Utopia House

Segredos à Vista

#09

Segredos à vista

A mentira é como uma droga. Acaba sendo necessário, e se usada com moderação talvez não tenha problemas. Mas quando se exagera nela, acaba se tornando viciante. Vira uma bola de neve, pois para manter uma é preciso criar várias outras. Mas uma farsa nunca dura para sempre, e quando isso acaba nós pagamos o preço de nossos atos.

Todo mundo mente, isso é algo universal. Mesmo aquelas pessoas que tentam ser as mais sinceras do mundo de vez em quando precisam mentir. Às vezes acaba sendo até uma coisa involuntária. Tanto que muitos se alimentam com as próprias mentiras e acabam tornando essas farsas como verdadeiras para si mesmo.

Motivos para isso todos tem, e dos mais variáveis. Às vezes para o bem, as vezes para o mal. Mas será que existem motivos compreensíveis para mentir? E mentir por amor, é válido? É realmente necessário enganar alguém para não perdê-lo?

Freddy Morrison acreditou que sim. Mais do que isso, sentiu-se em uma necessidade extrema de esconder uma parte importante da sua vida. E ao final, pagou um preço alto por isso.

Vocês já conhecem ele, é mais um dos meus colegas da Utopia House. Sempre extrovertido, divertido e engraçado. Adorava fazer piadas. E mais ainda se intrometer na vida dos outros. Vivia se metendo aonde não era chamado, e isso era algo que eles não gostavam nada. Mas nunca chegou a criar grande problemas.

Um homem baixo, nem tanto. Seus cabelos bem cacheados eram castanhos com alguns fios mais claros. Sua barba era crescida. De pele pálida, seu corpo magro era razoavelmente sarado, nada trincado. E era peludo, nos braços, pernas, torso. Um tipo não muito comum nesse trabalho, mas ele conseguia se destacar com esse diferencial. Já que não são poucos os rapazes que trabalhavam com o corpo e se depilavam até nas partes onde o Sol não bate.

Ele amava o emprego e tudo que vivia nele. O salário era bom e satisfatório, dava para fazer muita coisa. Inclusive bancar os estudos de alguém que amava.

Há três anos atrás sua grande paixão era sua namorada Amy, uma moça miúda, que usava óculos, de cabelos pretos lisos até os ombros. Dedicava todos os seus dias à faculdade de direito que cursava. Sequer tinha tempo para trabalhar. E quem bancava tudo era seu amado.

Amy era meiga, um pouco tímida, e muito inteligente. Freddy a amava muito, parecia um amor de adolescente, que não tinha fim. Ele nunca escondeu seu lado "garotão" sempre divertido. Mas também nunca escondeu seu desejo de ter alguém para amar e viver junto. Ele também tinha seu lado bem romântico.

Por isso, ele fazia questão de pagar os estudos dela. Não se sentia fazendo um favor, só queria vê-la feliz. Era um dinheiro que ele dava com prazer. Mas havia um grande segredo sobre tudo isso. A origem desse dinheiro.

Quando o namoro começou, ele já era stripper. Escondeu essa parte importante de sua vida para ela. Queria manter esse namoro lindo, que lhe fazia tão bem. E de certa forma, ele tinha até uma razão para fazer isso. Era mais do que claro que as pessoas não aceitam muito bem uma profissão que envolve corpo, principalmente em um lugar tão intenso como a UH. Uma garota ajuizada jamais namoraria um cara que trabalhasse na casa. Freddy mentiu não só por medo, mas pelo amor que sentia.

Mas sabia que manter essa farsa não seria algo muito fácil. Ele tinha dito a ela que trabalhava como vigia noturno em uma empresa, justificando o fato de trabalhar à noite. Era seu emprego antigo. E dizia trabalhar todos os dias, menos no domingo. O que não era verdade, a casa só abria alguns dias por semana. Nos outros dias, ele se "escondia" dentro da própria casa. Desligava o celular e se trancava no quarto.