Até que se prove o contrário

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#04

Até que se prove o contrário

De todas as enganações do mundo, a pior é aquela que você usa para enganar a si mesmo. Nutrimos tanto uma mentira que assim ela acaba se tornando verdade aos nossos olhos. E assim, não percebemos o mal que ela pode nos fazer. Aceitar a verdade pode ser difícil e doloroso, mas pode trazer liberdade.

Geralmente, quem tem o trabalho que nós temos gosta de fazer o que faz. Muitos podem não admitir, mas todos conseguem se divertir em algum momento. A necessidade de sobrevivência é quase sempre o motivo para trabalharmos nisso. Os momentos ruins existem. Mas a vida de stripper é tão intensa, que não dá para reclamar quando nós podemos fazer um bom trabalho.

Os rapazes da Utopia House gostam muito de seus trabalhos. Isso eles nunca escondem. Pelo contrário, sempre fazem questão de mostrar isso em suas performances. Outra coisa que diferencia a casa das outras é que todos nós, sem exceção, sentimos algumas atração, mesmo pequena, por homens. Por mais que alguns insistam em não assumir isso.

Marcos Steen já foi um desses que insistiam em não assumir. Era o stripper mais velho e experiente da casa. Era um homem corpulento, seus cabelos castanhos eram curtos e tinham entradinhas que lhe davam um charme junto com a barba crescida. Tinha uma estatura mediana, mas era bem corpulento. Tinha peitos volumosos, coxas grossas, braços fortes, bunda enorme.

Tinha a sua vaidade. Sua pele costumava ser bronzeada. Costumava se depilar em determinadas épocas do ano. Seus pelos eram poucos, mas grossos e se destacavam no corpo quando cresciam. A experiência era sua melhor arma. Ele conseguia seduzir e instigar os clientes da melhor forma possível, afinal, foram anos de prática. Era bonito e sexy, não da maneira tradicional, assim como todos nós.

Mas tem algo que o diferenciava — talvez nem tanto — dos outros. Por muito tempo, ele se dizia heterossexual.

Chegava a ser corriqueiro na história da boate quando alguns rapazes chegaram aqui achando que eram héteros e se descobriram após começar a trabalhar na casa, ou talvez até antes. Mas isso não era bem o caso de Marcus, que sempre dizia em alto e bom som que o negócio dele era somente as mulheres.

Isso não condizia tanto com o que se via dele na UH. Ele era um dos strippers mais requisitados para apresentações privadas e não se sentia intimidado por fazer de tudo com para os frequentadores, pelo contrário, ele fazia. Desde dancinhas sensuais simples, strips que terminavam em nudez completa, e até mesmo atos bem mais explícitos e completos. Se tivesse que fazer sexo, ele fazia em qualquer posição.

Ele sempre justificava seus atos da mesma maneira. Era tudo por dinheiro e que não sentia nada. Não passava de mera "atuação" como o próprio dizia. E não estava tão errado nas suas respostas, pois atos nem sempre refletiam de gostos pessoais. Assim como as respostas nem sempre refletem a real verdade.

Marcus foi convicto quanto à isso por um bom tempo, até chegar uma oportunidade de colocar tudo isso à prova.

Em uma certa noite, há uns 3 anos atrás precisamente, terminávamos mais uma jornada de trabalho. Estávamos todos bem cansados e já nos preparávamos para ir embora. Enquanto isso, Marcus estava no vestiário tomando banho.

Estava batendo um papo com Santiago, um stripper latino de pele bem morena e corpo magro bem esbelto. Esse estava no chuveiro ao lado.

— Tô exausto. Parece que corri uma maratona inteira. — Disse Santiago.

— Eu não. Quem deve ter ficado cansado são os caras que eu encontrei hoje. — Marcus rebateu.

— Pelo seu jeitinho, aposto que se divertiu muito com os clientes, né? — Disse também saindo de debaixo do chuveiro.

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