédio.

Ao retornar, sentou-se no seu trono de direito e deu as novas ordens.

— Quero que acabem com os exércitos americanos o mais rápido possível. Depois disso, sem um dia de descanso, partiremos para a América com todo o nosso exército...

Após as ordens emanadas, chamou um escrivão real e ditou uma carta, que deveria ser enviada imediatamente para os dirigentes americanos.

🐾🐾🐾🐾🐾

Alguns dias depois a informação da tentativa frustrada de assassinar o imperador mascarado chegou em mais uma reunião dos líderes da América.

Dava para ver o temor estampado em cada um de seus rostos. Somente a rainha Paloma mantinha um semblante tranquilo, como se os fatos ocorridos não lhe causassem a menor surpresa.

— Eu avisei a vocês, ele é um demônio vestido de homem, parece que tem o sétimo sentido de um verdadeiro felino e pressente o perigo a léguas de distância.

— E agora, o que faremos? — perguntou um dos líderes visivelmente abatido — Mandamos nossas principais tropas para o ataque, elas foram destruídas e o nosso maior trunfo falhou...

— Eu tenho certeza que logo saberemos o que fazer — disse ela simplesmente e se retirou.

Passada mais uma semana, os líderes fizeram uma nova reunião onde a rainha não foi convocada, atendendo a um chamado do líder mexicano, que conduziu o assunto principal.

— Acabamos de receber essa correspondência assinada pelo próprio imperador Emílio.

O mexicano leu a carta, que não tinha mais de 100 palavras e ficou observando a reação de todos.

Viu neles a tristeza ao mesmo tempo que uma certeza: fariam o que o louco mascarado pedia. Por amor às suas vidas e ao povo que representavam.

— Quem vai dizer a ela? — perguntou um deles.

— Eu mesmo o farei — respondeu o líder mexicano.

Naquela mesma noite ele a procurou. Ela estava instalada com seus súditos num sítio simples, fora da Cidade do México, onde também o general Lorenzo e todos os seus familiares se acomodavam.

— Acho melhor falarmos a sós Paloma — disse ele quando a viu.

— Não é necessário, todos aqui estão acostumados com as notícias desagradáveis que nos chegam do outro lado do oceano. Acredito que tenha mais uma...

— A pior delas, sinto dizer... — falou o líder lhe entregando a carta de Emílio, que a rainha leu em voz alta.

Alguns choros de mulheres se ouviam quando Paloma terminou a leitura, vários homens seus não se davam ao trabalho de disfarçar as lágrimas, mas ela mesma mantinha uma aparência tranquila, digna da rainha que era.

— E o que os líderes pretendem fazer?

— Eles estão com muito medo, pensam que não existe outra forma de lidar com a situação, a não ser cumprindo as exigências deste louco imperador...

— Foi o que eu imaginei, mas antes preciso que marque uma nova reunião com todos, para amanhã cedo, se for possível...

— Você pretende fazer com que eles mudem de ideia, pois eu já lhe adianto, vai ser muito difícil...

— Não se preocupe com isso — disse ela o interrompendo — Pretendo fazer exatamente ao contrário. Vamos dar para o imperador o que ele quer e até um pouco mais...