Sob Popocatépetl

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O Sol havia surgido há pouco tempo no horizonte, quando os membros da Aliança Vermelha chegaram no sítio que servia de acomodação para a rainha Paloma e seu grupo.

Chegaram atirando para o alto e colocando a todos em posição de defesa, fazendo com que a princípio pensassem que o rei Emílio os havia encontrado.

Quando percebeu que se tratava de Ruan Pablo e seus homens, Paloma saiu e os confrontou.

— Que pensa que está fazendo? Podíamos ter atirados em vocês...

Ruan desmontou de seu cavalo e com um rifle apontado para ela, se aproximou da sede da propriedade.

Na mesma hora, os homens do grupo da rainha colocaram o invasor da mira de suas armas.

— Por sua culpa — disse ele descontrolado — Por sua culpa temos mulheres e crianças mortas...

Paloma permaneceu parada enquanto ele chegou o mais próximo que os homens dela permitiram.

— Sua culpa...— Ruan gritou e ela percebeu que seus olhos estavam marejados.

Após ele abaixar o rifle e parecer se acalmar um pouco, a rainha se aproximou, colocou uma mão no ombro dele e lhe pediu para que contasse o que o afligia tanto.

Após ele narrar o ataque da véspera, agora era ela quem tinha os olhos cheios de lágrimas...

  🐾🐾🐾🐾🐾  

— Precisamos fazer algo, o seu marido é tão louco quanto os demônios antigos do México.

O general Lorenzo afiava um punhal enquanto seus homens discutiam do lado de fora da casa.

— Eu sinto muito...

— Lamentações não vão trazer as vidas de volta, quero expulsar o rei mascarado daqui. Meus homens querem ele morto e enterrado...

— Eu não os culpo, infelizmente isso seria o melhor para o mundo.

Lorenzo levantou os olhos e a encarou.

— Por tudo que contou sobre ele, não acredito que exista outro caminho. Nós sabemos onde eles se encontram, foram vistos na direção de Popocatépetl...

— O vulcão adormecido da lenda que envolve Iztaccíhuatl?

— Esse mesmo! Precisamos juntar nossos homens e persegui-lo, antes que o seu marido louco fuja...

— Está enganado general. Emílio não está fugindo, ele está somente nos atraindo para nos matar. É o que ele faz de melhor...

  🐾🐾🐾🐾🐾 

Ao cair da noite um grupo de quase setenta homens saiu da capital e viajaram numa velocidade tão rápida que, antes do raiar do novo dia, já vislumbravam o gigante adormecido conhecido por Popocatépetl.

Insistiram para que a rainha permanecesse em segurança na cidade, mas Paloma não os ouviu.

No caminho, apesar do ritmo acelerado, ia contando para seu súditos um pouco sobre a lenda que cercava o seu destino.

Se tratava de uma história romântica envolvendo a princesa Iztaccíhuatl, que se apaixonou por Popocatépetl, um dos guerreiros ao serviço do seu pai, que o enviou para combater numa guerra em Oaxaca, prometendo-lhe a mão da sua filha caso ele conseguisse regressar.

Após mentirem para Iztaccíhuatl que o seu pretendente estava morto, ela morreu de desgosto e quando Popocatépetl regressou, a mesma dor o levou.

— A mitologia asteca conta que os deuses cobriram os apaixonados de neve e os transformaram em montanhas, que depois se tornaram vulcões, fazendo com que Popocatépetl jorrasse fogo na Terra, devido à raiva cega que dele se apoderou após a perda da sua amada. ¹

— Então estamos indo para o palco de uma tragédia antiga, minha rainha?

— Sim Mariano! Tomara que a nossa história de hoje tenha um final menos trágico...

  🐾🐾🐾🐾🐾   

Enviaram um homem a frente, para chamar menos a atenção, e ele retornou dizendo que o grupo do rei Emílio estava acampado sob o antigo vulcão.

Decidiram esperar pela noite para realizar um ataque surpresa.

— Podemos ir agora mesmo Lorenzo, ele está nos esperando, é perda de tempo permanecermos aqui...

— Ficaremos muito expostos se o atacarmos de dia. Temos que ter paciência...

— Emílio não vai esperar, já sabe que estamos aqui e virá nos atacar.

O general zombou dela com um leve sorriso e a deixou, para ir tirar um cochilo. Poucas horas depois foi acordado quando os calteses caíram feitos loucos sobre eles.

O ataque veio de todos os lados e em pouco tempo Lorenzo perdeu vários homens.

A sorte do grupo foi que os súditos da rainha já estavam preparados para isso e contra-atacaram com bravura, expulsando os invasores.

— Temos de ir atrás deles! - pediu Paloma ao general.

Ele engoliu seu orgulho e a obedeceu.

Quando alcançaram o acampamento de Emílio o sol começava a se por no oeste e uma sombra lentamente cobria o vale.

A própria rainha, armada com um revólver, ajudou no combate e pouco a pouco eles foram vencendo.

Ruan viu um deles fugindo a cavalo e o perseguiu sozinho, sem que os outros percebessem, pois estavam preocupados demais em atacar e resguardar suas vidas.

Conseguiu alcançá-lo junto a algumas árvores e saltou sobre o cavaleiro mascarado e ambos caíram no solo duro.

O mexicano levantou rápido e ao sacar sua pistola, levou um golpe na mão que a empunhava com uma espada que derrubou sua arma.

Saiu para o lado o mais rápido possível e por pouco não foi atingido pelo agressor.

Conseguiu encontrar um galho seco do comprimento do seu braço e começou a se defender como podia, igualando a luta e finalmente conseguindo olhar para seu oponente, cuja máscara se encontrava torta no rosto, mas a coroa permanecia numa posição perfeita, como se estivesse grudada em seus cabelos.

Num dos ataques do rei, conseguiu arrancar a sua espada e armado com ela deu um golpe na direção da cabeça, o acertando.

O golpe partiu a máscara de Emílio e assim que ela caiu, Ruan pensou que na sua frente se encontrava um verdadeiro demônio.

O rosto do rei era inteiramente tatuado para parecer um gato selvagem escuro e até o seu olhar era horripilante.

Nos segundos que Ruan perdeu, o rei retirou um punhal da cinta e cravou em seu pescoço e o torceu.

Depois que recolheu sua máscara partida, abandonou o corpo sem vida e fugiu para dentro da noite.

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1 - Fonte da lenda de Popocatépetl retirada do site Wikipédia:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Iztacc%C3%ADhuatl

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