A perseguição

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A rainha Paloma viajou por cinco dias, depois aportaram numa ilha que dava o dobro daquela onde crescera e amava.

No início ficou trancada e isolada dos demais, a tristeza lhe consumia, pois apesar de saber das loucuras que o rei Emílio realizava, jamais imaginou que ele seria capaz de expulsá-la.

Quando cansou de sentir pena de si própria, foi conhecer o restante dos homens responsáveis pelo seu resgate e se identificou com eles.

Eram pessoas simples, do povo, alguns de Maguar e a grande maioria da ilha de Moon, trabalhando juntos com o mesmo propósito: deter o rei mascarado.

— Mas vocês têm algum tipo de plano? — questionou ela ao chegarem na Índia, de onde pretendiam seguir para leste com a intenção de cruzar o Pacífico.

— Não! — respondeu o líder deles de nome Mariano — Até alguns dias atrás não tínhamos nada, agora temos ao menos a esperança de que a senhora rainha nos ajude.

Ela pensou em dizer "Eu? Vocês estão mais loucos do que o meu marido!", mas preferiu sorrir e, pela primeira vez na vida, agir como uma verdadeira rainha.

— Vamos encontrar um meio de salvar o nosso povo... — e olhando entristecida para os poucos maguares que se encontravam ali completou — E aproveitaremos para vingar todos aqueles que foram mortos injustamente. Eu juro!

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Não demorou muito para o rei Emílio ser informado da fuga de sua esposa.

É claro que todos os que estavam na ilha Maguar, sem exceção, foram presos e depois caçados por ele da pior forma possível, na sua floresta participar.

Depois da caçada seu corpo parecia pegar fogo e arder num tipo de febre, e a sua ira que de alguma forma se abrandava após esse seu divertimento, desta vez não abrandou.

Retornou gritando no palácio para que chamassem seus conselheiros.

— Precisamos descobrir para onde a rainha foi levada. Quero saber o caminho que ela está fazendo, pois precisamos verificar o quanto ela está falando do que fazemos aqui, já que o mundo lá fora não está preparado para saber de meus métodos de disciplina.

— E quero saber disso logo, pois amanhã mesmo pretendo partir atrás da rainha e colocá-la no seu devido lugar...

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Atravessaram da Índia rumo à China e de lá seguiram para o México, um país que no passado teve relações comerciais com a monarquia Caltês.

Além desta história entre os dois povos, existia a língua espanhola em comum, o que facilitaria a comunicação entre eles.

Paloma havia se transformado neste pouco tempo que viajava com o grupo, usava roupas mais leves e simples, e poderia ser tomada por uma camponesa, se assim precisasse.

Descobriu que ao menos eles tinham recursos financeiros suficientes para mantê-los por um bom tempo, retirados dos cofres reais de Maguar, e isso os auxiliou a conduzi-los até seu destino.

A rainha era uma mulher culta que estudara diversas culturas e conhecia bem a história do povo mexicano e de suas lutas durante os anos, atrás de uma república que servisse aos interesses coletivos.

Ela também sabia que esta luta ainda não terminara e que existiam grupos aos quais podia se aliar, para retornar com força para sua terra natal.

Por isso, em vez de procurar as autoridades mais elevadas deste país, resolveu apostar neste outro tipo de ajuda.

O primeiro passo foi identificar um grupo de confiança, sem correr o risco de cair nas mãos de mercenários, interessados somente em enriquecimentos ilícitos.

Depois de algum tempo buscando, concordaram que a Aliança Vermelha, comandada por um velho general de nome Lorenzo seria a melhor opção, mas a decepção inicial não tardou a chegar, logo na primeira reunião marcada.

O velho foi acompanhado de seu filho e mais dois membros, que não tinham o costume de socializar com pessoas de fora de suas próprias famílias ou vilas.

A rainha Paloma não gostou da postura do filho arrogante de Lorenzo, Ruan Pablo, assim que ele disse o que achava no pedido dela.

— Pai, deixe esses caipiras do outro lado do mundo, pois temos lutas muito mais importantes para travar em nossas cidades.

Ele ganhou um safanão do seu velho pai.

— Não se fala assim com uma dama, muito menos com uma rainha, que busca livrar seu povo do sofrimento.

Após as palavras, Ruan deixou o local irritado e de cabeça baixa sem se desculpar.

— Perdoe-o minha senhora, discutirei sua proposta com os outros membros, mas meu filho tem razão numa coisa, já temos problemas demais aqui na capital. Assim mesmo estudaremos a sua proposta com carinho, eu lhe prometo.

Depois que eles se foram, Paloma disse ao seu grupo que provavelmente não conseguiriam apoio da Aliança Vermelha, mas estava enganada em diversos sentidos.

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O monarca Caltês e mais de cinquenta homens bem treinados e armados se deslocaram pelo mesmo caminho por onde passou a rainha Paloma e seu grupo.

Aproveitaram durante este trajeto, enquanto duravam os interrogatórios que faziam com os moradores, para espalhar o terror, assassinando na calada da noite todos que encontravam.

Como o grupo era nômade e rápido, não havia tempo de ocorrer um confronto com as autoridades locais, mas o rei Emílio vislumbrava um futuro sombrio para aquelas regiões, onde desejava expandir seus domínios.

Da China embarcaram também com destino ao México, e assim que chegaram na América tiveram dificuldades, apesar do dialeto conhecido, para encontrar o rastro deixado pelo grupo da rainha.

— Creio que seja melhor agirmos com cautela, nobre Emílio — sugeriu um de seus conselheiros, que fora convocado para a perseguição.

O rei, que só saía a noite, pois a máscara felina permanecia sempre em sua face, decidiu que o seu conselheiro estava errado e resolveu agir imediatamente.

Acabaram chegando numa das vilas protegidas pela Aliança Vermelha e após alguns interrogatórios infrutíferos, Emílio mostrou ao vilarejo quem ele era de verdade.

Destruiu diversas casas, colocou fogo em outras e assassinou famílias inteiras.

— Isso fará com que saibam com quem estão lidando... — gritou ele ao deixar o local.

Na manhã seguinte Lorenzo e seu filho Ruan descobriram através de alguns sobreviventes que um homem louco, usando uma coroa e uma máscara de gato, comandara aquela chacina.

Eles sabiam exatamente quem era a responsável por toda aquela tragédia, uma rainha de nome Paloma.

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