Naquele momento eu só conseguia sentir dor, olhando a porta e vendo as batidas se tornarem mais intensas e mais insistentes, fazendo Henrique rosnar rapidamente e abrir a porta, fiquei em posição de ataque, mesmo que meus olhos ardessem e meu corpo todo estivesse doendo, quem estava ali era Sarah, ela estava machucada, ela estava muito machucada e a cena me fez gelar e ficar pálido.
- P-pedro... – Ela sussurrou e caiu de joelhos, senti uma dor tão grande no peito que o meu movimento foi idêntico, cai de joelhos.
Quando isso aconteceu, Henrique a puxou rapidamente para dentro, pedindo desculpas por pegar em partes machucadas e logo a ergueu e a levou para o mesmo quarto, enquanto isso eu estava ali ajoelhado ao chão, olhando as minhas mãos vazias.
Não sei quanto tempo meu torpor durou, porque eu não consegui focar a vista, eu somente levantei e dei de encontro com Sarah deitada na cama, ela respirava ainda o que me deixou mais aliviado, mas estava tão machucada, não conseguia entender o porque ela não conseguia se regenerar naquele momento, ela já devia ter se curado, mas não acontecia, então a respiração ofegante dela teve um corte e ela abriu os olhos e ficou me olhando, como se não me reconhecesse, talvez fosse isso, talvez ela não estivesse sentindo o companheiro dela ali, ou somente fosse uma ação involuntária.
- Kir-kirian... você... está tão diferente – A voz dela era uma melodia que me deixou inerte novamente, mas, algo respondia por mim.
- Minha alma gêmea, minha metade... O que aconteceu? – Kirian, falava por mim em um timbre forte e preocupado.
- O Maldito que... que... fez o corpo de Sarah, ele fez um ponto fraco... – Ela parou de falar e tossiu. – Ainda não consegui saber o que é... Mas... Parece que era alguma coisa nela que foi ativada...
Minha vista se tornou vermelha, dessa vez era culpa minha, eu estava em fúria, peguei o corpo frágil e agora notava aquela semi-forma que me deixava em uma transformação entre lobo e humano, segurei o corpo dela próximo a mim e meu corpo agiu por impulso e Kirian sabia disso, porque a voz que saia de meus lábios era a dele e as palavras eram sussurradas por Ester e repetidas alta por mim.
"Myn bloed, it bloed ... fan myn siel nei jo siel.
Om't wy binne smeid yn it ûneinige djip, wy waarden makke foar elkoar, om't men foltôging de oare.
Troch myn bloed, krijst de cure."
Aquilo não foi uma simples fala, porque sentíamos a energia fluir no local, sentíamos a energia, sentíamos a magia fluir naquele lugar, então, meu corpo se aproximou mais do dela, e uma das mãos foram direcionadas aos meus lábios onde mordi o pulso e deixei algumas gotas de sangue caírem nos lábios dela, fazendo o corpo dela se arrepiar e tremer em meus braços.
Era possível sentir o corpo dela vibrando com cada sensação e logo Ester falou baixo.
- Temos... Que esperar a magia fluir, vá ver Elena... Mas não nessa forma, ira assustada assim.
Era tarde de mais, quando ela falou já tinha deixado ela deitada na cama, quer dizer, não eu, mas Kirian, quando abri a porta do banheiro, vi grandes olhos me olhando apavorada, ouvi o grito dela machucar meus ouvidos aguçados e meu corpo se encolher, voltando aos poucos a forma completamente humana, mas o rosnado permaneceu, não era eu ali, era Kirian e ele era mais impaciente do que eu.
- Pra que gritar! – Falou ele em um tom bruto
- Pe? Você parecia aqueles lobisomens... De filmes de terror – ele riu enquanto ela se encolhia.
Ela não tinha notado até aquela risada fluir, forte e bruta, bem diferente da minha real, ela olhava com o rosto de lado, mas algo nela não estava normal, ela estava pálida e ofegante, o grito talvez havia tirado o folego dela, talvez a asma dela houvesse voltado, então, Kirian notou e se jogou para frente, assim que ela amoleceu e quase caiu, ele a pegava nos braços e a olhava, imensos olhos lilases contra o olhar dela totalmente castanho.